quinta-feira, novembro 18, 2010

Ir à rebera às iroses...


- Bêqueme o Luís anda metido co'a Marizé!
- Com a Luz, esconfique!
- Ná! É com a Marizé. Eu bem os vi pelo combro da rebera abaixo, 'té ò açude. Foi aí qu'ele…
-Lá tás tu. Era a Maridaluz, quejeto a Marizé? Na sabes que ela lhe deu um cabaço no balho da fêra do Rogil.
- É, isso sê eu. Mas depoje ficou repesa, e quem me disse sabe, que é amiga dela. Por isso tam-se a entender. E foi lá no açude que coiso.
-Tás na mangação! Atão a Marizé ia-se abaixo assim, não!? E logo contigo a veres!
-Ver, ver mesmo, não vi. Mas que eles entraram na barraca das atabuas, isso entraram. E depois o que é que achas? Que só tiveram na conversa? Olha quem, o Luís…
Esta era a conversa do Rui e do Elevino que, de cana ao ombro, desciam a ribeira a seguir ao pego do Pequeno, à procura do melhor pesqueiro para as iroses.



-Eh pá, esta nevrinha é que é boa pás bichas! Com a água barrenta, na resestem! – comentava o Elevino. Agarram-se à carnada e é só puxá-las p´ró balde.
- Dês quêra, que tenho andado enguiçado. – retorquia o Rui, parando para enrolar um cigarrinho de onça. Só chibatos!
- Nã tens jeto ninhum pa enrolares o cegarro! Ê cá peguê nos Privisoiros, e já isso nã m’apoquenta!
- Pois é, má som más dôs testons. Mai los forfes, tás a ver, é tudo ganho mas é p’ró Jequim da Venda.
- E tou-te a dzê. O gajo anda cum ela. – Insistia o Elevino. Condo a vires, há-des olhá-la bem e  depoje há-des me dizer. Vê-se logo qu’ali anda pau!
Pararam junto a um renque de marmeleiros, sítio já conhecido, e emborcaram os baldes de lata para se sentarem. Deitaram as carnadas à água.
-Bem podia escampar, qu’esta auga entra-me pelo corpo adentro! – Reclamava o Rui. Acende mas é a lanterna que quase na s’enxerga.
- O chato desta pesca é que não se sente o peixe a picar. Vou puxar a tamiça, alumeia aqui a ver se tá alguma ferrada.
Era certo que entre o pego da fábrica e o açude se havia de apanhar uma irosada p’rá janta. Era certo mas não era. Já há meia hora que ali estavam e cada um só tinha agarrado um cágado. Se calhar era o mesmo…
- Não fosse o galripo apanhar aí umas laranjitas que vêm de Marmelete, e era más um chibato!
-Bêqueme inda na é hoje que se fritam irsóses. – Tão previsto era o Rui. E com as augas tã ludras!

3 comentários:

IldaCarol disse...

Esta nevrinha está muito engraçada,
dá para galhofar,e abre o apetite
para um ensopadinho de iróses. Bons
tempos...Também Comi muitas, pescadas
na ribeira do Sado.

Xico V. disse...

Em cada sítio o sê uso! Na rebera, até ò açude, apanhavam-se com uma carnada, que é uma enfiada de minhocas em linha de meia, ou fio do norte, arranjadas a formar um cacho, e prende-se numa tamiça, ou num baracinho, e com a ajuda duma cana mergulha-se nas águas barrentas. As ditas mordem e já não largam! Coitadinhas, vão a caminho do frigeneco!
No Sado como é? Com aparelho de anzol, nassas ou rediscas?

IldaCarol disse...

No Sado segundo informação do sr. Flores que pescava,chamavam-lhe um zambalho que seria o método do açude.
Sendo para comercio era com redes, que se armavam á noite,e desarmavam de manhã com uma boa irosada.