Falar português ou estrangeirês? Português, empresariês,
farmaticês.
Há muitos, muitos anos, que leio bulas de medicamentos. O
que lá procuro? Pois por dentro dessa linguagem tão específica, aprendi a
distinguir a Posologia, os Efeitos Secundários e pouco mais. Estes folhetos
têm melhorado muito ao longo do tempo, adoptando, pelo menos nestes parágrafos,
uma linguagem mais comum, mais facilmente entendível.
Mas e a imprensa?! Exige à partida uma familiarização com
diversas terminologias, igualmente específicas, em textos obviamente destinados
a diversas categorias de leitores, mas nem por isso afastam os leitores mais vulgares.
O Português é uma língua riquíssima, dispõe da palavra certa
para cada situação, mas a moda de importar termos quase sempre de origem
anglo-saxónica, é levada a um exagero insuportável. E então na área das tecnologias até já levou que os amigos brasileiros introduzissem o termo mídia, na ânsia de assumirem as sugestões da mal-pronunciada media (em inglês).
Seguem alguns exemplos,
extraídos apenas de um exemplar de um conhecido e conceituado semanário da
nossa praça jornalística. Tão somente num artigo do seu suplemento de Emprego extraímos as
seguintes frases… assim como estão, sem (necessidade de) contextualização:
<<
…possivelmente
a aproximarmo-nos de um esgotamento ou, como se diz agora, de um burnout!...
…conhecimento
de Supply
Chain e do modelo Lean Manufacturing, visão integrada
de negócio (com todos os stakeholders).
A empresa Xyz
é uma startup avaliada em mais de mil milhões de euros.
…formar jovens
talentos que integrarão o Plug-In,
o primeiro programa de trainees.
A senhora
lidera uma equipa que prefere lhe chamem a “People Team”.
…e há uma
equipa que se dedica em exclusivo a potenciar o bem-estar e motivação e que se
designa “Make it Happen Team”.
…as vagas
estão abertas para “Senior .Net Developers”,
“DBA’s” “Performance”.
…diferentes perfis “Software
Testers”, “QA Automation”, ”Dev/Ops”, “Performance Engeneers”, “Release
Engeneers”, “Scrum Masters”, “Product Owners”, “UX”, “Digital Designers”,
e ainda, “People Business Partners, Talent Acquisition Specialists”, “Account Managers”, “Customer Services Agents”,
fluente em línguas (?) Operations e Finance.
Os
seleccionados devem especializar-se em áreas como Quality Assurance Automation, UI Development
e .Net Development.
…o programa
cumpre um plano de formação comportamental (soft skills) e formação on-job
complementar.
>>
No mesmo
suplemento, mas num outro texto sobre Seguros vem dizendo:
Tornar as
estruturas mais leves no que concerne aos workflows internos…;
…o sector tem
mais funções de new business ou business development…;
…apostar mais
em profissionais focados em employee benefits.
>>
Hábito ou
presunção?
Para já não
falar na restauração. Desapareceu a profissão de cozinheiro e agora todos são chef,
sem o e final, para não se confundir com qualquer designação hierárquica.
E até várias
associações e empresas neófitas se constituem com nomes em inglês, mais
sonantes, sobretudo quando se referindo às suas áreas de actividade. Como se a
língua portuguesas não dispusesse dos vocábulos adequados ou, se os usassem,
corressem o risco de não virem a ser compreendidos.
Então porquê
as lamentações de que o ensino do português em países doutras expressões está a perder o interesse? Se no próprio país a sua utilização é “com toda a
propriedade e facilidade” ultrapassada pelos termos da moda.
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