tag:blogger.com,1999:blog-72661822024-03-13T14:29:38.542+00:00Barlaventino - d'Al-GharbFICÇÕES ALGARVIANASXico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.comBlogger83125tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-11640987393358462102024-03-12T18:56:00.003+00:002024-03-12T18:56:39.278+00:00Para Além das Imagens - 7<p style="text-align: center;"><br /></p><p style="text-align: center;"> <span style="font-size: medium;"><b>A Praia da Fortaleza</b></span></p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXBNZoC1diWpGyruZ1t0KyYIB8BvD2UFQIJzgJfkBqQpcqaEAmq1l1y8H1Fmt98HbTWpdnNF-sBOyI755HSqeNvMrvVeBKTthKI7XwM39IqH53l-kSQT8ZqRGvtO2hNmMk__CPFF0TkyD5-hY0UdvnjQ7MmOv1pyxpPRAerWXuodGxJn-koi5J/s450/Fortaleza.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="432" data-original-width="450" height="307" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXBNZoC1diWpGyruZ1t0KyYIB8BvD2UFQIJzgJfkBqQpcqaEAmq1l1y8H1Fmt98HbTWpdnNF-sBOyI755HSqeNvMrvVeBKTthKI7XwM39IqH53l-kSQT8ZqRGvtO2hNmMk__CPFF0TkyD5-hY0UdvnjQ7MmOv1pyxpPRAerWXuodGxJn-koi5J/s320/Fortaleza.jpg" width="320" /></a></div><br /><p style="text-align: center;"><span style="text-align: left;">[Arrifana, 1965]</span></p><p>Mais uma vez venho falar de coisas antigas e de que me lembro vagamente, às vezes até muito vagamente, por causa do calendário. É o caso deste pequeno povoado; inicialmente de pescadores, mas que neste ano de 1965 já acalentava esperanças de cativar forasteiros com as suas areias e pedras rolantes (roladas) e a suave ondulação das águas da baía. A venda da aldeia disponibilizava já bebidas frescas, e quando a frequência aumentava oferecia outros produtos para atrair os forasteiros, e refiro-me à moreiazinha frita, uns percebinhos, ou até algum outro petisco preparado na hora ou por encomenda, incluindo a caldeirada ou a carniça de porco que o panito de cozedura caseira acompanhava.</p><p>As antigas cabanas de tábuas e braceja para os materiais da pesca, salpicadas pela encosta, deram lugar a pequenas casinhas de pedra e cal. A imagem da Arrifana, acima, tão frequentemente designada por Praia da Fortaleza, data do Verão de 1965, e fui eu próprio que a registei na minha rudimentar Kodak Instamatic 50, máquina de jovem amador e de poucas lecas, numa tarde soalheira de frequentes banhos para sossegar a caloraça. Nessa tarde bem quente, a calma que caía levou-me ao balcão da venda que na foto aparece com a placa dos CTT – Cabine Telefónica, indicador de tímido progresso, mas que, ainda assim, era o único meio de ligação deste cantinho ao mundo. Uma gasosa ou um pirolito eram os meus refrescos preferidos pois naquele tempo, naquele meu tempo, a cerveja era ainda uma coisa amarga que eu pouco apreciava.</p><p>Passaram quase 60 anos e no antigo povoado de pesadores tudo é tão diferente e é, para mim, já difícil identificar algumas localizações daquele tempo. O que resta da venda, dos caminhos de terra ziguezagueando, das estreitíssimas ruas que, em socalco, sustinham as pequenas casas?</p><p>Quem me dera uma ajuda para recordar, recordando comigo? O portinho de abrigo não existia nem tão pouco a estrada rasgada na rocha, ao Norte, desde a Fortaleza até à zona mais abrigada onde se fazia o desembarque. O pescado, muito ou pouco, subia às costas dos homens que o pescavam ou daqueles que se dispunham a ajudar, com magra compensação, galgando largas dezenas de degraus pela rocha acima. Manobra mais tarde substituída por um complicado sistema de teleférico de carga, o que reduzia o enorme esforço, e que transportava as caixas do peixe para o topo da rocha onde as pequenas carrinhas dos compradores, modernismo em substituição das bicicletas e motorizadas, esperavam a carga para partirem em demanda dos mercados da região ou para o revenderem de terra em terra, de porta em porta.</p><p>Hoje a encosta está bem preenchida com casas: casas de habitação, casas de veraneio, casas para rendimento, vista de mar a encarecer as propinas e as transacções. O mesmo se passa no topo da falésia, onde dantes se punham as algas a secar e os porquitos na engorda, levantam-se agora várias edificações e se iniciou um novo núcleo habitacional, hoje mesclando-se com empreendimentos turísticos e loteamentos, perdendo-se o uso inicial, e que se distribuem num desconexo “plano urbanístico”.</p><p>E quando vou passear até lá, delicia-me a extraordinária vista para Sul com a Pedra da Agulha como secular guardiã, essa sempre igual, sem ter tido que se adaptar à modernidade turística nem ao movimento das escolas de surf, tão desejadas e tão frequentadas que mal lhes chega a língua de areia, pouco restando para os amantes dum mergulho nas preguiçosas ondas. Transformou-se a Arrifana numa praia cada vez menos familiar.</p><p>Quanto à actividade piscatória, nestes tempos em que o Portinho ganhou bons acessos, requalificações, continua a dar que fazer à lota, com os desembarques devidamente fiscalizados, pois as transacções geram receitas para o Estado que é preciso acautelar para não afectar o OGE! Entretanto (Março de 1999) é fundada a Associação de Pescadores e são inventadas tradições que se afirmam anualmente. Eventos como a “Festa dos Pescadores da Arrifana” a par com o “Arrifana Sunset Fest”, trazem à aldeia e sobretudo à zona do porto de abrigo a grande animação importada e que o pessoal do barlavento, macambúzio, bem precisa para levantar a pestana e animar o cenho.</p><p>Estas festas, modernizadas e cheias de estilo, quero dizer “style”, com uma designação à moda dos “influencers” anglo-saxónicos tipo Sunset Fest, pois uma Festa de Pôr-do-Sol não é a mesma coisa e, eventualmente, não transmitiria o verdadeiro espírito da coisa, promovem a reunião no apertado espaço do Portinho de muitos pescadores(?), muitos alunos e instrutores de surf, enfim, de muita gente e se dá à festa a componente religiosa e pagã que as diversas estirpes requerem. O São Pedro que conforta os que se arriscam no mar, e as potentes aparelhagens para o indispensável consolo da “religião” do divertimento.</p><p>Tudo, claro, bem regado com um Sunset Tequila, ou com um Pink Paradise, ou com um Mosko Club ou, porque não, um Watermelon Margarita. Refrescantes e… desinibidores, para quando umas minis forem demasiado barlaventinas para a população das acrobacias na crista das ondas.</p><p>Independentemente dos cocktails em portinglês, pingam os €uros na caixa e… haja saúde, que a malta mais nova é assim mesmo, na prancha e na mesa, e a Arrifana ou Praia da Fortaleza, a responder ao apelo de modernidade que o século XXI impõe.</p><p style="text-align: right;"><i>Carlos eNe</i></p><p style="text-align: right;"><i>Praia de Buarcos, Dezembro 2023</i></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-50824644281650435082024-03-12T18:47:00.004+00:002024-03-12T18:47:38.246+00:00Para Além das Imagens - 6<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: center;"><b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ponte-Pedra ou Ponte-de-Pedra?</span></b></p>
<p class="MsoNormal"><!--[if gte vml 1]><v:shapetype id="_x0000_t75" coordsize="21600,21600"
o:spt="75" o:preferrelative="t" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" filled="f"
stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter"/>
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0"/>
<v:f eqn="sum @0 1 0"/>
<v:f eqn="sum 0 0 @1"/>
<v:f eqn="prod @2 1 2"/>
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth"/>
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight"/>
<v:f eqn="sum @0 0 1"/>
<v:f eqn="prod @6 1 2"/>
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth"/>
<v:f eqn="sum @8 21600 0"/>
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight"/>
<v:f eqn="sum @10 21600 0"/>
</v:formulas>
<v:path o:extrusionok="f" gradientshapeok="t" o:connecttype="rect"/>
<o:lock v:ext="edit" aspectratio="t"/>
</v:shapetype><v:shape id="Imagem_x0020_1" o:spid="_x0000_s1026" type="#_x0000_t75"
style='position:absolute;margin-left:252.15pt;margin-top:2.95pt;width:226.3pt;
height:162.7pt;z-index:251658240;visibility:visible;mso-wrap-style:square;
mso-width-percent:0;mso-height-percent:0;mso-wrap-distance-left:9pt;
mso-wrap-distance-top:0;mso-wrap-distance-right:9pt;
mso-wrap-distance-bottom:0;mso-position-horizontal:absolute;
mso-position-horizontal-relative:text;mso-position-vertical:absolute;
mso-position-vertical-relative:text;mso-width-percent:0;mso-height-percent:0;
mso-width-relative:page;mso-height-relative:page'>
<v:imagedata src="file:///C:/Users/CarlosM.M/AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image001.jpg"
o:title=""/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh3XfyePIRyL6UNd6HHEUKxwat7rs1KJh9eig5Lc6MxC0O1owinrTZpYWyNZ16d3dOg27gGnqAA9_sF4WGyiosBBXwv2G2lBbESNz41igUL6-lruJRffht5w6X0CBOkCZ9ePv6_9tqff1mtjG9Qqi2GhromlvdWbbiSHGtDUaAjhDMCLcdvCO9/s771/PontePedra%20A.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="530" data-original-width="771" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh3XfyePIRyL6UNd6HHEUKxwat7rs1KJh9eig5Lc6MxC0O1owinrTZpYWyNZ16d3dOg27gGnqAA9_sF4WGyiosBBXwv2G2lBbESNz41igUL6-lruJRffht5w6X0CBOkCZ9ePv6_9tqff1mtjG9Qqi2GhromlvdWbbiSHGtDUaAjhDMCLcdvCO9/s320/PontePedra%20A.jpg" width="320" /></a><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">O autor com o primo, companheiros de sempre, em 1958</div><span style="height: 217px; margin-left: 336px; margin-top: 4px; position: absolute; text-align: center; width: 302px; z-index: 251658240;"><br /></span><span style="height: 217px; margin-left: 336px; margin-top: 4px; position: absolute; text-align: center; width: 302px; z-index: 251658240;"><br /></span><span style="height: 217px; margin-left: 336px; margin-top: 4px; position: absolute; text-align: center; width: 302px; z-index: 251658240;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiak1IDe3Urj7SXLdNuSELu9nMVjCjaFhMl6OD5P47WX4_f6D95un0BnrF05DmT0SnXFzo-uviAIZKTZu6u29FBG__DsD0xEpvxCvoroF6Ije9tFurQPS7dzC7mIEXyakj9TV0YCYpBEA7HpV8qwcXLV7lW9LussgbcSfUX3w49sK27EmQucgn9/s299/PontePedra%20B.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="215" data-original-width="299" height="215" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiak1IDe3Urj7SXLdNuSELu9nMVjCjaFhMl6OD5P47WX4_f6D95un0BnrF05DmT0SnXFzo-uviAIZKTZu6u29FBG__DsD0xEpvxCvoroF6Ije9tFurQPS7dzC7mIEXyakj9TV0YCYpBEA7HpV8qwcXLV7lW9LussgbcSfUX3w49sK27EmQucgn9/s1600/PontePedra%20B.jpg" width="299" /></a></div><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A fotografia no <i>site</i> da CMA</span></p>A fotografia é do tempo em que a Ponte-Pedra era
apenas uma ponte, e (ainda) não um monumento. Uma estrutura, “bela”, mais por
ser “útil” do que pelo seu traçado arquitectónico dispensando a supervisão do
engenheiro Edgar Cardoso. De utilidade indubitável, senão, como é que ali se
atravessaria a ribeira, se o vau trouxesse caudal acrescentado pelas águas do
Areeiro. Do Areeiro, naturalmente, vêm as areias e ali se forma a prainha
aproveitada pela rapaziada depois dos mergulhos nos pegos que se formavam junto
às paredes de suporte da própria ponte; isto porque as areias salgadas da
Amoreira e do Monte Clérigo não passavam do rio para a ribeira.<o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Depois, mas sem data, a Ponte-Pedra passou a
monumento, incluída no SIPA como Monumento Nacional identificado com o número
34914, referenciada como tendo sido construída na “Idade Média”. São surpresas!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Procura Carlos, procura, e encontrarás outras
surpresas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A Câmara Municipal publica na sua página da internet
um Boletim onde descreve um Circuito Histórico-Cultural e Ambiental que inclui
o dito monumento (ver em:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">cms.cm-aljezur.pt//upload_files/client_id_2/website_id_1/Publicacoes/circuito_historico-cultural_Aljezur.pdf).<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Transcrevo do SITA o “Enquadramento”:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.3pt; margin-top: 0cm;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Rural, fluvial, isolado, a N. da urbe, na
confluência da Ribeira de Aljezur com a Ribeira do Areeiro, perto da atual
ponte rodoviária e do Parque das Merendas. Próximo localiza-se o Lugar do
Serradinho onde se encontra os vestígios do Escama-Peixe e represa do Moinho do
Serradinho (v. ). Na envolvente predominam os canaviais, o Salgueiro (Salix), o
Choupo e o Amieiro, proporcionando habitat a variada fauna e avifauna, com
destaque para a Lontra (Lutra lutra) (cuja população é a única em Portugal e
uma das poucas da Europa a deslocar-se à costa marítima para se alimentar), o
Cágado-de-carapaça-estriada e a Garça-vermelha (Ardea purpúrea).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E, caros leitores, do Moinho do Serradinho, da sua
represa e do Escama-Peixe, nem indicação nem sinal! O Moinho, será sempre o
Moinho d’Água onde morava o meu amigo e companheiro de escola e brincadeiras Zé
do Moinho, e a represa, qual represa? Será que se referem ao Açude? E o tal de
Escama-Peixe, novidade nunca “ouvista” (ouvida/vista)?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É correcto que a CMA divulgue o seu património
arquitectónico e tente cativar os locais e os forasteiros para o conhecerem.
Neste caso há uma pequena descrição da Ponte-Pedra, acompanhada duma fotografia
a cores onde a mesma não se consegue vislumbrar, tal é o matagal que a
circunda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Senhora Câmara, faltam o tempo e as pessoas para tanto
que fazer, não é? Mas se é para divulgar, pois que se divulgue mas…
esclarecidamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: right;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Carlos eNe</span></i></p><p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: right;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt;">Praia
de Buarcos, Setembro 2023<o:p></o:p></span></i></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-43458041960355408872024-03-12T18:37:00.002+00:002024-03-12T18:37:32.853+00:00Para Além das Imagens - 5<div class="separator"><br /></div><p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O MARCO DA ÁGUA</span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh99V4zT9iVFdXVnEboJlTZRrom4HZFUwHRJ_4t9WBNG6gjzh2z7QsxVA9I0aSteKlhrUqJ6b-8O64DKDTZKdFadWzZcAyuoDT7Pzmw9VNI4f7G-fv7Xb1lIGxIHwdxUCgQR-wjxWKpkrE4iSndubYeBTmWo6Abvw_zUjMUOGH9vFiPIazhxmad/s1200/800px-Fontan%C3%A1rio_p%C3%BAblico_em_Aljezur_-_14.03.2020.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="800" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh99V4zT9iVFdXVnEboJlTZRrom4HZFUwHRJ_4t9WBNG6gjzh2z7QsxVA9I0aSteKlhrUqJ6b-8O64DKDTZKdFadWzZcAyuoDT7Pzmw9VNI4f7G-fv7Xb1lIGxIHwdxUCgQR-wjxWKpkrE4iSndubYeBTmWo6Abvw_zUjMUOGH9vFiPIazhxmad/s320/800px-Fontan%C3%A1rio_p%C3%BAblico_em_Aljezur_-_14.03.2020.jpg" width="213" /></a></div><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></p>Pesquisando a internet
por informações e imagens sobre a vila de Aljezur, aparece-me no ecrã uma fotografia
do inesquecível do Marco da Água da Rua da Ladeira, no seguinte endereço
da rede “<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">pt.wikipedia.org/wiki/Fontanário_Público_de_Aljezur”.<o:p></o:p></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É agora oficialmente
designado por Fontanário Público de Aljezur, enquanto nos tempos em que
funcionava, sempre foi designado por Marco da Água. Já não presta serviço (não
tem torneira nem mesmo decorativa!); girou cerca de 90 graus e foi encostado ao
paredão, não facilitando assim o acesso (por inútil) ao pequeno nicho na parte
de trás que permitia controlar o fluxo do precioso líquido. Figura, porém, na
relação dos Monumentos da vila e está incluído no SIPA (Sistema de Informação
para o Património Arquitectónico), considerado Património Nacional, descrito
pormenorizadamente como aqui, que com a devida vénia, transcrevo:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.3pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Embasamento baixo, em
lajes de pedra dispostas em meia laranja; espaldar de base tronco - piramidal a
que se sobrepõe plinto alto, apresentando a sua face principal sulcos
horizontais e verticais a simular cantaria de 3 blocos quadrangulares
sobrepostos; remate recto. Duas bacias idênticas, sobrepostas e escalonadas, em
meia-laranja, sobre pequena base reentrante.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A Wikipedia descreve-o:
“O Fontanário Público de Aljezur é uma estrutura na vila de <i>Aljezur</i>, na
região do <i>Algarve</i>, em </span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Portugal" title="Portugal"><i><span style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; text-decoration: none; text-underline: none;">Portugal</span></i></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">.</span><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Fontan%C3%A1rio_P%C3%BAblico_de_Aljezur#cite_note-SIPA-1"><i><span style="color: windowtext; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; text-decoration: none; text-underline: none;">[1]</span></i></a><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">”
com esta chamada de rodapé para <i>GORDALINA, Rosário (2013), segundo
«Fontanário Público em Aljezur», Sistema de Informação para o Património
Arquitectónico. Direcção Geral do Património Cultural</i>. Consultado em 2 de
Setembro de 2021.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Assim como o devido
“Enquadramento”:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 28.3pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Urbano, destacado e
adossado a muro de delimitação de pequeno largo-miradouro, com pavimento em
calçada e vista para a parte baixa do núcleo antigo da povoação e o núcleo novo
a E. (v. IPA.00028747) e os campos agrícolas interpostos. (IPA.00034911)”.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas porquê agora vir à
estampa o Marco? O Marco? Este Marco, assim como o da Rua das Cabeças e o da Rua
do Degoladoiro, estão guardados na minha memória e, seguramente, na dos meus
contemporâneos, no “departamento” dos locais de brincadeira da nossa infância.
