A Fonte das Mentiras
A Câmara Municipal de Aljezur (CMA) na sua página na
internet www.CM-Aljezur.pt disponibiliza pelo caminho “Visitar/Descobrir
Aljezur/Monumentos” uma lista de edificações que a CMA, (o pelouro cultural,
passado ou actual), considera como pontos de interesse que poderão motivar
visita dos munícipes ou de forasteiros.
A lista contempla referências algo díspares como o
Castelo, Fortalezas e, com alguma surpresa, a Fonte das Mentiras. Esta fonte
foi assim promovida a monumento, para o que recebeu um tratamento especial com
uma roupagem a preceito(!) e um historial legendário que, para além de dar água
a quem passa, ainda era suposto ter servido como abrigo/esconderijo da moura de
Mareares que por ali franqueara a invasão do castelo através dum hipotético
túnel, ou ainda como saída de emergência que garantiria a fuga da guarnição
moura em caso de ataque ou cerco (embora não se tenham descoberto quaisquer
vestígios)! Mais uma lenda.
A promoção da Fonte
deu-lhe o direito a registo no Sistema de Informação para o Património
Arquitectónico (SIPA) com o número 00034913 onde está descrita como
“Fonte de mergulho, de hipotética origem medieval, com
estrutura em alvenaria, insossa e argamassada, de xisto, parcialmente embebida
no terreno, com caixa de água de planta rectangular e cobertura em abóbada de
canhão. Fachada principal rasgada por vão em arco de asa de cesto, de perfil
irregular, sobre robustos pés direitos, e remate em frontão curvo de pontas
rectas; interiormente, tecto em abóbada de berço e tanque rectangular ocupando
todo o interior, desnivelado.”
Uma notinha à margem: como é usual em muitas terras e
em muitos monumentos esta fonte também apresenta os indícios duma certa falta
de atenção, permitindo a sua ornamentação natural com vegetação característica
do lugar, habitualmente designada por “erva” e “silvas”.
Em tempo da minha pré-adolescência já a lenda da Fonte
das Mentiras me tinha chegado através das tias e dos avós, ajudando-me a
imaginar assaltos ao Castelo, sempre bem-sucedidos pelos conquistadores de D.
Paio. Tomada a fortaleza de surpresa, como convinha, desciam os guerreiros em raboleta
pela encosta, tropeçando e arranhando-se em moitas e silvas para virem emboscar
os mouros fugitivos na Fonte das Mentiras, que por ali procuravam escapar à
chacina no Degoladoiro.
Nesses tempos (no século passado, já(!)), esta fonte
constituía para nós, miúdos, um grande mistério. Espreitava-se lá para dentro
afastando as teias de aranha e mal se via. Sim, tinha água e… lagartixas. Estas
não nos afectavam nada, habituados que estávamos a brincar com elas, mas a água
parecia escura, as paredes interiores muito húmidas, e já não tinha o habitual
cocharro. Dizia o meu avô que quem ainda bebia naquela fonte era o gaseado do
Viva-à-Rússia, protegido por forças misteriosas nada lhe fazia mal, mas que
tivéssemos cuidado pois ele era uma espécie de dono da fonte e não nos queria
por lá. É claro que mais tarde percebi que o aviso era mais para evitar que nas
nossas brincadeiras entrássemos lá para dentro pois a água tinha uma fundura
que nós avaliávamos mal.
Mas nas nossas brincadeiras tínhamos sempre
alternativas para uma sede d’água: fosse na ribeira que naquele tempo corria
com águas cristalinas, fosse contornando a encosta e ir visitar a Fonte do Vale
Palheiro, essa sim, de águas “milagrosas” que matavam a sede e faziam bem aos
dentes, e ainda eram remédio recomendado para as dores de barriga!
Praia de Buarcos
Setembro 2023
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