III – Para que serve o inútil?
por Carlos eNe
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“Mestre
João Explica…” in Condor Popular
Sim, para
que serve?
Quem é que pode decidir se um certo saber constitui um
conhecimento inútil? Depois dos Gautiers deste mundo afirmarem que “aquilo que
é útil para um, pode não o ser para o outro”, muita presunção será necessária
para alguém se arvorar em definidor da utilidade dos saberes.
O inútil face à curiosidade.
Na minha juventude éramos altamente consumidores de
revistinhas de banda desenha, designação que só mais tarde entrou no nosso
léxico pois, para nós, eram simplesmente aventuras aos quadradinhos, apesar de
a Geometria nos ter feito estranhar a designação já que os desenhos nem sempre
estavam em quadrados. Eram o “Mosquito”, o “Condor Popular”, o “Mundo de
Aventuras”, o “Cavaleiro Andante” e muitos outros que, para além das histórias
que contavam, completas ou à suivre
(em continuação), incluíam uma pequena secção de curiosidades; a do Condor
chamava-se “Mestre João Ensina…” ou “Mestre João Explica…”. Nessas tiras, em pequenos
textos ilustrados ou, no máximo uma página, aprendíamos muitas situações do
quotidiano, do nosso ou do americano(!), assuntos que por
falta da televisão na altura, ou porque os livros da carrinha da Gulbenkian eram mais difíceis de digerir, não tínhamos (à mão) onde ir beber conhecimentos desse tipo. Salpicos de conhecimentos que perduram na nossa mente. Eram conhecimentos úteis? Alguns mais do que outros, aqui não se pode generalizar, pois os interesses são tão diferenciados…
Quizzes
Há pessoas
que rejubilam com os concursos televisivos de pergunta-resposta (quizzes), competindo com os concorrentes
no seu sofá. Sabem sempre tudo(!), desde as bandeiras de (quase) todos os
países, às respectivas capitais e, em casos mais rebuscados, até sabem o fuso
horário e as horas da preia-mar (nos casos em que têm mar)! Serão uns
autênticos sabichões? Cultos? É a tal cultura de Almanaque, adquirida em
sucessivas leituras nas rubricas de “Sabia que…” ou “Aconteceu em…”
Mas ainda
assim há pessoas que dedicam imenso tempo a coleccionar esse tipo de informação,
estranha, e que na primeira oportunidade debitam esses temas numa atitude
exibicionista, em que o seu ego transborda para um círculo que eles vão
alimentando.
— As coisas
que eu sei!
— Shi, as
coisas que ele sabe!!!
Um amigo tem
vindo há mais de vinte anos a compilar definições e desenvolvimentos sobre os
mais estranhos temas e fez questão de partilhá-los comigo. Tal como ele, a sua
informação está extraordinariamente organizada, sistematizada por grandes
temas. É uma autêntica viagem pela Inutilandia, a terra onde se passam os
grandes fenómenos, tipo Entroncamento, ou onde pulula o conhecimento verdadeiramente
inútil.
Na próxima
edição publicarei alguns itens desta compilação deixando a cada um dos leitores
a eleição sobre a sua (in)utilidade.
Para vos
deixar com um pouco de curiosidade, sabem que as formigas nunca dormem? Ou quantas
toneladas de sardinha foram consumidas em Portugal no ano 2015?
(Continua…)
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