Quando acompanhávamos as mães no acartar duma quarta d´água, segurando nós
próprios a pequenina <i>enfusa</i> da água fresca para beber, nosso orgulhoso
contributo para o abastecimento familiar. De manhã cedo, ou ao fim do dia,
conforme a necessidade, era o meu pai que abastecia a cantareira com um
daqueles pesados (mesmo quando vazios!) cântaros de barro branco.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas além destas idas ao
Marco, havia as outras, já sem a mãe e assumindo nós a autonomia possível,
antes do grito de chamamento. “Ó Chiiiico, anda pra casa!”. “’Nhora, lá vou!”.
Íamos brincar para o Marco. Havia água que todos nós adorávamos para chapinhar
na base de apoio, e encarapitarmo-nos para abrir a torneira e dar de beber às
abelhas. Estas coitadas sem perceberem que era para seu bem, lá nos brindavam
com uma ferroada de vez em quando, espoletando o inevitável choro e a corrida
para casa, geralmente sem consequências a assinalar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mais tarde já era eu a
transportar a dita quarta, fosse para a nossa casa fosse para a casa da tia, na
verdade a minha segunda casa. Como soía dizer: “Vou à minha casa da minha tia”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Na modernidade de há 60 anos,
as imagens dos casalinhos de namorados debaixo dos caramanchões dos poços das
hortas, renovavam-se aqui, desfrutando a extraordinária paisagem desde a
várzea, pela Igreja Nova, até à Fóia, sem poço nem sombras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Hoje, enfim, está
diferente e, como tantos outros monumentos deste Portugal antigo, perdeu a
letra maiúscula e resiste envergonhado pela falta de atenção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: right;"><i><span style="font-size: 10.0pt;">Carlos eNe<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: right;"><i><span style="font-size: 10.0pt;">Praia de Buarcos<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: right;"><i><span style="font-size: 10.0pt;">Setembro 2023<o:p></o:p></span></i></p><br /><br />Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-66493292402635057122024-03-12T17:03:00.003+00:002024-03-12T17:03:53.292+00:00Para Além das Imagens - 4<p style="text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><b>A Fonte das Mentiras</b></span> </p><p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><o:p> </o:p></p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqKpqRwkppC7jVlv3E_Z8P6C9V6m1y856tpt9q25RHFCuqi-3sMDrWGCqutVoNC02RUsjCy0FlJG86pr2EgrIFEWa4Id5QNNSWB5rY4oeDuGKtJ6yGI0m9fJMByWlXXEIoZs0E-LR2irBT52CQ9bnXd7WdFx6hx4x3PC218bdljfHw76S-2Svj/s1280/Fonte.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="856" data-original-width="1280" height="273" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqKpqRwkppC7jVlv3E_Z8P6C9V6m1y856tpt9q25RHFCuqi-3sMDrWGCqutVoNC02RUsjCy0FlJG86pr2EgrIFEWa4Id5QNNSWB5rY4oeDuGKtJ6yGI0m9fJMByWlXXEIoZs0E-LR2irBT52CQ9bnXd7WdFx6hx4x3PC218bdljfHw76S-2Svj/w408-h273/Fonte.jpg" width="408" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A Câmara Municipal de Aljezur (CMA) na sua página na
internet www.CM-Aljezur.pt disponibiliza pelo caminho “Visitar/Descobrir
Aljezur/Monumentos” uma lista de edificações que a CMA, (o pelouro cultural,
passado ou actual), considera como pontos de interesse que poderão motivar
visita dos munícipes ou de forasteiros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A lista contempla referências algo díspares como o
Castelo, Fortalezas e, com alguma surpresa, a Fonte das Mentiras. Esta fonte
foi assim promovida a monumento, para o que recebeu um tratamento especial com
uma roupagem a preceito(!) e um historial legendário que, para além de dar água
a quem passa, ainda era suposto ter servido como abrigo/esconderijo da moura de
Mareares que por ali franqueara a invasão do castelo através dum hipotético
túnel, ou ainda como saída de emergência que garantiria a fuga da guarnição
moura em caso de ataque ou cerco (embora não se tenham descoberto quaisquer
vestígios)! Mais uma lenda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-right: 28.3pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A promoção da Fonte
deu-lhe o direito a registo no Sistema de Informação para o Património
Arquitectónico (SIPA) com o número 00034913 onde está descrita como <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 35.45pt; margin-right: 35.35pt; margin-top: 0cm;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“<span class="resultssummary"><span style="color: black;">Fonte de mergulho, de hipotética origem medieval, com
estrutura em alvenaria, insossa e argamassada, de xisto, parcialmente embebida
no terreno, com caixa de água de planta rectangular e cobertura em abóbada de
canhão. Fachada principal rasgada por vão em arco de asa de cesto, de perfil
irregular, sobre robustos pés direitos, e remate em frontão curvo de pontas
rectas; interiormente, tecto em abóbada de berço e tanque rectangular ocupando
todo o interior, desnivelado.”</span></span></span></i><span style="color: dimgrey; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Uma notinha à margem: como é usual em muitas terras e
em muitos monumentos esta fonte também apresenta os indícios duma certa falta
de atenção, permitindo a sua ornamentação natural com vegetação característica
do lugar, habitualmente designada por “erva” e “silvas”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Em tempo da minha pré-adolescência já a lenda da Fonte
das Mentiras me tinha chegado através das tias e dos avós, ajudando-me a
imaginar assaltos ao Castelo, sempre bem-sucedidos pelos conquistadores de D.
Paio. Tomada a fortaleza de surpresa, como convinha, desciam os guerreiros em <i>raboleta</i>
pela encosta, tropeçando e arranhando-se em moitas e silvas para virem emboscar
os mouros fugitivos na Fonte das Mentiras, que por ali procuravam escapar à
chacina no Degoladoiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Nesses tempos (no século passado, já(!)), esta fonte
constituía para nós, miúdos, um grande mistério. Espreitava-se lá para dentro
afastando as teias de aranha e mal se via. Sim, tinha água e… lagartixas. Estas
não nos afectavam nada, habituados que estávamos a brincar com elas, mas a água
parecia escura, as paredes interiores muito húmidas, e já não tinha o habitual
cocharro. Dizia o meu avô que quem ainda bebia naquela fonte era o gaseado do
Viva-à-Rússia, protegido por forças misteriosas nada lhe fazia mal, mas que
tivéssemos cuidado pois ele era uma espécie de dono da fonte e não nos queria
por lá. É claro que mais tarde percebi que o aviso era mais para evitar que nas
nossas brincadeiras entrássemos lá para dentro pois a água tinha uma fundura
que nós avaliávamos mal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas nas nossas brincadeiras tínhamos sempre
alternativas para uma sede d’água: fosse na ribeira que naquele tempo corria
com águas cristalinas, fosse contornando a encosta e ir visitar a Fonte do Vale
Palheiro, essa sim, de águas “milagrosas” que matavam a sede e faziam bem aos
dentes, e ainda eram remédio recomendado para as dores de barriga!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><o:p> </o:p><i style="text-align: right;"><span style="font-size: 10.0pt;">Carlos eNe</span></i></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: right;"><i><span style="font-size: 10.0pt;">Praia de Buarcos<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: right;"><i><span style="font-size: 10.0pt;">Setembro 2023<o:p></o:p></span></i></p><br /><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br />Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-27947328902926318652024-03-12T16:36:00.008+00:002024-03-12T16:50:53.452+00:00Para Além das Imagens - 3<p> </p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>Lavar com a vila em fundo<o:p></o:p></b></p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTRZJ-MVJAysZqiTErFpiWq6MjhRVcLz7layBS-JTxf9PTQlc6Pw6vKNqcKq55cPqd5WZaNNsrHzSncmp7V3SVsea_N9Us9LmZAn9jVdJw3XJ9pAmrcRCnHVt0aE-awQ3usEAbJJqDsYiMgjOovVPAV2areQLmAVV0uMvkBqLF_r4cWpBxgXyO/s7020/Lavadeiras.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4872" data-original-width="7020" height="222" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTRZJ-MVJAysZqiTErFpiWq6MjhRVcLz7layBS-JTxf9PTQlc6Pw6vKNqcKq55cPqd5WZaNNsrHzSncmp7V3SVsea_N9Us9LmZAn9jVdJw3XJ9pAmrcRCnHVt0aE-awQ3usEAbJJqDsYiMgjOovVPAV2areQLmAVV0uMvkBqLF_r4cWpBxgXyO/s320/Lavadeiras.jpg" width="320" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div></div></div></div></div><p class="MsoNormal">Eis mais um postal de Aljezur reflectindo um aspecto, uma
perspectiva, uma actividade, uma época… Vista Parcial menciona, (mesmo muito
parcial) e Ponte.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">São três os conjuntos que se destacam neste postal; três
elementos, três planos. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O primeiro, a ribeira e as lavadeiras. Em tempos anteriores
à água canalizada não se pensava em lavadouro, claro, e era na ribeira que as
mulheres (naquele tempo só as mulheres) lavavam a roupa, literalmente, assim
como era nessas reuniões (sociais) que outra roupa também era chamada à
barrela. Parlatório. As ceroulas do senhor doutor ou os lençóis das casas
grandes eram geralmente a introdução ao noticiário social da vila, com
particularidades para pequenos (ou grandes) comentários e até enxovalhos ou
ainda uma praga ou outra. “São tão cheias de não me toques e dão-me pra lavar
roupa desta!” ou então, “Dizem pr’aí que dormem separados, mas não é isso que
os bragais contam!”, e terminando com um <i>esconfique</i> ou um <i>raisapartam</i>.
Sim, era na ribeira que se difundiam as novidades e outros ditos, e que dali
partiam para os quatro pontos cardeais. Este lavadouro natural servia sobretudo
o pessoal do centro da vila. As mulheres do extremo norte desciam ao Açude ou à
Ponte Pedra e as do cimo do Degoladouro e as do caminho do Castelo, iam lavar
Lá-Por-Trás. As águas eram praticamente as mesmas e as práticas também. Mais
novidade, menos novidade, as notícias eram lavadas com <i>assabão</i> azul e
branco e levadas na esfregadeira até à mesa, seguindo pelos homens até à venda.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Em segundo plano a Ponte. Pequena e estreita hoje, mas
naquele tempo era imponente, do ponto de vista arquitectónico e sobretudo da
utilidade e do desenvolvimento. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Esta ponte é um orgulho da população desde a sua construção
nos anos 40/50 do século XX. “Olha a ponte s’é bonita!”. É das mais belas da
região e consta na lista de monumentos de Aljezur. Está registada na SIPA (
Sistema de Informação para o Património Arquitectónico) em www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=35534<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A ligação das duas margens da Ribeira permitia a
continuidade da estrada e abria o caminho para o Norte, pela nova via que se
melhorava com o alcatroamento. A placa colocada na curva anunciando Lisboa a
238 Km, levava a comentários e imaginações. Naquele tempo os quilómetros eram
bastante mais compridos, muitas vezes medidos em tempo: “Daqui até Lisboa é um
dia na <i>camineta</i> de Lagos.” A ponte liga os dois troços da Estrada
Nacional 120, (desde Lagos a Alcácer), levando ao desuso dos portos de passagem
a vau a seguir à Casa Sintra ou junto à Ponte-Pedra, embora só possível em
tempos de poucas águas. A estrada necessitava da ponte para dar escoamento às
viaturas que começavam a afluir à vila, a caminho de Lagos ou a caminho do
Norte, sobretudo depois das cheias de 1947 terem levado a parceira medieval,
embora esta não fosse a solução para a estrada que se preparava para ligar Aljezur
à região a Norte.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">É assim um monumento belo porque é útil, e é útil também por
ser bela.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">À esquerda uma parte da encosta do Castelo, declive
acentuado a dificultar, quase inviabilizar, a construção. Mantém-se até hoje.
Apenas atravessado a meia altura pelo chamado Caminho das Piteiras, e este
ligando-se à parte baixa por uma ou duas íngremes veredas, somente para os mais
destros. É uma parte da encosta nua de casario, que ajuda a destacar o Castelo
e que assim se tem mantido até ao presente.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Em terceiro plano e em fundo, o casario do centro. Poucas
casas da apropriadamente designada Rua da Ladeira, maioritariamente térreas,
algumas com pequenas rampas para eliminar degraus, e aproveitadas como pequenos
patamares para receber visitas à porta em tempo de frescura, desfrutando as vistas
possíveis, e “controlando” quem sobe e quem desce. Desta ladeira saem algumas
azinhagas que dão acesso às traseiras das casas, onde mal se distinguem os galinheiros
e as cavalariças. Esta zona da vila é bastante antiga e, para contraste e com
grande apreensão dos moradores, passou a ser usada por alguns carros e seus
aventureiros condutores, como alternativa aos modernos impedimentos da Rua da
Ponte-de-Pau. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">No topo da Rua da Ladeira, um paredão com alguns alegretes
floridos, desempenha o papel de Miradouro sobre a várzea e sobre a Igreja Nova,
extenso horizonte. Deste ponto, algumas mães ou tias seguiam as suas crianças
pela berma da estrada (ainda sem passeio) até à Escola, nos seus bibes brancos em
viagem para o Conhecimento.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><o:p> </o:p><i style="text-align: right;"><span style="font-size: 10pt;">Carlos eNe </span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><i style="text-align: right;"><span style="font-size: 10pt;">Praia de Buarcos, 2023</span></i></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-82505060709644946332024-03-12T16:28:00.003+00:002024-03-12T16:51:15.611+00:00Para Além das Imagens - 2<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 107%;"><b>Memórias a Preto-e-Branco<o:p></o:p></b></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p><b> </b></o:p></p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjX4TwfEgzI2Xzsegidq22pdOcbuISz1PQ3eYk1fO5pOx7YO4dMZzpndLsEw1omx31XLfH2CSMSxqBlYw4Fmt6CZ4GfL4X0ANj6t0t5OqmiesomKnC1oORnlcZn246ThfgVFAoH1pC4khCc5PBiWp0VV-7yxg8BZtAx_Lt7E3ae6ThKAXi9J9tr" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="609" data-original-width="873" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjX4TwfEgzI2Xzsegidq22pdOcbuISz1PQ3eYk1fO5pOx7YO4dMZzpndLsEw1omx31XLfH2CSMSxqBlYw4Fmt6CZ4GfL4X0ANj6t0t5OqmiesomKnC1oORnlcZn246ThfgVFAoH1pC4khCc5PBiWp0VV-7yxg8BZtAx_Lt7E3ae6ThKAXi9J9tr" width="320" /></a></div><br /><p class="MsoNormal">Mais um postal da mesma colecção e edição. Tem legenda identificando
o Jardim Público e reservando-lhe lugar em primeiro plano. A máquina, fixada em
cima da ponte, captou também um pouco da parte Norte, sendo bem claro o cerro
do Forte e um punhado de casinhas escorrendo pela encosta abaixo, como é
normal, (tradição?), dado a configuração dos cerros. Aqui o Forte não é
diferente do Mosqueiro.</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Mas o primeiro plano da fotografia é a grande parede de
sustentação do jardim público e mais umas poucas casas molhadas pela ribeira. O
jardim, coitado, de seu nome, tão pouco tem. Nem uma pessoa está, naquele
momento, a beneficiar directamente do espaço. Sempre foi um local de pouca
frequência, nada convidativo; os canteiros com flores, tão escassos aqueles e
escassas estas, não mereceriam o nome de “alegretes”, e não mereceram ficar na
imagem. Salva-se o arvoredo, tílias creio, que lhe dão uma frondosa sombra que
os carros também aproveitam já que a sua calçada convida ao estacionamento.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">E era nele, também sobre a calçada, que a Biblioteca
Itinerante da Gulbenkian estacionava e preparava o atendimento e aconselhamento
das leituras, a grandes e pequenos. Nessa altura sempre apareciam mais pessoas por
ali, fosse pela curiosidade que o acontecimento gerava numa terra onde tão
pouca coisa acontecia, fosse mesmo por interesse pelos livros, tão raros na
altura e de aquisição difícil. Os leitores formavam uma bicha para entrar na
carrinha Citröen cinzenta e de chapa ondulada para entregar os livros do último
empréstimo e renovar ou requisitar nova leitura.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A grande parede, escura e suja com algumas saídas de esgoto
a meia altura, dos tempos em que eram raríssimas as casas com instalações
sanitárias, pré-saneamento, encimada por uma balaustrada que segura os
passeantes curiosos no debruço sobre a ribeira, naquele tempo ainda com água,
pouca. A vegetação é do tipo atabuas, que nós, os moços, apanhávamos para
brincar, como se armas fossem, nas nossas explorações debaixo da ponte na
procura das galinholas, ou a caminho dos pegos, mais abaixo, para a devida abanhadela
quando a canícula convidava.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Algumas das casas da rua da Ponte de Pau cujas traseiras
davam directamente para a ribeira, mantinham junto à água pequenos patamares
que pareciam servir (e ter servido) de cais. Um ou outro moço daquele tempo, lembro-me
de dois, dispunham de pequenas chatas que lhes permitiam curtas navegações no
reduzido espaço do curso de água, podendo levar um companheiro, coisa que lhes
terá ficado no sangue de ascendência marítima. Marítimos da Fortaleza, mas que
ali, no exíguo mar onde podiam “navegar”, os grandes peixes não eram mais do
que uns bordalinhos e umas pardelhas. Nessas chatinhas se podia descer a
ribeira e passá-las à mão onde as passadeiras e a pouca profundidade o
requeriam para se chegar ao Pego do Pequeno, e aí sim, se davam uns belos
mergulhos. A gente, éramos um pequeno bando de moços ainda na escola primária,
que nas tardes do Verão quente, às vezes tão quentes que o alcatrão da estrada
até levantava borrefas, nos refrescávamos antes do regresso a casa. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Estas nossas aventuras não se vislumbravam no postal, embora
pudesse ser uma boa imagem publicitária, divulgando as boas condições que a
Natureza oferecia à rapaziada da vila daqueles tempos e, naturalmente,
