sexta-feira, maio 07, 2021

INUTILÂNDIA Terra dos saberes inúteis (ou menos úteis)


III – Para que serve o inútil?

                                                                                                    por Carlos eNe 

·         “Mestre João Explica…” in Condor Popular

 

Sim, para que serve?

Quem é que pode decidir se um certo saber constitui um conhecimento inútil? Depois dos Gautiers deste mundo afirmarem que “aquilo que é útil para um, pode não o ser para o outro”, muita presunção será necessária para alguém se arvorar em definidor da utilidade dos saberes.

O inútil face à curiosidade.

Na minha juventude éramos altamente consumidores de revistinhas de banda desenha, designação que só mais tarde entrou no nosso léxico pois, para nós, eram simplesmente aventuras aos quadradinhos, apesar de a Geometria nos ter feito estranhar a designação já que os desenhos nem sempre estavam em quadrados. Eram o “Mosquito”, o “Condor Popular”, o “Mundo de Aventuras”, o “Cavaleiro Andante” e muitos outros que, para além das histórias que contavam, completas ou à suivre (em continuação), incluíam uma pequena secção de curiosidades; a do Condor chamava-se “Mestre João Ensina…” ou “Mestre João Explica…”. Nessas tiras, em pequenos textos ilustrados ou, no máximo uma página, aprendíamos muitas situações do quotidiano, do nosso ou do americano(!), assuntos que por


falta da televisão na altura, ou porque os livros da carrinha da Gulbenkian eram mais difíceis de digerir, não tínhamos (à mão) onde ir beber conhecimentos desse tipo. Salpicos de conhecimentos que perduram na nossa mente. Eram conhecimentos úteis? Alguns mais do que outros, aqui não se pode generalizar, pois os interesses são tão diferenciados…

Quizzes

Há pessoas que rejubilam com os concursos televisivos de pergunta-resposta (quizzes), competindo com os concorrentes no seu sofá. Sabem sempre tudo(!), desde as bandeiras de (quase) todos os países, às respectivas capitais e, em casos mais rebuscados, até sabem o fuso horário e as horas da preia-mar (nos casos em que têm mar)! Serão uns autênticos sabichões? Cultos? É a tal cultura de Almanaque, adquirida em sucessivas leituras nas rubricas de “Sabia que…” ou “Aconteceu em…”

 

Mas ainda assim há pessoas que dedicam imenso tempo a coleccionar esse tipo de informação, estranha, e que na primeira oportunidade debitam esses temas numa atitude exibicionista, em que o seu ego transborda para um círculo que eles vão alimentando.

— As coisas que eu sei!

— Shi, as coisas que ele sabe!!!

Um amigo tem vindo há mais de vinte anos a compilar definições e desenvolvimentos sobre os mais estranhos temas e fez questão de partilhá-los comigo. Tal como ele, a sua informação está extraordinariamente organizada, sistematizada por grandes temas. É uma autêntica viagem pela Inutilandia, a terra onde se passam os grandes fenómenos, tipo Entroncamento, ou onde pulula o conhecimento verdadeiramente inútil.

Na próxima edição publicarei alguns itens desta compilação deixando a cada um dos leitores a eleição sobre a sua (in)utilidade.

Para vos deixar com um pouco de curiosidade, sabem que as formigas nunca dormem? Ou quantas toneladas de sardinha foram consumidas em Portugal no ano 2015?

(Continua…)

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