Desde sempre, nos círculos familiares, havia alguém
que conhecia coisas e coisas e nos fascinava com tantas histórias, nos
intermináveis serões das noites de inverno. Na minha família era a Tia. A Tia
sabia de tudo, opinava sobre todos os temas que vinham à baila, fazia
recomendações, sempre para levar a sério, e contava-nos histórias, muitas delas
passavam para as noites seguintes, longas e complicadas que eram. Uma das
vertentes que era frequentemente abordada era a da valentia dos portugueses, e
particularmente dos aljezurenses, nas lutas travadas contra os Mouros e a integração
do Reino dos Algarves nas posses de Sancho II e Afonso III e, consequentemente,
no cognome deste. E aqui vinha sempre a explicação da Bandeira Nacional,
enaltecendo que o Castelo de Aljezur era um dos sete que figuram naquele pendão,
o que para nós nos enchia de orgulho patriótico e regional.
Esta minha Tia juntamente com tantas outras Tias contadoras
de histórias a gerações de aljezurenses, foram assim responsáveis por termos
crescido com este mito, alimentando-o e veiculando-o orgulhosamente aos nossos
descendentes e divulgando-o junto da nossa rede de relações.
Uma obra literária muito interessante que já neste blogue
divulgámos, “Aljezur, Terra Mimosa” de Manuel Garcia (1938) e que constitui
motivo de orgulho para muitos aljezurenses (apesar da Senhora D. Câmara o continuar
a ignorar esquecendo-se uma reedição) refere também esta situação (vide http://barlaventino.blogspot.pt/2011/04/o-brasao-de-aljezur.html).
Também em nosso modesto entender não passa de mais um mito,
possivelmente motivado por um desejo de reivindicar importância para a nossa
terra (e para as outras seis), cuja justificação histórica ainda jaz adormecida nalguma recôndita prateleira da Torre do Tombo.
Conta-se então que os sete castelos da Bandeira Nacional
dizem respeito às últimas conquistas algarvias, e que foram Albufeira, Aljezur,
Cacela, Castro Marim, Estômbar, Paderne e Sagres.
Nem sempre foram sete os castelos da Bandeira, tendo mesmo o
painel de D. Afonso III 16 castelos em dois desenhos diferentes; como foi feita
a sua selecção também não se sabe.
Aqui deixo alguns exemplos das armas nacionais ao longo dos
tempos para melhor podermos apreciar essa evolução.
D. Afonso III - 16 castelos |
D. Afonso III (diferente disposição, 12 castelos) |
D. João I (ainda os 12 castelos) |
D. João II (7 castelos) |
D. Manuel II (8 castelos) |
Bandeira Actual (7 castelos) |
O nosso objectivo é apenas o levantar duma questão
que subsiste sem resposta: trata-se apenas de um mito, histórico, ou nele está
contida alguma verdade para além do simples desejo que assim fosse?
Fica a dúvida sobre o tema e fica também o desafio:
Desmitifica-se ou passa à História?
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