extensiva aos que nos visitassem. Se resistíssemos ao banho nos grandes pegos,
caminhávamos pela margem direita para observarmos os cágados e, ao mesmo tempo,
roer um marmelo ou uma gamboa, saltávamos o açude e íamos mergulhar no fundão
da Ponte Pedra, e bronzear na prainha de fina areia.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">A balaustrada remata a parte de cima de todo o paredão, e
continua alguns metros para lá do jardim, fechando inclusivamente o antigo acesso
à ponte medieval, derrubada na grande cheia de Março de 1947, sendo ainda
visível o maciço de apoio da extremidade na margem esquerda da ribeira. Esta já
se assumia aqui como a Ribeira de Aljezur, engrossando o caudal na confluência dos
riachos das Cercas (da Serra e da Cruz) e das Alfambras, mesmo a montante da
Ponte (ainda nova na altura).<o:p></o:p></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><i><span style="font-family: Courgette;">Carlos eNe<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: Courgette;">Praia de Buarcos<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: Courgette;">2023<o:p></o:p></span></p><br /><p></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-68355253324675478912024-03-12T16:22:00.001+00:002024-03-12T16:51:31.227+00:00Para Além das Imagens - 1<p style="text-align: center;"><b><span style="font-size: medium;">Postais de Aljezur -1 </span></b></p><p style="text-align: center;"><br /></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiq_8CyWa7Ck-Pk596aASsKm8kq9wes-TUP_V2mhK9lUU6e5m6MrrzHX6oXekWw7uOV1yPLUl8Uk60Uqxcv9t9s_PsMroDpSdKofeLkfrVVLJE8P-7WwV5SlnaQbhTdV4UPMaz7GmsqCbgPrjXgU5Ok-zjRIfKAKvYoesRGjUiV_k1TnLw2ceY1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="606" data-original-width="876" height="221" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiq_8CyWa7Ck-Pk596aASsKm8kq9wes-TUP_V2mhK9lUU6e5m6MrrzHX6oXekWw7uOV1yPLUl8Uk60Uqxcv9t9s_PsMroDpSdKofeLkfrVVLJE8P-7WwV5SlnaQbhTdV4UPMaz7GmsqCbgPrjXgU5Ok-zjRIfKAKvYoesRGjUiV_k1TnLw2ceY1" width="320" /></a></div><p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b> </b></p><p class="MsoNormal">Está aqui mesmo à minha frente,
sobre a mesa de trabalho, reacendendo as memórias que a imagem inspira. É um
postal a preto-e-branco e bem poderia ter sido o resultado do olhar que o
senhor Furtado costumava deitar à nossa vila através da sua objectiva. A
autoria perdeu-se, mas a impressão regista o momento e o tempo para a
posteridade. Regista em duas linhas a legenda que identifica a Parte Norte da
Aljezur. Ignoro em quantas partes foi dividida a vila, mas esta é de facto, a
“Parte Norte”.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">O fotógrafo posicionou-se no adro da Igreja Nova e captou
esse ângulo, limitado à esquerda pela estrada (da Igreja Nova), visível quase
toda, e fixa a encosta virada a Nascente (toda a vila está virada a Nascente) desde
a zona do Cemitério Velho pelas Cabeças acima, até a colina descair para os
lados da Ponte-Pedra e mais vila não haver. Captou e registou vida nessa
estrada: duas pessoas, indistintas, uma a pé outra de burro, um quadro típico e
tão frequente até aos anos 70. Outro burro ainda, desligado do “movimento” e do
seu parceiro trabalhando, pasta no restolho, abaixo das únicas casas à direita
(uma a do senhor Valentim, a outra, já lá não chega a minha memória). A
luminária montada na primeira casa situa a imagem num tempo posterior à chegada
da luz eléctrica (a Maio de 1963).<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">A vila impõe-se na fotografia, no plano de fundo embora sendo
o motivo principal, com as suas fiadas de casinhas distribuídas pelos altos e
baixos dos arruamentos, desde as margens da ribeira, pela encosta acima.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Não chega a incluir o Castelo que marca o centro da vila,
mas destacam-se alguns elementos: o Cemitério Velho no topo da colina, com o
seu típico frontispício ornamentado com incrustações de caveiras e tíbias
afirmando a sua inegável importância no seu tempo, impressionando de forma algo
assustadora a pequenada que lá acorria para as brincadeiras. Logo a seguir, a Casa
Grande ou Casa da Velha Senhora que se impõe pela sua volumetria: é como se
fosse uma grande parede por onde o olhar já não passa; mais para a direita está
a Igreja da Misericórdia, e mal se distingue a Casa Verde, na rampa de João de
Deus (mas mais conhecida como a Ladeira da Misericórdia) e que marca o início da
colina do Forte. Esta Casa Verde é umas das poucas grandes casas que se evidenciam
não apenas pela imponência, mas, e sobretudo, pelo bom gosto da sua distinta
arquitectura. <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Mas detenhamo-nos na Casa Grande. Dois pisos elevados, seis
janelas na fachada, uma construção que, não tendo nada que ver com a traça
habitual (tradicional?) das construções da vila, — também nada ficou a dever à
beleza arquitectónica, — como se pode perceber na mancha do casario, mas que se
levanta recortada no horizonte, branca e sem barras, sem qualquer enfeite nem
efeito outro que não a sua imposição grandiosa. Será sempre um casarão… feio.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Nasceu encostada à casa senhorial anterior, menos
exuberante, e para ambas impôs a edilidade, quiçá por simpatia como os
proprietários, o traçado de uma nova rua, para servir as duas únicas portas.
Não tinham número de polícia nem outra qualquer identificação, nem era preciso:
para a distribuição de correspondência bastava o nome do destinatário, pois o
carteiro conhecia toda a gente. Uma rua nova que, por falta de imaginação camarária,
veio a chamar-se exactamente de Rua Nova. Mas podia chamar-se Rua do Vento, pois
todos os dias era dia de bezaranha.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Os senhores que moravam na Casa Grande eram, família
abastada, claro, rica, como era a riqueza daqueles tempos: várias casas na
vila, terras de agricultura e quarelas que arrendavam e lhes proporcionavam os
cereais necessários ao consumo da casa, e ainda outras terras para pastagem das
várias cabeças de gado que também possuíam. Além disso, extensos montados “lá
p’rá Serra” donde lhes vinha o grande proveito da venda da cortiça. O senhor da
casa registava-se com a profissão de “proprietário”.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">A casa senhorial anterior foi-se degradando com a
desocupação e, após uma ligeira adaptação que permitiu separar duas áreas de
habitação, nela foram residir, de favor, duas famílias de compadres e afilhados
da Casa Grande. <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Na parte do primeiro andar, morávamos nós; e lá vivemos
durante uns 15 anos, ou talvez mais. Tinha duas janelas com vista para a várzea
que, em tempo de invernia, permitia ver as cheias que a inundavam durante dias,
com águas amareladas, curioso fenómeno que na altura eu não compreendia. Tinta
que só pintava a ribeira e não dava para pincelar no papel.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Mas o que eu vejo para lá da simples imagem é algo que transcende
as duas dimensões da estampa. Assaltam-me as minhas memórias, sobretudo as da
idade mais tenra, dos tempos em que bastava saber-se andar e já se explorava a
rua, embora sempre ao alcance do chamamento da mãe ou da tia.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Aquela rua era o meu reino e a varanda da nossa entrada, no
topo de uma escadaria, era o meu castelo. Às vezes lá se desenrolavam algumas
“lutas”; eu defendendo a minha posição, enquanto que um ou outro que se
constituíam como assaltantes, tentavam invadir a minha fortaleza. A escada era
perigosa para esta brincadeira e às vezes lá acontecia algum mais descuidado
“descer” <i>raboleta.<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal">Éramos uns poucos de miúdos naquela zona, uns na curva da
rua, outros na rua de baixo, outros mais ao lado, descendo para o marco da água
ou subindo para lá do Cemitério Velho. Este, já abandonado há muito, era o
nosso campo da bola, bola de trapos pois está claro, já que a dita de <i>cautechumbo,</i>
da colecção dos bonecos, era só para pés maiores que os nossos. Mas ainda bem,
pois quando ela “fugia” das “quatro linhas”, era mais fácil apanhá-la antes que
rebolasse até à ribeira.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Estes pensamentos ocorreram-me em frente do postalinho que,
em tempos do meu afastamento para outras paragens menos algarvias, alguém me
mandou para matar as saudades da terra.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><i>Carlos eNe</i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><i>2023</i></p><p>
<br /></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-34322662290160892562022-11-27T12:27:00.000+00:002022-11-27T12:27:35.320+00:00CASAS NO FORTE - Folhetim (11)<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjktWgyQp7v28_5sHkNrASfP6PIbZALGyINbz398mzyXEuiBb9Qe9BJ5f5uCg6DTOQ3qj34-ZW0g937T52J2D6DZYUEbsf0rRFQRD2Ww2IHsEFl29DLsKVxaB1gdJdH1C9mfOTBZOAHBUikhg7MFprGfLIglMG4InALlNonuA5e0uoVbI8rdg/s416/IgrejaNova.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="276" data-original-width="416" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjktWgyQp7v28_5sHkNrASfP6PIbZALGyINbz398mzyXEuiBb9Qe9BJ5f5uCg6DTOQ3qj34-ZW0g937T52J2D6DZYUEbsf0rRFQRD2Ww2IHsEFl29DLsKVxaB1gdJdH1C9mfOTBZOAHBUikhg7MFprGfLIglMG4InALlNonuA5e0uoVbI8rdg/s320/IgrejaNova.jpg" width="320" /></a></div><br /><p style="text-align: center;"><b><br />LUÍSA - RAINHA DO VIDIGAL</b></p><p></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“In nómine Patris, et Fílii, et Spíritus Sancti.” —
Era o padre a iniciar ritual, provocando em uníssono um grande “Amen”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Esta parte inicial, até o Zé a percebia, desde
criança, mas quanto à continuação, apanhava uma palavra aqui, outra ali, mas
sem perceber o significado. Por que cargas d’água é que haveriam as missas de
ser celebradas em latim, se o povo falava era o português. Até o padre tinha de
ler por aquele livro grande, pois se não tinha ninguém com quem falar aquela
língua, já morta como se dizia, como é que ele haveria de a praticar. <a name="_Hlk117237335">Era só pregação! Mas o sermão, esse era em bom <i>algraveo</i>,
percebido por todos! “Irmãos, podeis dar, então dai aos necessitados e dai à
vossa Igreja, porque quem dá aos pobres…”.</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Dominus vobiscum”…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Ite, missa est.” — <a name="_Hlk117237674">O padre anunciava
o fim do santo sacrifício</a>. Quem conhecia o ritual murmurava um “Deo
grátias”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Terminava a missa, o que se percebia pelo farfalhar
das roupas e pelo ruído dos passos. As pessoas encaminhavam-se para a porta. Os
poucos homens foram os primeiros a sair, mas Zé manteve-se até ela passar. Ela
mandou-lhe um olhar de cumprimento ou de desafio, ou de convite, ele que lhe
desse o sentido que quisesse, mas ele respondeu-lhe com um picar de olho. Já no
adro, ela despediu-se das amigas e esperou por ele. Um “Olá” mútuo foi mais do
que suficiente e, como se tivesse sido combinado, dirigiram-se para a lateral
do edifício onde estavam os animais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ela procurou no alforge as sandálias do campo e trocou
de calçado, e ele esperando ao lado dela, perguntou-lhe se ia já para casa, ela
que sim e convidou-o a acompanhá-la.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Não queres ir até lá? Faço uma frigimenta de chouriça
com ovos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Ora aí está uma coisa qu’a mim me cai no goto! <i>Atão</i>
vou contigo. Vá que t’ajudo a montar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— N’é preciso. — Com a leveza do seu corpo pequeno e a
agilidade que a caracterizava, deu um balanço e saltou; com meia volta no ar
ficou sentada de lado na albarda. — Olha, já estou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Segura-te ao cabeço da albarda, que eu levo a
areata. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O caminho fizeram-no devagar, sem pressas. Era cedo. A
conversa fluía entre eles. Ela, que tomava conta da casa e do irmão desde que
os pais sucumbiram ao febrão das sezões que apanharam no Alentejo quando foram
para as mondas. Ela e o irmão escaparam porque tinham ficado com familiares em
Maria Vinagre.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— E tu? Os teus pais? A tua mãe já sei que é quem toma
conta de ti, mas e o <i>tê</i> pai? Marujo, não era?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Sim, era marujo. Andava numa traineira da Fortaleza.
Um dia um par de roazes prendeu-se nas redes quando fizeram o cerco e ele saiu
na chata para tentar salvar a faina da sardinha. Dizem que os roazes viraram a
chata e ele ficou debaixo e deve ter levado uma pancada na cabeça. Quando o
tiraram já estava sem vida. Eu era ainda pequeno. Daí, fiquei com esta alcunha
de Zé Marujo, mas é só alcunha, o meu apelido e Santos. Sou José Alberto dos
Santos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Pois é claro! Marujo não é nome de ninguém. Bem, sei
lá, se calhar até podia ser, não achas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Chegaram ao monte e o Zé dispôs-se a desalbardar o
burro e prendê-lo na courela do pasto por detrás da casa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Sim, obrigada. Eu vou mudar de roupa. — E sentindo
que lhe provocara um certo ar matreiro, antecipou-se ela. — Não te atrevas a ir
lá a casa antes de eu aparecer cá fora, hem? Nem penses!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Tá bem, fica descansada. O <i>qu’é</i> que pensas?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Pouco depois já estavam à mesa com a frigimenta na
frente. Pão, vinho e boa disposição.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— O Manel? Inda <i>nâ</i> o vi. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— O <i>mê</i> irmão foi de manhã cedo à pesca para a
Carriagem com o vizinho ali de cima. Só vêm lá para a noitinha e, como é
costume, não há-de trazer peixe nenhum!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Conversaram. Iam-se conhecendo, ambos entusiasmados
com a presença do outro, sentindo-se confortáveis, tranquilos. Ela ruborizada e
abanando-se com a mão, sugeriu irem-se sentar no poial à porta e apanharem um
pouco de ar mais fresco, e comerem lá fora as laranjas. E foram.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Queres que experimente outra vez fazer-te os óculos?
— Zé abrindo a sua faquinha de bolso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Claro que não, aquilo foi apenas uma brincadeira.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A ocasião e as suas posições ao lado um do outro
propiciavam inevitavelmente alguns toques com as mãos. Ela limpou as dele com
uma rodilha molhada e seguraram-se mutuamente durante uns segundos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Tens as mãos frias. — Comentou ela.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Mas tenho o coração quente. Não é assim que se diz?
— Ele agora segurando as dela. — Mas as tuas estão quentinhas. No teu caso é o
calor do teu coração, ou estou enganado?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— ‘<i>Tás</i>-me a fazer corar! Sei lá se é o calor do
meu coração! Ele está dentro do meu peito, e lá há calor suficiente para ele
bater.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— E esse calor não transborda, como o meu?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mantinham-se de mãos nas mãos. Ele apertou-as
ligeiramente e ela correspondeu com idêntico aperto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Gosto de ‘tar aqui contigo. Aqui ao pé de ti.
Fazes-me sentir bem. E tu, o que sentes?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Fazes-me corar outra vez. — Hesitante, baixando os
olhos. — Sim, também gosto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Então gostamos os dois. — E arriscou. — Gostamos um
do outro, é?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— <i>Bêque</i>-me… <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— </span>Bêque-me quê? Atão a gente acerta-se. <span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">—
O qu’é que dizes? Vá, diz lá!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Mas digo o quê? Se a gente se acerta? Pode ser…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Pode ser, ou queres mesmo? — Zé aproximando-se,
tentando dar-lhe um beijo na face.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Sim... Também quero. — Ela permitiu o beijo e
retribuiu beijando a face dele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Para ela já chegava por hoje e disse-lhe isso. Que se
fosse já. Tinha a cabeça numa grande baralhação e precisava de pensar. Ele
concordou, mas puxando-a mais para si, beijou-lhe os lábios. Implorou só mais
um bocadinho e trocaram outro beijo. A hora da partida ia-se alongando na
tarde. Tanto para um como para o outro a novidade dos beijos era maravilhosa.
Ele sempre segurando as mãos dela fê-la pôr-se de pé. Ficaram frente a frente e
beijaram-se de novo e desta vez com um abraço, primeiro tímido, mas depois
apertado e desinibido. Excitados os dois, ela defendeu-se, afastando-se
murmurou-lhe que deviam ficar por ali. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Só mais um abraço para a despedida. — Pediu ele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E com esse derradeiro abraço se despediram. Combinaram
que ela o visitaria na oficina já na Segunda-feira, e depois combinavam como se
veriam. Ele encostou-lhe a boca ao ouvido e disse-lhe baixinho “Inda <i>há-des</i>
ser a <i>m’nha</i> rainha!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><br /><p></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-70744858706395849282022-10-22T11:33:00.003+01:002022-10-22T11:33:41.790+01:00CASAS NO FORTE - Folhetim (10)<p> </p><p align="center" class="MsoHeader" style="margin-bottom: 12.0pt; text-align: center; text-indent: -.25pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; font-variant: small-caps;">10.
