Mas afinal quando é a Quinta-feira da Espiga? A menina Guida
já explicou na Doutrina que é 40 dias depois da Páscoa, comemorando a altura em
Deus Nosso Senhor subiu aos Céus. Mas a menina Idalina, que dá a Doutrina ao
grupo das mecinhas, disse que não são bem os 40 dias, mas sim catorze semanas a
partir da Páscoa. A Senhora Marquinhas, que é quem manda na Doutrina, é que
sabe. E ela diz que o que vem na Bíblia são os 40 dias.
- Ê cá na sê bem! O qu’ê sê é que amanhão vamos ó campo
apanhar os raminhos de espigas.
Combinei com os amigos Carsalberto e João irmos dar a volta
no intervalo do almoço da escola, qu’é quando tudo pára por causa de ser o “dia
da hora”. Vamos começar pela Barrada com o trigo, donde se faz o pão, e as
papoilas que estão no meio do trigo e são da cor do coração. Descemos à horta
do Ti Saroidinho pr’ós raminhos de oliveira, para não faltar o azête. Junto à
vala, na várzea, apanhamos os malmequerzinhos amarelos que, diz a minha tia, é
p’ra não faltar o dinheiro. No mê quintal vamos apanhar as folhas da minha parrêra
que, diz o mê pai, é p’ra não faltar o vinho.
‑ Atão e os bocadinhos de rasmono? – Intervém o Casalberto. ‑
Temos de dar um salto lá por trás, ao pé da Fonte das Mentiras ou no caminho do
Vale Palhêro. Lá é que há, qu’ê sê! É por lá que o vão apanhar p’rá fogueira do
Sant’António. Ouvi-os a combinarem.
‑ E se eles já o foram apanhar para pôr a secar ao pé do
mastro? Se calhar podemos ir roubar uns bocadinhos, qu’é pr’ó ramo cheirar bem!
– Era o João a querer poupar a caminhada.
‑ Tás mas é parvo! Levavas logo qu’era p’ra aprenderes!
‑ Quantos raminhos vão fazer? Ê cá preciso de dois: um p’rá
minha mãe e outro p’rá minha tia. Qu’é p’ra porem atrás da porta e trocarem
pelos velhos qu’inda lá tão!
‑ A gente já na tem nenhum. – Lamentou o João. ‑ Nã sê que
jêtes, mas a minha avó queimou-o pr’á Santa Bárbara quando vieram as travoadas.
‑ Atão já sabem, amanhã na hora do almoço…
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