sexta-feira, maio 07, 2021

2 ALJEZUR, TERRA MIMOSA

 por CarlNasc

 

Neste blog, “barlaventino.blogspot.com”, publiquei há cerca de dez anos referências a esta obra, e esse texto sairá agora estampado no Algarzur.

Trata-se de um livro inteiramente dedicado à nossa terra, editado em 1938, raríssimo mesmo entre os aljezurenses mais antigos. Aqui desafio a Câmara Municipal a localizar um exemplar e proceder a uma edição fac-simile, pois me parece disso ser a obra merecedora.




Muito falavam os mais antigos deste livro, inclusivamente nos serões na Casa Grande, que glorificava a nossa terra, coisa pouco vista, fosse na imprensa escrita ou, mais raramente ainda, na rádio telefonia; não se conheciam quaisquer outras referências nos ficheiros das Bertrands, Baratas ou Sás da Costa, das mais conhecidas na grande cidade.

Por mero acaso, há uns anos, nas inesquecíveis conversas com a Tia Zulmira na sua casa da Ladeira, mordiscando um figuinho seco ou chupando um torrão de açúcar, (quem a conheceu seguramente lhe reconhecia um grande orgulho na sua terra e um profundo conhecimento da história da vila, sobretudo da contemporânea), vem à baila o livrinho.

Eu tinha dele uma imagem geral, mas como há muito desaparecera da estante lá de casa, já mal me lembrava do seu aspecto e dos pormenores do seu conteúdo.

A tia Zulmira levantou-se e, após uma curta espera, regressou trazendo nas mãos um velho exemplar desta obra. Com um sorrisinho orgulhoso colocou o livro sobre a mesa, à minha frente, sublinhando o seu gesto com um “Querias vê-lo, aqui o tens!”

Fina brochura de 100 páginas que folheei apaixonadamente e com todo o cuidado, pois estava a desfazer-se, enquanto a tia Zulmira recitava, de cor, um dos hinos de louvor


“Aos Homens da minha terra”

 

“Aljezur, de fidalgas e nobres tradições,

Tem tido filhos dilectos bem ilustrados

Como os Sintras, os Marreiros, os Furtados,

Os Mendonças, os Correias e os Serrões.

 

E os Duartes, também nas suas funções.

Teem desempenhado bem os seus mandados

Pois todos se guiam p’los seus antepassados,

Homens impolutos de firmes convicções.

 

Os tempos são outros, outro é o caminho

Aos homens de Aljezur, porque o destino

Também vai caminhando p’ras realidades.

 

Lembrai-vos conterrâneos que chegou a hora

De vermos ressurgir uma nova aurora,

Ao nosso torrão natal, com prosperidades!”

 

clamando com o ênfase que a chave-d’ouro impunha, e soltando uma lagriminha de nostalgia pelos tempos em que ela o fizera nas récitas da sua juventude.

 

Louvados os “Homens da minha terra”, não fogem à louvação as moças que lhes dão voltas à cabeça:

 

“As Moças de Aljezur”

 

1

As moças da minha terra

São ladinas, são vivazes,

E até mesmo as da serra

Endoidecem os rapazes.

4

E lá no Degoladoiro

Ela é mais desconfiada,

Defeito esse que vem do moiro

E duma época passada.

2

As que moram nas Cabeças,

Lá nos seus alcantilados;

— Vê lá bem não entorpeças, —

Dizem os seus namorados.

5

Quando olham p’ra quem passa,

Oh! Que olhar tentador!

Teem infinita graça,

Naquele olhar sedutor.

3

E as do centro da vila

Teem um andar subtil,

E um sorriso que jubila

Como as manhãs d’Abril!

6

As moças da minha terra

São ladinas, são vivazes,

E até mesmo as da serra

Endoidecem os rapazes.

 

A citação deste livro deve-se sobretudo à demonstração de um grande orgulho aljezurense, que além das páginas iniciais em prosa, canta Aljezur em versos de forma e métrica várias; não desmerecendo naturalmente outros poetas mais recentes que a nossa terra têm representado, como Noémia França, Ernesto Silva, Carolina do Valle, Gertrudes Novais, Arselino e Fábio entre outros (que me perdoem as omissões), este “Aljezur, Terra Mimosa” foi/é uma marca importante na divulgação e promoção do nosso concelho, num estilo romântico e popular.

 

Nota: Algumas palavras mantêm a ortografia do livro.

Praia de Buarcos,

Setembro de 2020

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