Agostinho – Fuzileiro<o:p></o:p></span></b></p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6T5FdIWWUUUbFj9Tm6jHfdOsgH9FrGo9qCMxZxzumv9s6GGmjWHxPts1801jItFtbWzDE2rahaulXdqq7sa8Gf2pREQD6DN2gfODphg9ZPnFPH4oX5IuL5z4S6V_FI7Mo9YEmKHF4zU3AR_l-DND0ZNm-X8jJ_TR8hgf96zk4VgKcLvu8RQ/s1284/Alfeite.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="590" data-original-width="1284" height="147" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6T5FdIWWUUUbFj9Tm6jHfdOsgH9FrGo9qCMxZxzumv9s6GGmjWHxPts1801jItFtbWzDE2rahaulXdqq7sa8Gf2pREQD6DN2gfODphg9ZPnFPH4oX5IuL5z4S6V_FI7Mo9YEmKHF4zU3AR_l-DND0ZNm-X8jJ_TR8hgf96zk4VgKcLvu8RQ/s320/Alfeite.jpg" width="320" /></a></div><br /><p class="MsoNormal"><a name="_Hlk110437920"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Aquele Domingo tinha sido a sua
despedida da vida civil. A caminhada até à Avenida de Roma e o regresso servira
de verdadeiro tranquilizante e cedo adormeceu, confiante no hábito madrugador
da tia.</span></a></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Na manhã seguinte, ou melhor, na
madrugada seguinte, levantou-se às seis horas, ainda antes da tia o acordar.
Despachou-se depressa, higiene tratada e barba feita, pouca barba, mas enfim, a
cara foi devidamente escanhoada. Agarrou o seu pequeno saco com o indispensável
e saiu. Antes de começar a descer a escada voltou atrás para um beijo à tia.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Apanhou o eléctrico, quase vazio
àquela hora. Já sabia que aquela carreira ia passar na Rua da Conceição, onde
devia sair e caminhar para a Doca da Marinha. Era perto e em dez minutos chegou
ao portão. Não viu campainha, abanou-o para anunciar a sua presença.
Apareceu-lhe um marinheiro armado, com espingarda em bandoleira e baioneta no
cinturão, a perguntar-lhe: “O que é que queres a esta hora, pá?”<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Agostinho, um pouco intimidado,
gaguejando lá explicou que se vinha apresentar como voluntário para a Marinha.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O marinheiro, percebendo a hesitação
e a timidez dele, quis aproveitar para se divertir, pois ali não era ele a
autoridade? portanto o outro teria que dançar com a sua música.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— E quem te disse para vires para
aqui? A apresentação é no Alfeite, não é o que diz a tua guia? Ora mostra lá.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Sim. Mas também me disseram que
aqui eu posso apanhar a vedeta H para atravessar o rio, ou não?<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Entretanto um Cabo saiu da
casa-da-guarda e atalhou para o marinheiro. <o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Estás armado em quê, pá? Então não
te disseram que iam aparecer alguns candidatos à recruta para apanharem a
vedeta? Verifica a guia e deixa-te de merdas.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— OK. — E para o Agostinho, entre
dentes. — Tás com sorte. Entra lá e vai para além, para o pé daquele banco. É
de lá que parte a vedeta.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Agostinho lá foi e sentou-se no banco
grande, azul. Esteve sozinho durante muito pouco tempo, outros candidatos
começaram a chegar. <o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Às sete e vinte, aproximou-se um
pequeno barco cujo nome não conseguiu ler, escondido que estava por um pneu
pendurado à proa.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Este barco é que é a vedeta? —
Perguntou um, mal disfarçando o nervosismo.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Deve ser, não aparece mais nenhum.
— Avançou outro, de cabelo ruivo.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Por fim o tipo das manobras saltou
para o cais para amarrar o cabo. Ao vê-los exclamou: — Vá, toca para bordo e
acomodem-se, que isto hoje é capaz de encher.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Recolheu-se e foi para a cabine.
Soaram três toques na sirene e ele gritou: — Vamos sair às sete e meia. Quem
não estiver fica em terra.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Do portão surgiu mais um grupinho de
rapazes apressando o passo. Afinal a vedeta hoje não ia encher, mas quase! Novo
toque da sirene e soltou a amarra. Partiram. O das manobras gritou: — Esta
embarcação é um verdadeiro calhordas e com a maré a vazar vamos demorar aí uns
três quartos de hora. E aviso já: ninguém vai chamar pelo gregório aqui dentro
do meu barco. Se almarearem vão para a popa vomitar pela borda fora, olha ó
caraças!<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Era cedo e estava fresco. Os mais
inseguros instalaram-se perto das janelas. Abriram-nas para entrar o ar, mas
juntamente com o ar, entravam imensos salpicos que por vezes eram uma autêntica
chuveirada que molhava mais do que aliviavam o enjoo, embora o rio estivesse
calmo. A viagem decorreu sem incidentes. Durante parte do percurso tiveram a
companhia de alguns golfinhos que pareciam disputar uma corrida com a vedeta.
Demoraram mesmo os três quartos de hora anunciados. <o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando atracaram foram encaminhados
para o Grupo Número 2 onde estavam preparadas três mesas de recepção, cada uma
com um cabo escriturário a fazer o atendimento que constava de um pequeno
questionário, findo o qual eram encaminhados para outra fila onde esperavam
pela inspecção médica: uma breve auscultação, observação da planta dos pés e
das partes íntimas e um elementar teste à visão. Finalmente tinham de cumprir
os mínimos de desempenho físico numa corrida de aproximadamente 100 metros e
avaliar a capacidade de recuperação. Obtida a “aprovação” nesta inspecção,
passavam então à recolha de sangue para análise.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Havia perto duma centena de
candidatos, voluntários, com elevada taxa de aprovação. Este processo levou
muito tempo e depressa se esgotou a manhã. Foi atribuído a cada um uma guia com
a sua identificação e um número. O almoço foi servido num grande refeitório.
Antes de comerem, o mesmo cabo instruiu que havia autocarros à espera deles.
Tinham o destino indicado num papel no vidro da frente, Vila Franca de Xira e
Escola de Fuzileiros em Vale de Zebro.<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Alguém tem dúvidas? — Pausa. —
Muito bem!<o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O grupo do Agostinho chegou à Escola
de Fuzileiros pelas quatro da tarde onde os esperava a praxe do corte de cabelo
modelo recruta, a habitual carecada. Após uma passagem pela arrecadação para
receberem toda a palamenta, foram encaminhados para a caserna onde foram
distribuídos pelos respectivos lugares. <o:p></o:p></span></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"><span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Amanhã apresentem-se na parada às
sete e meia da manhã. — Instruiu o cabo. — A caserna tem de ficar arrumada, com
todas as camas bem feitas. Bem feitas ouviram? As mãezinhas não vêm cá arrumar
o quartinho dos meninos!!! Ok?<o:p></o:p></span></span></span></p>
<span style="mso-bookmark: _Hlk110438952;"></span><span style="mso-bookmark: _Hlk110437920;"></span>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Hoje vão jantar às 19 horas no refeitório do
rés-do-chão, ainda sem formatura nem lugar marcado. Recolhem aqui até às 21
horas e pelas 22 será apagada a luz e é o silêncio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A vida de fuzileiro começava assim, com dureza. Nas
primeiras duas semanas não havia autorização para sair. Em boa verdade, nem
apetecia: os dias eram cansativos com tanta actividade. Era a ginástica, era a
aplicação militar, eram as operações nocturnas. A exigência era sobretudo
física, sempre pondo à prova a resistência. Na segunda semana já houve
eliminações por incapacidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Finalmente, na sexta-feira durante o almoço, o
sargento da instrução informou que quem quisesse ir de fim de semana podia
pedir um “passaporte” ao comandante do seu pelotão e apanhar o autocarro para
Cacilhas ou para o Barreiro que saíam às quatro e meia da tarde. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Agostinho foi dos primeiros a chegar junto do
comandante do seu pelotão. Com o dito passaporte para justificar à PM ou à PA
se fosse interceptado, envergou a sua farda de sair, a precisar de um arranjo,
poliu as botas, e foi instalar-se no autocarro. Estava ansioso. Não tinha
conseguido telefonar aos tios e muito menos à Vitoriana.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-23975547741715720652022-10-22T11:27:00.000+01:002022-10-22T11:27:02.311+01:00CASAS NO FORTE - Folhetim (9)<p> </p><p align="center" class="MsoHeader" style="margin-bottom: 12.0pt; text-align: center; text-indent: -.25pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; font-variant: small-caps;">9.
Paris, Paris!<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoHeader" style="margin-bottom: 12.0pt; text-align: center; text-indent: -.25pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAWV9KnrjfFWWe5tdw9kFQLVliylb6jhFFpikkqxaItV0iD1U2In_fXYtnFbIj77bds-chZuUyLmWxMlvBYVjxVZz4qacgZ-QKtS54Jlr5HsVl_CVJvD9A-8A3V0X6eAn1Yinaif_2-y4112SkV-UEte8v5Kz6bOJ_iKtjXTP67TNjDwIWAA/s800/Caf%C3%A9_des_Phares_Place_de_la_Bastille_Paris%20PB.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="429" data-original-width="800" height="172" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgAWV9KnrjfFWWe5tdw9kFQLVliylb6jhFFpikkqxaItV0iD1U2In_fXYtnFbIj77bds-chZuUyLmWxMlvBYVjxVZz4qacgZ-QKtS54Jlr5HsVl_CVJvD9A-8A3V0X6eAn1Yinaif_2-y4112SkV-UEte8v5Kz6bOJ_iKtjXTP67TNjDwIWAA/s320/Caf%C3%A9_des_Phares_Place_de_la_Bastille_Paris%20PB.jpg" width="320" /></a></div><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; font-variant: small-caps;"><o:p> </o:p></span></b><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">Ia adiantada a Primavera em Paris naquele ano de 1994;
a canícula já batia nos 27 e podiam-se ver alguns franceses mais acalorados a
tomarem banhos de sol pelos parques da cidade, com destaque para os Jardins das
Tulherias e do Luxemburgo, ou ainda nas margens do Sena.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">No seu intervalo para almoçar, Francisco juntara-se ao
seu amigo Édouard Henri na esplanada do Café des Phares, na Praça da Bastilha.
Debicavam sem pressa as <i style="mso-bidi-font-style: normal;">salades</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">niçoises</i>, enquanto discutiam o trabalho
sobre a língua portuguesa que Édouard preparava para a apresentação na aula de
Português que frequentava na Sorbonne.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">Estava animada a conversa quando tocou o telemóvel de
Francisco. Retirou-o da bolsa de cintura. Era a Alice. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Alô querida Alice! <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ça va</i>?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Alô Chico, estou em crise. Preciso da tua ajuda para
um problema da minha amiga de Lisboa, a Teresa. Estamos junto à Nôtre Damme e
roubaram-lhe a carteira com os documentos; lembrei-me que talvez tu…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Ok! Eu estou no Café des Phares, na Bastilha e ainda
demoro uns minutos. E se vocês viessem até cá? Tomaríamos um refresco. Apanhem
um táxi, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">d’accord?<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">Desligou com um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">à
bientôt</i> e voltou a dar atenção a Édou. Comentou o texto, a descendência do
Latim, como o Francês, alguns vocábulos semelhantes e algumas declinações
verbais. Recomendou que não deixasse de referir o Galego e o Galaico-Português.
Não era uma especialidade sua, mas no seu curso ainda teve de se confrontar com
o Latim em que, afinal, até fora muito bom aluno, e adorava a linguística. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Acho que ficará melhor se desenvolveres um pouco
mais estas questões — e apontou as frases já sublinhadas — e se incluíres um ou
outro poema do Cancioneiro de Garcia de Resende, do século XVI, ou de três
séculos antes, uma das Cantigas de Amigo de D. Dinis? “Ai Deus, e u é?”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Achas que ficará bem? Os outros colegas vão incidir
mais sobre Camões: a biografia, a lírica, os Lusíadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Então e tu avanças com um estudo anterior ao
Renascimento, — aconselhou Chico. — Acabas por apresentar uma língua bastante
diferente da de Camões e, por maioria de razão, da actual. É um desafio, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">n’est ce pas</i>?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">— <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Et bien</i>,
se mais ninguém atacar este tema, ainda sou capaz de tirar uma boa nota!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Claro! <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sûrement
si j'étais ton profe…</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">Édou arrumou os papéis e despediram-se com um “tchau”,
quando as três raparigas se aproximaram. Francisco e a Alice beijaram-se à moda
dos franceses, com três beijos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Esta é a minha amiga Maria Teresa, e a sua colega…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Enchanté</i>!
— Disse para a Maria Teresa, trocando dois beijos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Em seguida olhou fixamente para a colega
cujo nome tinha ficado em suspenso. Havia qualquer coisa de familiar naquela
cara. Os olhos e o modo de olhar… Os óculos de sol e um penteado à Mireille
Mathieu não lhe transformavam suficientemente o rosto, o ar. A comissura dos
lábios, o nariz inconfundível, ligeiramente adunco… Mas que coincidência! A
parte do seu cérebro que se ocupava das coisas antigas executava um varrimento
de conteúdos à mais alta velocidade. Será caso?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Peço desculpa, mas não entendi bem o
seu nome.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Então! É a Vi…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Sim, Vi. Os amigos costumam tratar-me
assim. Mas na verdade o meu nome é…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Vitoriana! — Atalhou Francisco para
surpresa delas. — Vi, Vivi, Vita apenas para alguns.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Ah! Mas que graça! Afinal conhecem-se!
— Exclamou a Maria Alice.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Vitoriana ainda mais surpreendida,
retirou os óculos revelando os olhos lindos e as sobrancelhas bem delineadas:
“Desculpe, mas não estou a reconhecê-lo. Ora ajude-me lá.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Claro! É a coisa mais natural, há
tantos anos… é a barba, faz-me parecer muito diferente. — Francisco, saboreando
o momento com imensa satisfação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Hum… Não, não estou a ver. — Sorria. Já
lhe parecera, mas não queria arriscar, desejava mais pistas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Imagina-me assim, de cara limpa. Ou
melhor, vê a foto no meu BI. — Retirou o cartão da carteira e mostrou-lho,
tapando o nome.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Ela olhou para o cartão e começou a
corar. Continuava a evidenciar esse rubor sempre que se sentia surpreendida ou
apanhada em falta, desde a infância. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Chico?! Não posso acreditar! —
Murmurou. — És mesmo tu?! — Caíram nos braços um do outro e assim ficaram num
demorado abraço, perante a surpresa das duas amigas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Oh! Chico, que felicidade! Aqui, num
sítio tão distante! — Vitoriana, ainda tremendo e muito corada, iniciava uma explicação,
mas ambos acabaram por a proferir ao mesmo tempo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Somos amigos de infância!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Tantos anos sem saber nada de ti…
estás linda, aliás, estás ainda mais bonita!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Pára de me envergonhar, por qualquer coisa
continuo a ficar vermelha.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Oh! Que saudades! Temos muito que
falar, que recordar... Mais tarde? — E voltando-se para a Alice, — <i style="mso-bidi-font-style: normal;">qu'est-ce qu'il y a? Oh! </i>Desculpem lá, é
o hábito, então qual é a aflição?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Como te disse, roubaram a carteira da Teresa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— É grande o prejuízo?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Algum dinheiro, mas isso é o menos.
Grave é terem-lhe levado o Bilhete de Identidade e elas têm o regresso marcado
para amanhã ao fim do dia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— E cartões de crédito?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Felizmente mantinha-os à parte, numa
carteira sob a blusa. — Explicou a Teresa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Bem. Não deve ser difícil recuperar o
BI. Estes carteiristas pretendem sobretudo valores, o mais provável é colocarem
o que não lhes interessa num marco dos PTT.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Parou um pouco, tornando a fixar os
olhos da Vitoriana, o que lhe provocou novo rubor. Anunciou que tinha de
regressar à embaixada, que estava na sua hora do almoço e tinha compromissos de
tarde. Iria fazer uns contactos para a Police Nationale. Pediu os elementos de
identificação à Teresa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Dá-me todos os teus dados e o número
do BI, se te lembrares. E uma fotografia é fundamental. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Fotografia… como vou arranjar uma?
Onde haverá um fotógrafo?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Tens de ir a uma máquina PhotoMaton…
em qualquer estação <i style="mso-bidi-font-style: normal;">du Métro</i>. —
Ajudava a Maria Alice.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">— Sairei da embaixada perto das cinco da
tarde. Entrarei em contacto com a Alice para nos encontramos à noite. Podemos…
— de novo o seu olhar preso na Vitoriana — jantar juntos?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">Ela disse que sim com naturalidade, mas
interiormente pensava até num grande e repetido sim, sim. E de novo corou. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 12.0pt;">As outras anuíram. Despediram-se com um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">a tout a l'heur</i>, quer dizer, até logo!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10.0pt; font-variant: small-caps; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 14.0pt;">Em Praia de Buarcos, 2022</span></i></b><o:p></o:p></p><br />Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-83723748883543531572022-08-07T14:47:00.003+01:002022-08-07T14:48:30.885+01:00CASAS NO FORTE - Folhetim (8)<p style="text-align: center;"><b> Zé Marujo - Carpinteiro e Abegão</b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglPU8Zl6li0zhaC_4hl1GVqLKp7uXSBHI5VLxHYYdNtPyzpWHb5RtsiuIw_ASlU6sQHYGdgsM92ihDXu6L1yd1r8qmhePUEQkuOAXvc3hOHZOcsDq6Tsh3-NGzB37Hd_fGfS5ZbiQN6MghhEMenvJt19fr4wgT90jN66b1qt_wx76bhd1VkQ/s804/Laredo.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="804" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglPU8Zl6li0zhaC_4hl1GVqLKp7uXSBHI5VLxHYYdNtPyzpWHb5RtsiuIw_ASlU6sQHYGdgsM92ihDXu6L1yd1r8qmhePUEQkuOAXvc3hOHZOcsDq6Tsh3-NGzB37Hd_fGfS5ZbiQN6MghhEMenvJt19fr4wgT90jN66b1qt_wx76bhd1VkQ/s320/Laredo.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“As ondas vão e vêm num eterno vaivém”. Era o que a
avó lhe costumava dizer sempre que na conversa se falasse do mar. Dizia ela e
ainda é o que se diz. Mas não, ele não tinha a mesma opinião, não era verdade.
