por CarlNasc
Neste blog,
“barlaventino.blogspot.com”, publiquei há cerca de dez anos referências a esta
obra, e esse texto sairá agora estampado no Algarzur.
Trata-se de um livro inteiramente
dedicado à nossa terra, editado em 1938, raríssimo mesmo entre os aljezurenses
mais antigos. Aqui desafio a Câmara Municipal a localizar um exemplar e
proceder a uma edição fac-simile,
pois me parece disso ser a obra merecedora.
Por mero acaso, há uns
anos, nas inesquecíveis conversas com a Tia Zulmira na sua casa da Ladeira,
mordiscando um figuinho seco ou chupando um torrão de açúcar, (quem a conheceu
seguramente lhe reconhecia um grande orgulho na sua terra e um profundo
conhecimento da história da vila, sobretudo da contemporânea), vem à baila o
livrinho.
Eu tinha dele uma
imagem geral, mas como há muito desaparecera da estante lá de casa, já mal me
lembrava do seu aspecto e dos pormenores do seu conteúdo.
A tia Zulmira
levantou-se e, após uma curta espera, regressou trazendo nas mãos um velho
exemplar desta obra. Com um sorrisinho orgulhoso colocou o livro sobre a mesa,
à minha frente, sublinhando o seu gesto com um “Querias vê-lo, aqui o tens!”
Fina brochura de 100
páginas que folheei apaixonadamente e com todo o cuidado, pois estava a
desfazer-se, enquanto a tia Zulmira recitava, de cor, um dos hinos de louvor
“Aos Homens da minha terra”
“Aljezur, de fidalgas e nobres
tradições,
Tem tido filhos dilectos bem ilustrados
Como os Sintras, os Marreiros, os
Furtados,
Os Mendonças, os Correias e os Serrões.
E os Duartes, também nas suas funções.
Teem desempenhado bem os seus mandados
Pois todos se guiam p’los seus
antepassados,
Homens impolutos de firmes convicções.
Os tempos são outros, outro é o caminho
Aos homens de Aljezur, porque o destino
Também vai caminhando p’ras realidades.
Lembrai-vos conterrâneos que chegou a
hora
De vermos ressurgir uma nova aurora,
Ao nosso torrão natal, com prosperidades!”
clamando com o ênfase
que a chave-d’ouro impunha, e soltando uma lagriminha de nostalgia pelos tempos
em que ela o fizera nas récitas da sua juventude.
Louvados os “Homens da
minha terra”, não fogem à louvação as moças que lhes dão voltas à cabeça:
“As Moças de Aljezur”
1 As moças da minha
terra São ladinas, são
vivazes, E até mesmo as da
serra Endoidecem os
rapazes. |
4 E lá no Degoladoiro Ela é mais
desconfiada, Defeito esse que vem
do moiro E duma época
passada. |
2 As que moram nas
Cabeças, Lá nos seus
alcantilados; — Vê lá bem não
entorpeças, — Dizem os seus
namorados. |
5 Quando olham p’ra
quem passa, Oh! Que olhar
tentador! Teem infinita graça, Naquele olhar
sedutor. |
3 E as do centro da
vila Teem um andar
subtil, E um sorriso que
jubila Como as manhãs
d’Abril! |
6 As moças da minha
terra São ladinas, são
vivazes, E até mesmo as da
serra Endoidecem os
rapazes. |
A citação deste livro
deve-se sobretudo à demonstração de um grande orgulho aljezurense, que além das
páginas iniciais em prosa, canta Aljezur em versos de forma e métrica várias;
não desmerecendo naturalmente outros poetas mais recentes que a nossa terra têm
representado, como Noémia França, Ernesto Silva, Carolina do Valle, Gertrudes
Novais, Arselino e Fábio entre outros (que me perdoem as omissões), este
“Aljezur, Terra Mimosa” foi/é uma marca importante na divulgação e promoção do
nosso concelho, num estilo romântico e popular.
Nota: Algumas palavras mantêm a ortografia do livro.
Praia
de Buarcos,
Setembro
de 2020
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