Perdem-se nos tempos as origens das lendas e, nalguns casos, das tradições; nalguns casos porque muitas vezes estas são “construídas”, conquistando na modernidade esse estatuto de tradição, como é o caso de alguns festivais gastronómicos que apresentam pratos tradicionais que muitos nativos ignoram!
Passar-se-á o mesmo com as lendas?
Antigo já eu sou e muita coisa bebi em fontes ainda mais antigas… naquele tempo…
A moçada estava em constante aprendizagem e, qualquer pessoa mais velha fazia questão de ensinar, mesmo que se limitasse a deixar-se observar. O velho Avô Manel e as velhas tias e primas, as da Vila, as do Odeceixe e as da Azia, para não falar da inesgotável fonte que a D. Adelaide e a D. Maria Inácia constituíam: com aquele hábito de nos fazer decorar a lição, aplicado quer ao livro de Significados quer ao livro de Ciências e outros, nos transmitiram saberes que por cá ficaram e de fácil alembradura.
Foram muitos os mestres! E deles me alembra...
- Da impressionante lenda da Fonte das Mentiras, (impressionante porque sempre que por lá passava em criança, sentia um arrepio na espinhaço, não fosse aparecer algum guerreiro mouro com corninhos de diabo e adaga em punho);
- Da Lenda da Conquista do Castelo e nunca me esquecendo da criança a perguntar: “Avó, as moitas andam?”. Essa lenda que tanto alimentou a nossa imaginação, sendo tema para as nossas pelejas no próprio castelo, conquistando com espadas de pau e setas de chapéu-de-chuva o tecto da cisterna, transformada em fortificação.
Mas a batata-doce?! Nunca a ligámos às nossas conquistas!
Recentemente, a batata-doce tem sido associada à conquista do Castelo sob a forma de uma “Poção Mágica” (gaulesa!?) que Dom Paio distribuía como reforço da janta e que, em dialecto local, seria o equivalente ao prato de feijão com batata-doce, comida forte, para quando a força e o vigor se tornam necessários, e que durante tantos anos constituíram a base da alimentação destes marujos serranos, esta sim, uma verdadeira tradição gastronómica.
DESAFIO a quem sabe destas coisas:
- Conte lá como é que é?
- Como é que este tubérculo entra na história ainda antes da descoberta das Américas, donde supostamente é originária?
2 comentários:
Batata-doce (lenda Xavante) - Conta a lenda que os urubus passeavam sobre uma floresta do Mato Grosso quando avistaram um caçador debatendo-se no chão. Ele estava com o corpo coberto de furúnculos e, tinha sido abandonado ali, por seus companheiros. Os urubus pousaram ao seu redor e viram a dor que aquele homem estava sentindo. Então, levaram-no até o céu e lá o deixaram curado. Retornando à terra, os urubus pousaram o caçador numa roça dos xavantes e o deixaram lá. Os índios correram para ver o que havia ocorrido. O caçador estava muito feliz e doou aos xavantes uma muda de batata-doce que trouxera do céu. Os índios plantaram a muda e a batata-doce tornou-se uma lavoura muito popular e apreciada em todo o país
Pois é...
Mas em Aljezur, como é que a batata-doce acompanhava o feijão dito com ela, antes da descoberta do Brasil? Será que foram os tais urubus?
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