As ondas vêm, só vêm, não vão. Enrolam-se sempre na mesma direcção, ou seja, do
mar para a terra, para as rochas, para as praias. Verdade até quando a maré
vaza. E era nesta fase da maré vazia que José Alberto dos Santos, carpinteiro e
abegão, com costela de pescador da Fortaleza que lhe influenciou a alcunha de
Zé Marujo, instalado nas rochas perto da água, dava banho ao seu isco. Prendia
uma pedrinha furada junto ao anzol para garantir um bom arremesso e fazê-lo
afundar, pois sargos à tona d´água foi coisa que nunca vira. Iscava com minhoca
da pedra que apanhava no laredo e que misturava com terra grossa. Segurava-as
entre os dedos da mão esquerda para lhes enfiar o anzol com a direita. Era um
petisco para o peixe, mas desta vez o <i>pexinho tava bicoso,</i> bicava com a
ponta da beiçola e limpava o anzol sem se prender. Zé Marujo precisava de levar
pelo menos um sargo ou uma dourada para o jantar, como prometera à mãe. Queria
alternar às couves com toucinho. Mas as esperanças estavam a perder-se e o que
ele previa era um chibato daqueles. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Resolvera ir à pesca para pensar na conversa que teria
de ter com mestre Jacinto sobre a oficina. Assim que saíra da escola tinha ido
aprender o mister da carpintaria e abegoaria com o mestre Jacinto e tornou-se o
seu braço direito. Após o mestre ter tido aquele estúpido acidente que o
deixara incapacitado, ele sozinho dava conta da oficina. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Dedicou-se com todo o afinco ao trabalho. Se fosse
dele gostaria de modernizar o equipamento, comprar máquinas e um motor para
mecanizar a serração e o aparelhamento da madeira. Mas a oficina não era sua…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Resolvera abordar o assunto com o mestre Jacinto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— <i>Meste</i> Jacinto, estando como está e com a sua
idade, o que pensa fazer com a sua oficina?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Não penso grande coisa. — Respondeu-lhe o patrão. —
Quero é ficar sossegado, pois se já pouco posso fazer. Se aparecer alguém…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ficaram-lhe no ouvido estas últimas palavras. O mestre
Jacinto não se importaria de vender, mas o pior era o dinheiro. Nem sabia
quanto e muito menos como o obter. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Fixava os olhos na bóia, mas o seu pensamento estava
na oficina.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Zé mantinha o dedo indicador na sedela esticada à
espera de sentir qualquer subtil <i>esticanito</i> antes da cana vergar. E se
sentisse… puxava. Técnica do seu pai e que funcionava bem, mas não hoje, pois
se os gajos nem picavam. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Para ele chegava, decidiu-se. Estava ali já há tempo
de mais. Era assim, a sorte quando vem, nem sempre bafeja toda a gente, e muito
menos por igual. Neste caso, a sorte não é como as ondas do mar. Vem e… não
vem... Hoje não havia peixe no Penduradoiro de Baixo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Arrumou os seus materiais no seirão. Queria aproveitar
a maré baixa para ir ao laredo apanhar uns mexilhões, ou talvez algum polvinho
distraído. Se não, seriam outra vez papas ao jantar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tocou a mulinha pelo areão abaixo e foi prendê-la numa
pequena pedra em frente às Margaridas. Nas suas alpargatas de sola de corda,
depressa caminhou pelas rochas rasteiras até onde as águas batiam. Por ali não
andava mais ninguém. Com o peixeiro esgravatou uma pinha de mexilhões, e logo
outra e mais outra. Que belos! Grandes e recheados! Num instante ficou com o
seirão quase cheio, já bastavam. Ainda procurou numas frestas das rochas com o
gancho do seu peixeiro, mas nem o trapinho branco os atraía nem os polvos
estavam com disposição para o tacho. Não há peixe, não há polvo, mas vai haver
uma arrozada de mexilhão que até já lhe fazia crescer água na boca. A sua mãe
era uma artista na cozinha, tudo o que fazia lhe saía bem e então com uma
copada daquele vinho que trouxe dos Vales em paga do conserto da janela.
Regressou à praia e preparou a sua navalha para limpar as conchas. Era uma bela
apanha. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Carregou o seirão num dos lados da <i>gorpelha</i>,
prendeu o peixeiro no outro lado, junto à cana, e caminharam pela areia direito
à ribeira do Monte Clérigo por mor da mula beber. O animal bebeu demoradamente
e deixou de lhe cobiçar o barrilinho de barro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A seguir marchou pela ribeira acima. Olhou a
inclinação do sol, e pensou que chegaria à vila antes do fim do dia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não se enganara, mas já caía o sereno quando deixou a
mula na cavalariça. A mãe assomou ao postigo e perguntou-lhe se trazia peixe
para o jantar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Não ‘<i>nha</i> mãe trouxe mexilhões. Já estão
raspados e prontos a saltar para o tacho do arroz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Em pouco tempo já estava na mesa. A mãe ainda
trabalhara na Casa Grande satisfazendo o fino paladar dos patrões e das muitas
visitas, e por lá se manteve até à morte da senhora. Desde então remeteu-se à
sua própria casa e, depois da morte do pai, dedicou-se completamente ao filho
que ia agora nos seus vinte e dois. Ele cedo assumira o papel do homem da casa.
Nada faltava. O rapaz era trabalhador e habilidoso. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Um dos filhos da Casa Grande, tenente do exército,
intercedeu por ele e ficou isento do serviço militar alegando ser amparo de
mãe, o que até era verdade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Naquela noite, depois de despachada a arrozada de
mexilhão, Zé Marujo partilhou com a mãe a sua ambição e a angústia que isso lhe
fazia. Toda a tarde na rocha e no laredo não pensou noutra coisa. Fora à pesca
para pensar e não concluiu nada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— ‘<i>Nha</i> mãe, <i>qu’é qu’eu</i> faço? Não posso
perder a oficina… E se for outra pessoa a comprar e eu ficar de fora?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Amanhã é Segunda, é um bom dia para começar coisas.
Fala com o <i>meste</i> Jacinto. Pergunta-lhe qual a ideia dele. Propõe-lhe
pagares uma renda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Como se fosse uma courela onde um homem tem de
largar a pele para pagar as meias!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Mas é para começares, e depois logo vês! Quem sabe
ele esteja de acordo. Não deixa de ser o dono e receberá uma paga, sem
trabalhar. Tens de ser cauteloso, fazeres contas. Sabes quanto a casa cobra…
oferece-lhe a terça parte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Saiu e passou ainda na venda do Largo da Ponte e
bebericou um copinho de aguardente. O Ti João preparava-se para fechar e já não
estava ninguém para conversar. Era áspera a medronheira e arrepiou-se. O homem
disse-lhe, como a inspirar-lhe confiança, que viera do Mourão, e que até o
Presidente Carmona a tinha bebido aquando da eleição em Fevereiro, mas o Zé não
estava disposto a repetir a dose. Despediu-se e pôs-se rua acima. Amanhã era
Segunda-Feira, dia de começar coisas como dissera a mãe, e o Carmona não havia
de perceber grande coisa destas bebidas dos alambiques da serra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><br /><p></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-44819696909329621542022-08-07T14:44:00.001+01:002022-08-07T14:49:51.820+01:00CASAS NO FORTE - Folhetim (7)<p style="text-align: center;"> <b>Na Obra de Santa Zita - OSZ</b></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_FsqPJkniuzEtWK4KDScfx1NTdWdvhGPl8o3rPKHnPGRRO6CHf0nBYIcUmFvUgW2p_PSYGuXljUc0wGWbuqxNo7LPy6DwlSCiBZWsoiAxBdFsY8MxMsz81bH_-NKVR-DeZ2dx0GZueSyL0hT1ApNwt8Uun2khJM00wFzh8yjB6y-6NFqXJw/s480/OSZ.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="328" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_FsqPJkniuzEtWK4KDScfx1NTdWdvhGPl8o3rPKHnPGRRO6CHf0nBYIcUmFvUgW2p_PSYGuXljUc0wGWbuqxNo7LPy6DwlSCiBZWsoiAxBdFsY8MxMsz81bH_-NKVR-DeZ2dx0GZueSyL0hT1ApNwt8Uun2khJM00wFzh8yjB6y-6NFqXJw/s320/OSZ.jpg" width="219" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal">O táxi parou em frente ao número 35 da Rua de Santo António
à Estrela, eram sete e meia da tarde. Ao lado da porta uma placa metálica
indicava OSZ. Agostinho pediu ao motorista que esperasse um pouco, até que
abriram a porta e a Vitoriana entrou.<o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">Assim que passou a porta da entrada ela sentiu o maior
alívio da sua vida. Seria o início duma nova etapa. Mais um início, outro, o
verdadeiro. Encarou mulher que a atendera com alguma surpresa, estava vestida
duma maneira um pouco estranha: de cinzento-azulado, usava um avental com
peitilho e alças e na cabeça um lenço da mesma cor, rente à testa que lhe
tapava completamente o cabelo. Era seguramente uma farda. Seria uma empregada,
uma freira, uma irmã? Vitoriana explicou-lhe que vinha do Algarve, que vivia em
casa duma senhora idosa cujos filhos a tinham levado para Faro pelo que ficou
sem um teto. Tinham-lhe dado o prazo de uma semana para deixar a casa e era por
esta razão que ali estava. Precisava dum abrigo que pudesse servir de base para
procurar trabalho. Explicou que a senhora Gertrudes contribuía para as Casas de
Santa Zita e comprava sempre o calendário e o almanaque, por isso é que ela
conhecia a instituição e se lhes dirigiu.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">Ficou muito apreensiva face ao silêncio da mulher e, pior
ainda, face às caras que ela fez. Como quem dizia que estava com pouca sorte,
ou que a Casa estava cheia.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Trazes alguma carta de recomendação dessa senhora, ou do
padre da tua terra? É o costume, sabes?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Não tenho nada… — Balbuciou com receio. — A vila está sem
padre, só vai um de fora dar a missa aos Domingos. E a senhora Gertrudes,
coitada, foi para o hospital depois de ter dado uma queda… Agora não tenho para
onde ir…<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Senta-te aí e espera um pouco. Vou falar com a irmã Leonor
que ela é que decide estas coisas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">Sentou-se com os cotovelos sobre a mesa e a cabeça apoiada
nas mãos, numa atitude de quase desespero. Olhou o seu pequeno relógio, oferta
da senhora Gertrudinhas, passavam já uns bons quinze minutos desde que entrara.
Fez um rápido balanço daquele dia, o primeiro da sua nova vida. Teve sorte com
o Agostinho. Sem ele como é que se teria desenvencilhado? No Terreiro do Paço
ele agarrou logo um carro de praça. Ela hesitante e ele a dar-lhe confiança:
“Anda, eu levo-te lá”. Ela encandeada com tanta luz na cidade, todas a passarem
tão depressa. Parecia-lhe que os carros em sentido contrário vinham chocar com
eles. Ele acalmando-a: “Vai correr tudo bem, vais ver”. Ele prometera-lhe vir
no dia seguinte para saber com estavam as coisas. Tranquilizava-a. Até o
motorista ajudou: “Conheço a irmandade, na rua não a vão deixar ficar”.
Agostinho escreveu num papel a morada do tio, onde iria ficar até
Segunda-feira, e o número do telefone. “Se houver algum problema ligas para
este número”. Ainda tinha na mão esse papelinho, dobrado e redobrado. Ouviu um
rumor e guardou-o apressadamente no seu taleiguinho. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">Entrou uma mulher mais velha, com a mesma farda, seguida da
outra que a tinha atendido.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Boa tarde, sou a irmã Leonor. E tu és a Vitoriana!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Sim, sou a Vitoriana, venho de Aljezur. — Respondeu quase
gaguejando, não se sentia nada à vontade.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Somos quase da mesma terra, eu sou de Lagos, muito perto,
não é? — Tinha uma maneira doce de falar, o que a tranquilizou. E o facto de
ser do Algarve deu-lhe mais confiança.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— E hoje não tens onde ficar… Qual é a tua idade? Não tens
por cá família? Porque é que vieste ter connosco?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">Começava o interrogatório…<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Faço hoje
18 anos — mentiu. —<b> </b>Vim aqui porque a senhora que me adoptou comprava
sempre os calendários e os almanaques. Ela tinha uma grande admiração pela Obra
e eu fiquei conhecendo e sabendo a morada.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Ah! Foste
adoptada?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Não foi bem
uma adopção. A minha mãe morreu e eu fiquei sem ninguém. A senhora
Gertrudinhas, que era viúva, chamou-me para a sua companhia. — Vitoriana ia-se
descontraindo. — Estive com ela três anos, até ela ir para o hospital e os
filhos não me quererem na casa…<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Eras criada
dela. Sabes ler, ou não fizeste a escola?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Sim, sei ler e escrever, fiz a escola completa. E não era
criada dela, era a sua companhia, como se fosse da família. É claro que fazia
as tarefas domésticas com ela, era uma ajuda. — E acrescentou, com o objectivo
de fazer valer as suas competências. — Sei fazer tudo numa casa, limpar e
cozinhar. E também sei costurar e bordar com bastidor.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Hum! Estou a ver… Ficas connosco esta noite e amanhã
veremos o que se pode fazer. A tua situação é pouco vulgar e tenho que pensar
melhor. Vais com a irmã Francisca que te vai indicar uma cama. Aqui jantamos
pelas 7 da tarde, já passa da hora mas deve haver alguma coisa na cozinha. Até
amanhã, se Deus quiser.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">Levantou-se a irmã Leonor e logo de seguida a irmã Francisca
que lhe fez um sinal para que se levantasse também. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">Bem, pelo menos na rua não ficava. Seguiu a irmã Francisca
pelo comprido corredor até uma porta que por cima tinha uma chapa de esmalte
indicando “Camarata 3”. Era uma divisão quadrada, com seis camas, seis mesinhas
de cabeceira e seis armários, tudo de ferro pintado de branco, três de cada
lado. A irmã abriu uma fresta na janela dizendo que era para arejar, pois a
camarata não era ocupada já há umas semanas. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">— Ficas aqui, sozinha por enquanto. Como disse a irmã
Leonor, amanhã se verá. Agora vem comigo à cozinha.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">O jantar tinha sido canja de galinha com bastante arroz e
carne. Mais parecia um arroz de frango do que uma sopa. Estava delicioso! Era
uma boa maneira de terminar um dos dias mais desgastantes da sua vida. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: left;">Recolheu-se e dormiu profundamente. Acordou às seis da
manhã. Era outro dia…<o:p></o:p></p></div><p><br /><b><br /></b></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-7388565427658533332022-08-07T14:38:00.001+01:002022-08-07T14:39:35.100+01:00CASAS NO FORTE - Folhetim (6)<p><br /></p><div style="text-align: center;"><b> ANA ROSA DOS VALES</b></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;"><p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnwDJBYL3FsOZnyjnoecUBLqnhqOchbauFIGfU_t3dwqexJbC3yr_vDg-godpgMCsh77c3hllI0osGvpS0taQDIe5Is49zquP0S2vvNdR4oFbv-SwP50xEo6exzu4hoR0t-2_MdOGDWqMO67Lo_mq25WRBpYF6nDRDWBvBRxBP_cNRlDVDDA/s800/Carro%20de%20Mula.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="462" data-original-width="800" height="185" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnwDJBYL3FsOZnyjnoecUBLqnhqOchbauFIGfU_t3dwqexJbC3yr_vDg-godpgMCsh77c3hllI0osGvpS0taQDIe5Is49zquP0S2vvNdR4oFbv-SwP50xEo6exzu4hoR0t-2_MdOGDWqMO67Lo_mq25WRBpYF6nDRDWBvBRxBP_cNRlDVDDA/s320/Carro%20de%20Mula.jpg" width="320" /></a></div><p class="MsoNormal"><br /></p>Aos primeiros sinais da alva o Manel Carrapato já estava nos
Vales. Tratou de prender o burro numa parte do terreno para pasto e aparelhou a
mula ao carro. Pouco depois apareceu a Ana Rosa amparando o pai. Concluíram que
o <i>meste</i> Zé ia melhor deitado, que sofria menos com os saltos das rodas
no caminho irregular. Ambos ajudaram o homem a subir para a caixa de carga onde
se estendeu sobre umas sacas e com um travesseiro. Puseram-se a caminho,
devagar, Manel, sentado no varal quase encostado ao animal, contendo a
vivacidade da mula. Ana Rosa sentada no banco à frente, virada para trás,
vigiava o pai ajeitando-o de vez em quando para que se mantivesse mais
confortável. Na grande descida, Manel passou para o banco para controlar a
travagem. Era o mais perto que já alguma vez estivera da Ana Rosa. Ela ainda
virada para trás. Num solavanco foi inevitável um toque, ao de leve, mascarado
de ocasional. Ele diz “desculpe” e ela corando de novo “<i>meste</i> Manel” e o
pai, “ó <i>home, nâ</i> me deixe cair a moça” e ele de novo “ê cá tomo conta, <i>meste</i>
Zé”. Esta parte do caminho estava em muito mau estado pelo efeito das chuvas
que lavravam grandes regos cheios de <i>rabolos</i>. A cena repetiu-se. Desta
vez o solavanco provocou um ressalto na Ana que, assustada, se agarrou ao braço
do Manel, que ele reforçou com a sua mão sobre a dela. Foram escassos segundos
até ela retirar a sua. Manel sentia que a viagem estava a aproximá-los e era
preciso manter uma atitude respeitosa, mas de proximidade e não de afastamento.<o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal">No fim da ladeira do Vale da Maia o caminho da Fortaleza
entroncava no caminho de Lagos. Este, de maior importância, estava em melhores
condições e o carro já não solavancava tanto. No entanto ambos continuaram
ocupando a mesma posição na tábua atravessada que fazia de banco, tocando-se ao
de leve, ele vigiando o animal, ela com atenção ao pai que entretanto parecia
ter adormecido.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— M’na Ana Rosa, tá gostando da viaja? — Manel arriscava.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— <i>Meste</i> Manel, <i>tou sâ</i> senhora, já há <i>munte
tempe qu’ê</i> na saía do monte. Mas <i>tenhe muntes cuidades</i> com o mê pai<i>.
S’ele fecasse</i> bom, ai <i>s’ele fecasse</i> bom…<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Ana Rosa estava a ficar ansiosa, e não era apenas pela
expectativa relativamente ao pai, era também pela presença do Manel. Sentia que
havia qualquer coisa que ele lhe queria comunicar, sensibilizá-la, e receava o
que fosse. Não por medo, mas porque, intimamente, também esperava que sim, que
alguma coisa acontecesse. Já por mais de uma vez ele lhe aparecia nos seus
sonhos, perturbando-lhe o sono o que lhe marcava olheiras profundas, que à mãe
não passavam despercebidas. “Ana Rosa, Ana Rosa, <i>qu’olhêras som</i> essas?”
“Tou dormindo mal, minha mãe, à noite faço um chazinho de bela-luísa”, “Fazes
bem…”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Na venda à beira do caminho perguntaram pela benzedeira.
“Além, naquela curva, sai uma vereda à direita. Vão por ela e chegarão lá.”<o:p></o:p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">*<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— N’hora Zabel! N’hora Zabel! — Chamou o Manel, batendo as
palmas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— Lá vou, lá vou. — A resposta veio do fundo da casa,
anunciando um homem de grande estatura que apareceu com uma tenaz na mão; era o
Simplício. — <i>Qu’é</i> que se passa?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— Temos aqui o meu pai com umas grandes dores nas cruzes que
mal se mexe. — Ana Rosa explicou. — A gente vem da Costa do Mar, dó pé da
Fortaleza.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O Simplício foi buscar uma cadeira que pousou junto à
traseira do carro e mandou sentá-lo nela para se transportar para dentro de
casa, “…que aqui, à luz do dia, nada se faz.” <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— Vá lá, um, <i>doje</i> e três, força! — Os dois homens
levaram o <i>meste</i> Zé para dentro. — Vossemecês ficam lá fora. Isto agora é
comigo e mais a minha Zabel.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Manel libertou a mula do carro, deu-lhe de beber e
enfiou-lhe uma cevadeira para a manter entretida. Sentou-se no bordo do poço e
a Ana Rosa a seu lado. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— O <i>qu’é</i> que sará <i>qu’eles vom</i> fazer ó mê pai?<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— M’na Ana Rosa <i>teja</i> sessegada! Ele vai sair de lá
como novo!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Ana Rosa deixou escapar uma lágrima pela face e ele
condoeu-se. Ela precisava de apoio. Manel aproximou-se dela e, com o seu
polegar, limpou-lhe a lágrima. Ela recuou bruscamente. Ambos pensaram que podia
aquele gesto ser um abuso de confiança. Ele, que desculpasse; ela, que não
tinha dúvida. Ele, que não chorasse; ela fungando, que não conseguia. Ele
experimentando o seu braço no ombro dela; ela consentindo. Ele dando palmadinhas;
ela ainda a consentir. Ele chegando-se mais; ela sem se mexer. Ele puxando-a;
ela, deixando-se ir.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— Nhor Manel, <i>atão qu’é</i> isso? — Mas sem se afastar.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— M’na Ana é o coração…<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Olhou-a fixamente, procurando-lhe um olhar de aquiescência,
mas ela, cheia de rubor, baixou os olhos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— É o meu coração. <i>Vomecê</i> sabe <i>qu’eu</i> vivo num
casinhoto de empréstimo do Vitorino e comemos juntos. Preciso de dar uma volta
na minha vida, preciso de companhia. O sê pai precisa de ajuda. Quer dizer, a
sua <i>famila</i> precisa dum par de braços e eu tou aqui. E eu, eu preciso
duma <i>famila</i> minha. A gente, eu e menina, dá-se bem, a gente podia-se
entender. Diga-me lá…<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— Oh! Nhor Manel. — Ana Rosa ainda mais corada. — <i>Nã</i>
esperava nada… <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— O <i>home</i> <i>tá pronte</i>! — Gritou o Simplício da
entrada da casa, na pior altura.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">— Ai, se <i>nã</i> fosse ele! — Resmungou o Manel,
silenciosamente. — Se <i>nã</i> fosse ele inda lhe dava um beijo e ficava o
caso arrumado.<o:p></o:p></p><br /></div><p></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-74831771554519806282022-05-23T16:38:00.001+01:002022-05-23T16:38:16.908+01:00CASAS NO FORTE - Folhetim (5)<p> </p><p></p><p class="MsoHeader" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><o:p><span style="font-size: large;"></span></o:p></span></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: large;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeAJozciPvlc79Gr1JKIf--vr_tvafy4Qo8jlIBg2WqSnlcwK1lnP9OMcQ972HBP7uxcbBGphfAZUw5w41lyKiNOV8XeqUbHb1iEg2jjVD_M1zeftVz_NGRwNKHq47Af6y5RJhNfLxL16h3TEfC0Q3el7ppx8pkPgMzLjMf5LlwPr-4e0YzA/s333/Tabuleta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="277" data-original-width="333" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeAJozciPvlc79Gr1JKIf--vr_tvafy4Qo8jlIBg2WqSnlcwK1lnP9OMcQ972HBP7uxcbBGphfAZUw5w41lyKiNOV8XeqUbHb1iEg2jjVD_M1zeftVz_NGRwNKHq47Af6y5RJhNfLxL16h3TEfC0Q3el7ppx8pkPgMzLjMf5LlwPr-4e0YzA/s320/Tabuleta.jpg" width="320" /></a></span></i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: large;"><b style="font-variant-caps: small-caps; text-indent: -18pt;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></b></span></i></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-size: large;"><b style="font-variant-caps: small-caps; text-indent: -18pt;"><span style="font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><span style="font-size: large;">5. Uma Vida Nova</span></span></b></span></i></div><p></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Estendeu o olhar até ao fundo à procura de um lugar.
Preferia à janela, para se distrair com as vistas. A camioneta vinha quase
cheia, apenas o banco de trás satisfazia a sua preferência e para lá se
dirigiu. Sentia a curiosidade dos passageiros enquanto percorria o estreito
corredor até ao fundo. Ajeitou-se à ponta do banco, encostada à janela, colocou
a pequena maleta de viagem sobre as pernas e, na mão, uma bolsinha de retalhos.
Os seus parcos pertences.</span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ali ia ela a caminho do futuro, tão incerto…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Não teve despedidas. Apenas a Graziana, no outro lado da
estrada, lhe acenou e lhe fez um gesto de felicidades, com a mão no coração.
Não lhe tinha revelado, nem a ninguém, a sua intenção de partir, e muito menos
a decisão de o fazer neste final de Setembro de 1965, dia 29, data que no início do ano a senhora Gertrudinhas marcara no Almanaque
de Santa Zita, assinalando o seu aniversário. Era uma forma diferente de celebrar
os seus dezassete anos. Mas à Graziana não lhe escapou a sua intenção. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">O seu passado era para esquecer. A sua mãe agonizara no hospital
da Misericórdia, para onde a levaram. O pai partira para as franças e despediu-se
num postal ilustrado com “esquece-me para sempre que eu não volto” e a mãe
encolhera os ombros quando lhe entregaram o correio. Murmurando um “maganão”
entre dentes abraçou-se a ela suspirando, talvez com alívio “Já sabes que somos
só a gente”. Era finalmente uma mulher livre, mas a sua liberdade durou tão
pouco. Ao cabo de meio ano foi encontrada caída e inconsciente na margem da
ribeira, à Ponte Pedra, sobre o caixote da roupa que se preparava para lavar.
Acudiram-lhe outras lavadeiras mas a partir daí nunca mais foi gente. Que tinha
sido uma trombose, braço e perna mortos, e nunca mais recuperou o tino. Livre
do marido, ficava agora talvez, com liberdade acrescida, ao deixar este mundo
onde tão castigada tinha sido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Vitoriana procurava também a sua liberdade. Libertar-se da
maldade da tia-madrinha, que assim que a mãe adoeceu a pusera como criada de
casa e das filhas, umas inúteis preguiçosas e más. Não queria voltar para o
canto da despensa, onde a esperava a escuridão, o mofo da enxerga velha, as
alpergatas de sola de corda fosse Verão ou Inverno.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Tinha-lhe valido a boa alma da senhora Gertrudinhas que,
conhecendo as suas necessidades e os maus tratos a que era sujeita, conseguiu levá-la
para sua casa a troco dalgumas notas para a tronga da tia, responsabilizando-se
pela roupa e comida. Até então, aos doze anos, fora a melhor coisa que lhe
acontecera. A senhora Gertrudinhas precisava mais da sua companhia do que de
outros serviços.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Esteve com ela três anos que passaram tão depressa. Até que a senhora dera uma queda e o filho
a levou para Faro. Mas o sol põe-se todos os dias… e deu-lhe um mês para deixar
a casa. Mas sair para onde? De novo para a casa da bruxa da sua tia? Não. Nunca
mais. Mesmo que a Guarda a obrigasse, haveria sempre de fugir. Portanto, era o
tempo de cortar com essa vivência e arrumar a sua história num rol para
esquecimento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Começava assim uma nova vida, na camioneta dos Belos a
caminho de Lisboa. Esta Quarta-feira era o dia de cortar com o passado, assim
lhe ajudasse o Santo Antoninho, graças a Deus.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Uma apitadela e um solavanco marcaram o momento do arranque.
Alguns que ainda estavam de pé sentaram-se rapidamente. A camioneta fez a
curva, — um último olhar para a tabuleta assinalando Lisboa a 238 Km —, rodou
na ponte sobre a ribeira e lançou-se pela estrada da várzea, ou melhor, pela estrada
de Lisboa. Ia nervosa com a aventura… as suas únicas saídas da vila tinham sido
até Lagos, e sabia que Lisboa, a capital, não tinha nada a ver com a cidade
algarvia. A Graziana, que visitava quase diariamente na Central dos Despachos,
é que lhe dera as informações com que foi alinhavando o seu plano secreto,
quando em conversas triviais lhe punha as suas dúvidas “A última paragem da
camioneta não tem nada que enganar: é mesmo ao lado do embarque no vapor; e
depois são só três quartos de hora até chegar ao Terreiro do Paço”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">No Rogil entraram três rapazes, despedindo-se das famílias
com alarido, acenavam para a rua à medida que se deslocavam até ao fundo da
camioneta. Atiraram-se para o banco traseiro, brincando uns com os outros. Não
lhe tocaram sequer, mas sentiu-se incomodada. Além disso as caras não lhe eram
estranhas. Talvez das festas da Senhora D’Alva ou talvez da escola, pois havia
moços da Charneca que iam à escola da vila. Sim, devia ser da escola. Não se
aquietaram antes de Odeceixe. A camioneta parara e havia sempre movimento de
passageiros pelo que eles aproveitaram para sair. Pediram-lhe que desse um olho
nas coisas que deixaram a marcar os lugares. E ficou a vê-los na taberna a
bebericarem uns copinhos de anis. Continuou ela a vaguear pelo seu plano,
extraído direitinho de “Uma Vida Nova”, um folhetim que ela lia e relia para a
senhora Gertrudinhas, rindo-se ou comovendo-se, consoante, tsche, tsche...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Foi sobressaltada com o regresso dos rapazes. “Brigado”
murmurou-lhe um enquanto se sentava, desta vez com maneiras e mais próximo
dela.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Deu-lhe um toque de cotovelo e perguntou-lhe – Conheço-te da
escola, não é verdade? Andámos juntos com a menina Zabelinha, não te lembras?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Ela acenou apenas, afirmativamente. Já se tinha lembrado
dele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">— Eu sou o Agostinho. E Tu? Ana? Não, qualquer coisa a
acabar em ana, não é? És a Viviana, do cerro do Forte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader"><span style="font-size: large;">— Não. Vitoriana. Sou a Vitoriana, — respondeu, sem desviar
o olhar, rematando a conversa desejosa de retomar a solidão dos seus
pensamentos... Não estava disposta a grandes revelações, nem sequer ia permitir
a este Agostinho, um paspalhão que lhe aparecera de repente, nem a quem quer
que fosse, lhe entrasse pela alma a dentro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoHeader"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><o:p><span style="font-size: large;"> </span></o:p></span></i></p>
<p align="right" class="MsoHeader" style="text-align: right;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-variant: small-caps;"><span style="font-size: medium;">Praia de Buarcos, Nov 2021</span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></span></i></b></p><br /><p></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-35492853895032744602022-05-23T16:33:00.000+01:002022-05-23T16:39:44.390+01:00CASAS NO FORTE - Folhetim (4)<p style="text-align: center;"></p><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS0fO6-3qDIjk7hUjgtDUZMAkqGXgHz286qGbjCsfUARWqJyukLHHJdYqZKOXSTWF8W8FQZNoQnmqo1ICPGqjg6EpLT4X0hBhSxv0R6wCzutMABq9crkMs7pdkIrJWAMs8XdWC_m3wS61eWJ4TE1hS13uwDmr8_dUGR18NaoRoJRsNFn4XYQ/s444/UMM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="348" data-original-width="444" height="122" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS0fO6-3qDIjk7hUjgtDUZMAkqGXgHz286qGbjCsfUARWqJyukLHHJdYqZKOXSTWF8W8FQZNoQnmqo1ICPGqjg6EpLT4X0hBhSxv0R6wCzutMABq9crkMs7pdkIrJWAMs8XdWC_m3wS61eWJ4TE1hS13uwDmr8_dUGR18NaoRoJRsNFn4XYQ/w156-h122/UMM.jpg" width="156" /></a><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinoxDI6W3eU0d7-1ioDhxBQEtoavgM-JdbYyznMIQwbw_3y0A8n008jQebvzk63bWW8a8VHDTrobLvSayN0yVGhzdtKYPVNIVDqrBUjndmpvtzIhOs6X0FK7g1PKpO8MXZSrefiBM4IBNRxSXO6O3xk6-9JsgRbA92OYF0jeBwevffCyd5dw/s333/Mercedes%20180-PB.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: right;"><img border="0" data-original-height="244" data-original-width="333" height="138" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinoxDI6W3eU0d7-1ioDhxBQEtoavgM-JdbYyznMIQwbw_3y0A8n008jQebvzk63bWW8a8VHDTrobLvSayN0yVGhzdtKYPVNIVDqrBUjndmpvtzIhOs6X0FK7g1PKpO8MXZSrefiBM4IBNRxSXO6O3xk6-9JsgRbA92OYF0jeBwevffCyd5dw/w188-h138/Mercedes%20180-PB.jpg" width="188" /></a></div> <p></p><p align="center" class="MsoHeader" style="margin-bottom: 12.0pt; text-align: center; text-indent: -.25pt;"><b style="text-indent: -0.25pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-variant-caps: small-caps; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><span style="font-size: large;">4.
Já bateu!</span></span></b></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><o:p> </o:p>Francisco tinha estado a almoçar na Vila do Bispo com
o Joaquim Marreiros, seu velho amigo e colega de faculdade, com quem se
encontrava sempre que vinha até Aljezur. Invariavelmente atacavam uns percebes
e terminavam com uma massinha de peixe, comida leve porque era preciso manter a
forma. Aqueles almoços eram sempre um acontecimento, cabendo ao Joaquim a escolha
do peixe a confeccionar com a massa, especialidade da casa, caprichada pela Tia
Arminda. Reviviam episódios dos tempos de estudantes e também de trabalho, pois
ambos tinham entrado para o Ministério dos Negócios Estrangeiros no mesmo dia.
Joaquim saíra mais cedo e tinha-se estabelecido na sua terra natal como
advogado e solicitador, enquanto Francisco se tinha transferido para o corpo
das embaixadas e sido colocado em Paris.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Apressaram o café e a continha que dividiram, hábito
que lhes ficara de tempos mais magros. Despediram-se com um abraço e um “até
qualquer dia”. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Eram duas e um quarto da tarde; Francisco tinha de
estar no notário em Aljezur para uma escritura marcada para as quatro. Estava
com tempo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Pôs-se a caminho no seu jipe UMM, carro que mantinha
em boa forma, apesar dos muitos quilómetros já percorridos. O pouco conforto
era compensado pelo prazer de circular em todo o terreno. Quase sem dar por
isso, já a Carrapateira lhe aparecia a seguir à curva. Faltavam cerca de vinte
quilómetros para a vila. Era um sítio simpático este, e sempre que por ali
passava vinham-lhe à memória as férias dos seus oito e nove anos. Uns dias inesquecíveis
em casa dos tios, sempre disponíveis para o receber, tanto quanto a sua mãe o
autorizava a ir. Quando um dos tios aparecia na vila, pedia-lhe que o levasse…
para a casa do outro! O “programa” era sempre aliciante, fosse em que casa
fosse. No tio da aldeia, era frequente o levantar de manhã cedo, consoante a
maré, para ir à Praia do Amado fisgar uns linguados na rebentação. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Noutras ocasiões ficava no Casal do Bem Formoso, mais
conhecido por À dos Torres, propriedade dos outros tios. Lá as actividades eram
diferentes, cavalgar a mula em pelo — só com uma saca pelo lombo —, ou dar
comida aos bacorinhos e à criação, regar o milho e ainda abanhar no tanque de
regas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Divagando com ia, já a Bordeira ficara para trás. Nas
curvas da subida, estavam meia dúzia de carros parados atrás de um camião
carregado de cortiça. A carga precisava de ser aconchegada porque as cordas
tinham afrouxado. Cautelosamente os carros iam à vez ultrapassando o camião. À
sua frente estava um velho Mercedes 180 que arrancou lentamente com uma
fumaceira negra. A vinda de outro carro em sentido contrário fê-lo suspender a
ultrapassagem e recuar para o ponto donde arrancara. O condutor não conseguiu
controlar a manobra e acabou por bater com a traseira na frente do UMM.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Já bateu! — Exclamou o Francisco, mais interiormente
do que em voz alta.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">O jipe estava equipado com um guincho pelo que o
embate, justamente no gancho, fez saltar a tampa da mala do Mercedes que
lentamente se entreabriu, deixando ver o conteúdo: um carregamento de pacotes
de cigarros Marlboro. O condutor do Mercedes, baixinho e barrigudo, apressou-se
num saltinho para baixar a tampa da mala, mas esta não se prendia. Não
conseguindo evitar a revelação da suspeitosa carga, gritou ao seu acompanhante
que lhe trouxesse um cobertor do banco traseiro e com ele tapou atabalhoadamente
a mercadoria.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Vai lá ao camião pedir uma corda. — Gritou para o
seu acompanhante; e para o Francisco: — O senhor já viu bem o que fez? Se
tivesse mantido a distância nada disto tinha acontecido.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Desculpe lá, mas eu estive sempre parado. O senhor é
que recuou para cima de mim. Portanto, não me venha com essa conversa.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Entretanto pararam duas motorizadas. Os dois homens
cumprimentaram os outros dois, perguntando se havia azar e se era preciso
alguma coisa que eles até tinham visto tudo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Não é preciso nada, isto resolve-se já. Tou com
pressa; tenho pessoal à espera na vila.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— E eu tenho uma escritura em Aljezur daqui a meia
hora… — impacientava-se o Francisco.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">O do Mercedes percebendo que ao Francisco também lhe
interessava sair da situação rapidamente, propôs-lhe encontrarem-se no
Primavera ao fim da tarde. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Anotaram-se nomes e matrículas e assim fizeram um
intervalo no problema.<o:p></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: center;"><span style="font-size: large;">*<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">A papelada estava toda em ordem e a escritura
resolveu-se rapidamente. Conhecia o vendedor desde sempre, João Maria, filho da
Ti Amélia, e acabaram no Primavera para fechar a transacção com uma cerveja. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Bebericavam e conversavam até que , à porta apareceu o
do Mercedes.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Ah! Já cá está! – E dirigindo-se ao João Maria, — e
tu, conheces este senhor! Sabes que ele me amachucou o carro?<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Espere lá! Eu estava parado e o senhor é que recuou
para cima de mim. Pensei que isso tinha ficado claro.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">O do Mercedes sentou-se à mesa, sem cerimónia, e pediu
uma Sagres.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Conheço este senhor, e tu também. Andámos juntos na
escola. Não te lembras do Chico Marujinho?<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— O Chico Marujinho?! — Surpreendeu-se o do Mercedes.
— Eh pá! Estás tão diferente, e a barba…<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— E tu, quem és? José Moreira — recordando a anotação
— não me lembro.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Pois calculo que não, que não te lembres. Morava
aqui, no Degoladoiro… — Apontou para a colina; e passando o lenço de mão pela
cabeça lisa, acrescentou em desabafo que, noutro tempo, tinha mais cabelo. Zé
da Moleira.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Ah, sim, olhando-te melhor… O Zé da Moleira!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Na estrada tinha-lhe ficado aquela impressão que, mais
cedo ou mais tarde, nos invade a todos. “Parece-me uma cara conhecida. De onde
é que o conheço? Será da tropa?”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Sim, sem dúvida. Imaginando-te naquele tempo. Então
o que fazes agora, moras por cá?<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Olha, cá e lá! Tenho por aqui uns frigoríficos e
compro percebes e lagostas para umas cervejarias de Lisboa.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— E quanto ao toque no carro? Estive a ver o teu jipe
e não se nota nada! O que ficou pior foi o meu Mercedes que tenho de mandar
arranjar.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Mas foi um acidente? Como? — O João Maria esperando
pormenores.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Ao que o Zé da Moleira respondeu: “Foi aqui o Chico
que me deu cabo do fecho da mala”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Outra vez! — Interrompeu o Chico. — Eu estava
parado. Se quiseres fazer a Participação Amigável, faz-se.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Eh! Deixa, ficamos assim. Cada um paga o seu e
pronto. — E aproximando-se do ouvido do Chico — E tu também não viste nada, não
é? Quero dizer, não tiveste tempo de ver nada.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Tu viste que eu vi e eu sei bem o que vi. Portanto…—
Chico, encolhendo os ombros, mas querendo deixar claro que a situação poderia
trazer complicações para o outro.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">O João Maria virava a cabeça ora para um ora para o outro,
sem perceber bem o que se estava a passar.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Bem… Então ficamos quites ou não? Olha, gostei de te
voltar a ver. Pagas a minha cerveja. Vou à minha vida.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Chico viu com alívio o afastamento da melga do Zé da
Moleira. “Ficamos quites!”. Lata não lhe faltava. Por ele estava bem.
Acabava-se de vez com aquele assunto que até se podia complicar… para o
“exportador de marisco”, claro. No entanto não quis fazer grandes adiantamentos
ao João.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Queres mais uma? Ah não? Então vamos andando? Olha, arranja-me
lá os contactos desses amigos, pode ser que me façam a obra.</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p><p style="text-align: right;">
<b><i><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; font-variant-caps: small-caps; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: 115%;">Praia de Buarcos, OUT 2021 </span></i></b></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-39123678386406054772022-05-23T16:26:00.000+01:002022-05-23T16:39:51.585+01:00CASAS NO FORTE - Folhetim (3)<p style="text-align: center;"> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsV1MElWBufVjJp6OnE6w0Tjd0BfHFfOptOBmPkTohCPcYL5q1E_kLrMaDfVGPafKvKZCxOYhmaz8EYHBCxt8piPxQMgag21DgGAz3sKClc_8AgAelfOXfGlPXrxtohxonEZ0o9y31IdAp-HxaxgSijWdib9CM7loyZHcT7e4hz1fRBkgYmg/s800/Fortaleza%20PorSol%20PB.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="446" data-original-width="800" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsV1MElWBufVjJp6OnE6w0Tjd0BfHFfOptOBmPkTohCPcYL5q1E_kLrMaDfVGPafKvKZCxOYhmaz8EYHBCxt8piPxQMgag21DgGAz3sKClc_8AgAelfOXfGlPXrxtohxonEZ0o9y31IdAp-HxaxgSijWdib9CM7loyZHcT7e4hz1fRBkgYmg/s320/Fortaleza%20PorSol%20PB.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p></p><p align="center" class="MsoHeader" style="margin-bottom: 12.0pt; text-align: center; text-indent: -.25pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt; font-variant: small-caps;">3.
Da Zimbreirinha à Praia da Fortaleza</span></b><span style="text-align: left;"> </span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="mso-fareast-language: PT; mso-no-proof: yes;"><v:shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter">
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0">
<v:f eqn="sum @0 1 0">
<v:f eqn="sum 0 0 @1">
<v:f eqn="prod @2 1 2">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @0 0 1">
<v:f eqn="prod @6 1 2">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="sum @8 21600 0">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @10 21600 0">
</v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:formulas>
<v:path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f">
<o:lock aspectratio="t" v:ext="edit">
</o:lock></v:path></v:stroke></v:shapetype><v:shape id="Imagem_x0020_1" o:spid="_x0000_i1025" style="height: 201.75pt; mso-wrap-style: square; visibility: visible; width: 361.5pt;" type="#_x0000_t75">
<v:imagedata o:title="" src="file:///C:\Users\CarlosM.M\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image001.jpg">
</v:imagedata></v:shape></span><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">O sol ia-se aproximando da linha do horizonte, pintando
à superfície das águas a longa estrada que em sonhos nos levaria até ele,
senhor da luz… e do seu contrário, já que as trevas só existem quando ele
adormece. A estrada dourada morria na praia. Esta, por sua vez, não era mais do
que uma estreita faixa de areia estendendo-se entre os rochedos que entrando
pelo mar, fechavam a baía, ornada a sul pela sentinela gigante que é a Pedra da
Agulha. Do cimo da falésia, dominava-se toda aquela imensidade de água
verde-azulada que acariciava a areia e beijava as rochas com uma doçura pueril.
Pela encosta abaixo ficavam os casebres disformes dos pescadores; casas que haviam
primeiramente sido construídas de braceja seca, colhida no barranco que, em
tempos de invernia, corria para a praia do Monte Clérigo. Posteriormente, à
custa de muito esforço e ajudas, foram lentamente levantadas as paredes,
tabiques de barro e pedras, um tipo de taipa mais estreita e rudimentar.
Desprezavam qualquer embelezamento e até alinhamento com casas vizinhas e
distribuíam-se em socalcos que os pescadores foram escavando e murando,
transformando veredas em dois metros de rua.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">As crianças, poucas, costumavam brincar na praia.
Corpos nus, inocentes, rebolavam-se na areia e na espuma da babugem; os mais
crescidotes já desafiando o mar, cortavam as ondas com agilidade. Depressa
adquiriram a destreza que lhes viria a ser indispensável quando, maiorzinhos,
integrassem a companha do bote familiar. Exibiam a sua pele escura, curtida
pelo sol e pelo salitre, mais vezes molhada com água salgada do que com água
doce, tão escassa e trabalhosa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Os homens trabalhavam de dia ou de noite, conforme as
marés e o tempo. Firmes mesmo quando o mar os fazia dançar, deitavam as redes
ou os aparelhos presos a bocados de cortiça amarrados uns aos outros, com uma cana
que às vezes tinha um trapo colorido para ajudar a localização e a propriedade,
honestamente respeitadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">As mulheres, na sua maioria, ocupavam-se das casas e
da família. Tinham a seu cargo preparar as refeições, incluindo o farnel, e o
abastecimento da água, recolhida em enfusa na rocha-sul. Era sua a
responsabilidade por escalar e secar para conserva as moreias, os polvos, as
lulas e as arraias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Os mais velhos, quando já não iam ao mar, ajudavam na
feitura e no conserto das redes, ou empatando os anzóis nos terminais da sedela
para a preparação dos aparelhos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">A vida era monótona na Fortaleza. Meia dúzia de
casebres para uma dúzia de famílias. Muitos gatos e muitas galinhas e, numa
zona mais afastada, a fila de pocilgos onde algumas das famílias criavam o seu
cevão para o Inverno. Havia também a venda do Vítaro, que afectara ao negócio a
cabana que tinha sido do burro, mobilando-a com dois bancos junto à parede e um
tosco balcão de tábuas que o mar lhe trouxera. O Vítaro teve de deixar o mar
quando naufragou durante um temporal. Era um homem muito precavido e quando o
mar ficou mais agitado enrolou à volta da barriga um largo cinturão que tinha
preparado com cordas e bocados de cortiça. Naufragou e foi um milagre o seu
salvamento. O mar foi depositá-lo, inconsciente, na Boca da Barra, levando-o pelo
rio acima até aos Salgados onde foi recolhido pelo lavrador do Bertual. Com um
ombro escangalhado nunca mais recuperou a força no braço, nem voltou à faina.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Pouco antes, no ano de 1840, ali desembarcou o Manuel
Francisco, também conhecido por Manel Carrapato. Natural da Carrapateira
dedicava-se à pesca no portinho da Zimbreirinha, num bote a meias com o seu
irmão. Em dia de mar cão, não conseguiram controlar o bote e este despedaçou-se
contra o rochedo. O irmão morreu e ele ficou por lá, sem barco nem trabalho. Os
da Fortaleza passavam pela Zimbreirinha de vez em quando e um dia em que ajudou
o Vítaro com os covos, seguiu com ele e mudou o poiso, mendigando a
subsistência em troca de pequenos trabalhos. Acabou por ser a ajuda do Vítaro
quando este ficou incapacitado: habilidoso de mãos foi ele quem lhe preparou
uma nova cabana para o burro e lhe amanhou os bancos e o balcão para abrir a
venda. Era com a sua força que o taberneiro contava e acompanhava-o nas suas
deslocações semanais à Azia, para ajudar a carregar o burro: dois barris de 50
litros de vinho tinto e branco e mais dois pequenos com a medronheira.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Com estas práticas acabou por propor ao amigo uma
sociedade: o Vítaro entrava com o burro e ele garantiria o abastecimento do
vinho, ao mesmo tempo que levava peixe para vender na vila e se encarregava de
outros mandados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Saía de madrugada para chegar à vila ainda manhã cedo.
Fazia uma paragem no Monte dos Vales, como toda a gente que por ali passasse,
para uma sede de água, desta que tinha fama e que tirava do poço com o caldeiro
de folha que partilhava com o burrico. A sua venda começava ali. A patroa ou a
filha, a Ana Rosa de olhar doce, esperavam já por ele para um gudião ou um
safio para as batatas de caldo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">Fosse qual fosse o tempo, chuva ou sol, com uma saca
enfiada pela cabeça ou apenas com um gorro, seguia pelas veredas até à encosta
do Castelo e descia pelo rua do Degoladoiro. Levava consigo um grande búzio que
tocava a anunciar a sua chegada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt;"><span style="font-size: large;">— Mest’e Manel, o qué que traz hoje? O mê home só me
pede moreia. Arranje lá uma.</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 3.0pt; text-align: right;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-variant: small-caps;">Praia de Buarcos, Abr2021</span></i></b><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;"><o:p></o:p></span></i></p><br /><p></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-67875338724354266322022-05-23T16:22:00.001+01:002022-05-23T16:23:43.931+01:00CASAS NO FORTE - Folhetim (2)<p> </p><p style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjg59Mqh-knFqbe4vhQSoNdWlsW4fPrzAa6pQlI0JOA_muarVDA9UMkIWEeovRg8fW9M0687u58Rebs_62hM2dzT3eyiy5GGLBW_Y8CTllU3YEqRsv7Qmx5IyFyfTa8WCT0k3CNuHjIwZ6ZuD4eCWNnAWXrJIFyl2q-QZuukKJEL8IA4FJQZw/s839/Lagos.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="459" data-original-width="839" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjg59Mqh-knFqbe4vhQSoNdWlsW4fPrzAa6pQlI0JOA_muarVDA9UMkIWEeovRg8fW9M0687u58Rebs_62hM2dzT3eyiy5GGLBW_Y8CTllU3YEqRsv7Qmx5IyFyfTa8WCT0k3CNuHjIwZ6ZuD4eCWNnAWXrJIFyl2q-QZuukKJEL8IA4FJQZw/s320/Lagos.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p align="center" class="MsoHeader" style="margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; margin: 0cm 0cm 12pt 35.7pt; text-align: center; text-indent: -17.85pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-variant: small-caps;"><span style="font-size: medium;">2.<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O Exame de Admissão de 1958<o:p></o:p></span></span></b></p>
<p align="center" class="MsoHeader" style="margin-bottom: 12pt; text-align: center; text-indent: -0.25pt;"><span style="font-size: medium;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-variant: small-caps;"><v:shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter">
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0">
<v:f eqn="sum @0 1 0">
<v:f eqn="sum 0 0 @1">
<v:f eqn="prod @2 1 2">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @0 0 1">
<v:f eqn="prod @6 1 2">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="sum @8 21600 0">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @10 21600 0">
</v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:formulas>
<v:path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f">
<o:lock aspectratio="t" v:ext="edit">
</o:lock></v:path></v:stroke></v:shapetype><v:shape id="Imagem_x0020_1" o:spid="_x0000_i1025" style="height: 182.25pt; mso-wrap-style: square; visibility: visible; width: 333pt;" type="#_x0000_t75">
<v:imagedata o:title="" src="file:///C:\Users\CarlosM.M\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image001.jpg">
</v:imagedata></v:shape></span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-variant: small-caps;"><o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Eram apenas cinco: o Tóino das Ovelhas, o Arménio do
Rogil, o Zé Manel da Igreja Nova, o Ruizinho de lá por trás e ele, Francisco
José Marreiros, também conhecido por Chico Marujinho. Juntavam-se ao fim da
tarde em casa da Dona Inácia para se prepararem para o exame de admissão.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Estudavam a lição, esclareciam os significados e
faziam a análise gramatical; ela em seguida questionava-os: <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">— Qual é o sujeito da primeira oração? E o complemento
directo? Cantem-me agora os pronomes demonstrativos, bem afinados e sem enganos!<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Exercitavam a Aritmética com contas de horas, áreas e
volumes; reviam a História com as Dinastias, os Reis e os seus cognomes e
entravam na República com relevo para o Estado Novo, cujas principais figuras —
Craveiro Lopes e Salazar — ilustravam em folha inteira os seus livros.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">— Não se esqueçam que o General Craveiro Lopes é o
Senhor Presidente da República, o mais alto magistrado da Nação, e que o Primeiro-ministro
é o Senhor Doutor António de Oliveira Salazar, o salvador da Pátria.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">— Porque é que ele é o salvador da Pátria? — Era o Zé
Manel, o “Curioso”.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">— Porque sim. Olha porque se não fosse ele Portugal
tinha entrado na Guerra. — E apontando para cada um deles — E o teu pai, e o
teu e o teu teriam ido de espingarda ao ombro; e até podiam ter morrido!<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">E com estas respostas lhes arrefecia a pouca curiosidade
que os temas suscitavam.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">O que se dava naquelas explicações era tudo o que já
tinha sido dado na escola e o que ainda estavam a dar. Talvez mais aprofundado;
um pouco mais que meras revisões para avivar a memória. A professora insistia
em que se devia saber tudo de cor. Os rios e as serras, as linhas e os ramais
do caminho-de-ferro, os distritos e as suas capitais, o corpo humano e os seus
diversos aparelhos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Era tudo muito a sério com a Dona Inácia, que nunca
sorria, não dava confiança. Ali não havia reguadas, mas se algum se distraísse
tinha garantido uma palmada na nuca ou até, como aconteceu com o António quando
apareceu com mais de uma hora de atraso, um puxão de orelhas que ele até
chorou. Por mais que se justificasse com o tresmalho das ovelhas, de nada lhe
valera. Não foi por isso com certeza, mas os pais dele desistiram alegando que,
naquela altura, precisavam da sua ajuda para o pastoreio dos bichos, e assim
ele se libertou deste esforço e clausura.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">As explicações tinham lugar naquela casinha fria no
quintal da Dona Inácia desde as férias do Natal. Era uma espécie de despensa
onde guardavam a fruta, as abóboras e os potes do mel. O pote que estava a uso
pingava da torneira para um pequeno alguidar de barro onde passavam o dedo
indicador sempre que a professora se ausentava.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">O exame de Admissão era uma etapa obrigatória para
aqueles que queriam continuar a estudar. O Chico e o Arménio iriam fazê-lo em
Lagos, na Escola Industrial e Comercial, pelos finais de Julho, os outros foram
para o Liceu de Portimão.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Os 31 km que separavam Aljezur da cidade eram, naquele
tempo, uma barreira de difícil transposição. O Chico e a mãe foram na camioneta
dos Belos, uma daquelas que tinha o nariz saído. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">A última paragem era no “Largo das Camionetas”. Lá
estava à espera uma prima do Chico que os levou para a sua casa na Rua dos
Peixeiros onde ficaram alojados.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Nessa mesma tarde ainda foram conhecer a escola, num
passeio familiar. Grande edifício, tão diferente daquele a que estavam
habituados. Porta larga, corredor comprido com muitas portas, um grande pátio do
recreio e, não se via nenhuma senhora Marcolina, de cana-da-índia na mão! Apontaram-lhes
a lista afixada onde já estavam os nomes e, para cada um deles indicava o
número da sala onde se realizariam os exames.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">As provas escritas estendiam-se por toda a semana, dia
sim, dia não e começavam já no dia seguinte, às nove horas, depois era
necessário esperar pelas provas orais. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Terça-Feira. O caminho para a escola não tinha nada
que enganar e era perto, o Chico foi sozinho, sem escolta familiar.
Penteadinho, com um pouco de brilhantina, revia mentalmente o Caderno de Problemas.
Ia ser o exame de Aritmética. Estava tranquilo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Afinal a prova fora mais fácil do que se esperava.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">— Correu-te bem? — Perguntou ao Arménio. — Olha, a mim
correu, fiz tudo.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">— A mim também. Quanto te deu o custo das maçãs no
primeiro problema? A mim deu-me três e quinhentos.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">— Deu-me o mesmo, estamos certos! E agora onde vais? A
seguir ao almoço, vou passear até à praia da Batata, não queres vir?<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">E foram mesmo. Encontraram-se no largo e seguiram pela
Rua da Barroca. Estava um esplêndido dia de Verão e não resistiram ao calor. O
mar parecia a ribeira na Ponte Pedra! Despiram-se e foram ao banho em cuecas,
descontraídos e sem vergonhas.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">As provas continuaram. A última, antes da oral, era a
de Desenho. Era preciso lápis e uma borracha nova e foram comprá-los à
Papelaria Paula, que era a casa verde no largo do Camões, que já conheciam. Tanto
o Chico como o Arménio tremiam literalmente e, como a quem treme lhe treme o
risco, ficaram ambos receosos. O Arménio teve de desenhar uma cafeteira e o
Chico uma garrafa. Eram as peças mais difíceis por causa da simetria dos lados.
Gastando muita borracha lá conseguiram equilibrar, mal ou bem, os contornos do gargalo
e a asa da cafeteira. Estava feito e já não se podia apagar mais.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Mais uns dias de praia até que marcaram as provas
orais e lá foram, por ordem alfabética, fazer o competente brilharete. As salas
enchiam-se de pessoas que queriam assistir às provas. Os candidatos ocupavam a
primeira fila. Havia uma carteira livre, destacada das outras, onde se sentava
o aluno que era examinado. Estavam dois professores numa mesa sobre um estrado.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Ia começar. Um dos professores chamou: “Arménio,
senta-te aqui.” Lançaram algumas perguntas de História, depois de Ciências, e
por aí fora. O Chico acompanhava as questões respondendo mentalmente, “é
afluente do Tejo”, “nasce na Serra do Caldeirão ou Mú”... Foi a seguir. A mesma
coisa mas com perguntas diferentes. Quiseram ouvi-lo ler e trouxeram-lhe um
livro aberto num texto de História. Mantendo o tema perguntaram-lhe quem tinha
sido o pai do Infante D. Henrique e quem sucedera a D. João I. Tudo matérias
que ele bem sabia. Nas ciências nem gaguejou. Tudo lhe saiu bem.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Despachado aquele grupo tiveram que esperar um pouco
pelos resultados. Aprovados! Nem muito, nem pouco, apenas aprovados. Ficaram
radiantes. A mãe do Arménio deu-lhes os parabéns e puxou o filho dizendo:<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">— Vamos filho, já está ali o carro de praça.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">Assim se cumpria o caminho para o futuro, uma etapa que
viveram com uns belos e inesperados dias de férias em praia de poucas ondas,
nada como as do Monte Clérigo!<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; line-height: 115%;"><span style="font-size: large;">O Chico e a mãe regressaram no dia seguinte. Orgulhoso
ele, e a mãe que nem menos.</span><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 3pt; text-align: right;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-variant: small-caps;">Praia de Buarcos, Abr2021<o:p></o:p></span></i></b></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-4821378578333001102022-05-23T16:17:00.006+01:002022-05-23T16:17:40.546+01:00CASAS NO FORTE - Folhetim (1)<p> </p><p></p><p align="center" class="MsoHeader" style="margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center; text-indent: -17.85pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYWTaTmto4hxeAuDyhOfGj3r-m13q7cbI88mGOeAH76PPf3BgsLcfWmYFreCMBEaTi1cyBBimQ_yPAtl2-EivFyWnRmnXORWnyW8-FVjnDRwLcGB-4eiMme-7MZoVH4VmYRUKo1OEVeIXtzwl8Rly6vpC0thtgte_dTOeiGaBpxkKk4CknOA/s453/Casas.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="365" data-original-width="453" height="258" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYWTaTmto4hxeAuDyhOfGj3r-m13q7cbI88mGOeAH76PPf3BgsLcfWmYFreCMBEaTi1cyBBimQ_yPAtl2-EivFyWnRmnXORWnyW8-FVjnDRwLcGB-4eiMme-7MZoVH4VmYRUKo1OEVeIXtzwl8Rly6vpC0thtgte_dTOeiGaBpxkKk4CknOA/s320/Casas.png" width="320" /></a></b></div><p align="center" class="MsoHeader" style="margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center; text-indent: -17.85pt;"><b style="text-indent: -17.85pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; font-variant-caps: small-caps; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><br /></span></b></p><p align="center" class="MsoHeader" style="margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center; text-indent: -17.85pt;"><b style="text-indent: -17.85pt;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-variant-caps: small-caps; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"><span style="font-size: large;">1. Reencontro</span></span></b></p>
<p align="center" class="MsoHeader" style="margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 35.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: center; text-indent: -17.85pt;"><span style="font-size: large;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-variant: small-caps;"><v:shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter">
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0">
<v:f eqn="sum @0 1 0">
<v:f eqn="sum 0 0 @1">
<v:f eqn="prod @2 1 2">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @0 0 1">
<v:f eqn="prod @6 1 2">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="sum @8 21600 0">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @10 21600 0">
</v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:formulas>
<v:path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f">
<o:lock aspectratio="t" v:ext="edit">
</o:lock></v:path></v:stroke></v:shapetype><v:shape id="Imagem_x0020_1" o:spid="_x0000_i1025" style="height: 197.25pt; mso-wrap-style: square; visibility: visible; width: 244.5pt;" type="#_x0000_t75">
<v:imagedata o:title="" src="file:///C:\Users\CarlosM.M\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image001.png">
</v:imagedata></v:shape></span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-variant: small-caps;"><o:p></o:p></span></b></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;">O Forte é um cerro</b>.
Não tão alto como o do Castelo nem como o do Mosqueiro, mas que com estes dois
constituem os baluartes da Vila, proporcionando uma muralha de abrigo natural
dos ventos do mar, lá por trás. É por esta razão natural que a Vila se
desenvolveu nas suas encostas viradas a nascente. Nestas encostas os
arruamentos não eram mais que uns estreitos corredores, com os casebres apenas
no lado da encosta e, pela frente, o desnível era aproveitado para a instalação
de estrumeiras, de galinheiros, patamares para os monturos, às vezes quase se
encostando às traseiras das casas dos vizinhos. Esta geografia urbana
manteve-se até à actualidade com pequenas alterações. Excluindo um número
reduzido de ruas nas zonas menos íngremes, as outras permitiam estender o
horizonte pela várzea e pela Igreja Nova até à Serra de Monchique ou, um pouco
mais a nordeste, pelas pequenas colinas que ladeavam o Carrascalinho e a Aldeia
Nova. A várzea da frente, rectangulada em tamanhos diversos, terra rica e
escura, que recebe das ribeiras do Areeiro, das Alfambras e da Serra a bênção
das suas cheias, fertilização natural para mitigar as carências familiares. Era
uma área considerável dividida em pequenas parcelas, as hortas, que consumiam o
tempo de todos os familiares pois, se a várzea dava tudo, esse tudo só vinha
como retribuição do trabalho assíduo, permanente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Tinha saudades da subida a pé, desde o Largo da Câmara
antiga, agora transformada em Museu Municipal. A mãe e a avó estavam sempre a
mandá-la fazer recados, ir à mercearia ou à loja e ela descia em correrias e
regressava… mais devagar, entretendo-se com outras da sua idade. Mas os tempos
já não eram os mesmos. Encheu o peito de ar e fez-se à ladeira, subindo em
ziguezague, técnica que o avô usava para aliviar o esforço dos bois ao puxarem
as carretas. A meio da subida cortou pela direita e parou em frente do antigo
Registo Civil, lembrando o senhor da perna tesa, com o cigarro já apagado
colado aos lábios, e o outro funcionário, tão meticuloso e demorado nas suas
certidões, que ela e as outras ouviam-no, pela janela, lendo e repetindo cada
palavra à medida que a escrevia com a sua invejável caligrafia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Mais um bocado de ladeira e chegaria à sua casa. Aquela. As
barras azuis mal se distinguiam na parede da frente a perder o cafelo. A oliveira
que o seu avô plantara ainda lá estava, desgrenhada, integrava-se na paisagem
que aquele “miradouro” abria sobre a várzea, salientando a profundidade do
horizonte. Era a mesma paisagem, a de sempre. Aquela que ela deixara há mais de
trinta anos. A sombra dos montes da Vila na várzea marcava a hora e, neste
momento, acabara de entrar na courela do mestre Manel Hilário; eram portanto
quatro horas. O sino da igreja matriz badalou a confirmação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Lançou o olhar para a Igreja Nova; estava maior, mais casas
embora com arquitecturas que nada têm a ver com a traça tradicional, ruas
regulares, em volta da igreja e ao longo da ladeira. Já lá tinha estado, a
almoçar. O Largo, antes tão grande que podia conter a feira anual e os
mercados, que se diziam grandes naqueles tempos, era agora um minúsculo recinto
que se enchia com meia dúzia de carros e duas esplanadazinhas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Aproximava-se da casa. Era a mais decadente, abandonada, e o
palheiro do burro, do lado de cá, não tivera melhor sorte. A da vizinha Adélia
tinha sido restaurada, talvez por isso a casa lhe parecia muito mais pequena.
Pela frente tinha apenas a porta, com postigo, e uma janela, a única janela,
por onde ela, colada à vidraça, costumava espreitar a chuva e os reguinhos de
água.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">Em frente da porta rebuscou na sua mala de mão e retirou um
pequeno taleigo de retalhos onde guardava a chave da casa, grande e antiga,
oxidada. Apontou ao buraco da fechadura mas estava atulhado de papéis
amassados. Subiu-lhe uma irritação pelo estômago acima e não pôde conter um impropério.
Mas era apenas um pequeno contratempo que a tesourinha do seu estojo de unhas
resolveria facilmente. Bem, não tão fácil assim, mas um bom quarto de hora
depois já a chave entrava na fechadura. Estava muito perra. Com cuidado deu uma
volta, e depois outra. Apenas duas voltas numa fechadura tão grande. A porta
rangeu e não se deixou abrir mais do que metade: estalou nos gonzos e seria
necessário levantá-la um pouco para desbloquear. Sim, era a mesma porta, com os
mesmos defeitos. As coisas não se consertam sozinhas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: large;">‑ És tu, Vitoriana?</span><o:p></o:p></p>
<p align="right" class="MsoHeader" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 3.0pt; text-align: right;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-variant: small-caps;">Praia de Buarcos, Mar2021<o:p></o:p></span></i></b></p><br /><p></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-90250247124907440582022-05-23T15:24:00.001+01:002022-05-23T15:25:29.527+01:005. COMO SE DESCREVIA ALJEZUR EM 1927<p><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span> <i style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;">por
CarlNasc</span></i></p>
<p align="right" class="MsoHeader" style="text-align: right;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"></span></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><a href="https://1.bp.blogspot.com/-op7ySRxV93c/YJUpOY2p_EI/AAAAAAAAAWE/YHskFFH7y_w7InAi43GwjOsE5sEEYZlogCLcBGAsYHQ/s200/Guia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="137" height="234" src="https://1.bp.blogspot.com/-op7ySRxV93c/YJUpOY2p_EI/AAAAAAAAAWE/YHskFFH7y_w7InAi43GwjOsE5sEEYZlogCLcBGAsYHQ/w160-h234/Guia.jpg" width="160" /></a></i></div><i> </i><p></p><h2 class="date-header" style="background-color: #fff3db; color: #29303b; font-family: Georgia, "Times New Roman", sans-serif; font-size: 11.7px; font-weight: normal; letter-spacing: 0.1em; margin: 0px; padding: 0px; text-transform: uppercase;">DOMINGO, MARÇO 20, 2011</h2><div class="date-posts" style="background-color: #fff3db; color: #29303b; font-family: Georgia, "Times New Roman", sans-serif; font-size: 13px;"><div class="post-outer"><div class="post hentry uncustomized-post-template" itemprop="blogPost" itemscope="itemscope" itemtype="http://schema.org/BlogPosting" style="margin: 8px 0px 24px;"><a name="4171283225973119766"></a><h3 class="post-title entry-title" itemprop="name" style="color: #1b0431; font-size: 18.2px; font-weight: normal; margin: 0px; padding: 0px;"><a href="https://barlaventino.blogspot.com/2011/03/turismo-guia-de-portugal.html" style="color: #1b0431;">Turismo - Guia de Portugal</a></h3><div class="post-header"><div class="post-header-line-1"></div></div><div class="post-body entry-content" id="post-body-4171283225973119766" itemprop="description articleBody"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div>Viajar, nos dias de hoje, não representa qualquer dificuldade para a maioria dos classemedianos portugueses, mas tempos houve em que viajar era um privilégio de muito poucos.<br />Raul Proença teve esse privilégio e, esse privilégio foi-nos transmitido por podermos aceder ao seu Guia de Portugal, obra em que o mestre socialista e republicano publicou com as suas notas de viagens e estudos históricos e geográficos que fizeram desta obra um verdadeiro guia turístico. A primeira edição da Biblioteca Nacional de Lisboa, saiu em 1927.<br /> <br />Como curiosidade, deixo aqui em excerto as poucas linhas dedicadas a Aljezur a pp. 309:<br /><i><br /></i><br /><i>"Aljezur, vila pequena e pobre, com 4160 hab., sede de conc. (Hosp. Margarida Pardal, Maria Matos; dia fer. 29 de Agosto), tomada aos Mouros por D. Paio Peres Correia no reinado de D. Afonso III. D. Dinis deu-lhe foral em 1280, que D. Manuel renovou em 1504. Fica na encosta E. dum escarpado cerro, em cuja base passa a ribeira de Odesseixe (deve ser a ribeira de Aljezur). Do castelo mourisco apenas se conservam hoje algumas ruínas, na parte mais elevada da colina, ao S. Aljezur é tida como o sítio mais insalubre do Algarve (febres intermitentes).</i><br /><i>A 6 km. de Aljezur as praias do Monte Clérigo e da Pipa; a 7 km. a da Arrifana, ou da Fortaleza."</i><br /><br />E algumas páginas mais adiante (pp. 320):<br /><br /><i>"Ao N. da Ponta da Carrapateira estende-se a vasta praia desse nome. "Passada a praia, eleva-se outra vez a terra até a Arrifana. A enseada da Arrifana fica entre duas pontas: ao N. a da Arrifana; perto da ponta S. a Pedra da Anixa. Ao N. da Ponta da Arrifana a foz da ribeira de Aljezur, e ainda a N. a de Odesseixe. A costa é por ali tão alcantilada e o mar tão encapelado que nem os pescadores lhe podem chegar. Os pobres habitantes destes sítios, com muito risco de vida, pescam algum peixe para seu mesquinho sustento e apanham os perseves que por estas rochas desde o cabo se criam. Nestas também se encontram grandes mexilhões. Há grandes furnas por esta costa."</i></div></div></div></div>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 3pt; text-align: right;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-variant: small-caps;">Set2020 </span>por<span style="font-variant: small-caps;"> CarlNasc<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="right" class="MsoHeader" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span></i></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-40851254198281512732021-05-07T14:15:00.002+01:002021-05-07T14:15:22.632+01:00INUTILÂNDIA Terra dos saberes inúteis (ou menos úteis)<p align="right" class="MsoHeader" style="text-align: right;"><br /></p><p align="center" class="MsoHeader" style="margin-top: 6.0pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">III – Para que serve o inútil?<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-top: 6.0pt; text-align: center;"><i style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span>por Carlos eNe</span></i><i> </i></p>
<p class="MsoListParagraph" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Mestre
João Explica…” in Condor Popular<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><u>Sim, para
que serve?</u><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Quem é que pode decidir se um certo saber constitui um
conhecimento inútil? Depois dos Gautiers deste mundo afirmarem que “aquilo que
é útil para um, pode não o ser para o outro”, muita presunção será necessária
para alguém se arvorar em definidor da utilidade dos saberes.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><u>O inútil face à curiosidade</u>. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Na minha juventude éramos altamente consumidores de
revistinhas de banda desenha, designação que só mais tarde entrou no nosso
léxico pois, para nós, eram simplesmente aventuras aos quadradinhos, apesar de
a Geometria nos ter feito estranhar a designação já que os desenhos nem sempre
estavam em quadrados. Eram o “Mosquito”, o “Condor Popular”, o “Mundo de
Aventuras”, o “Cavaleiro Andante” e muitos outros que, para além das histórias
que contavam, completas ou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">à suivre</i>
(em continuação), incluíam uma pequena secção de curiosidades; a do Condor
chamava-se “Mestre João Ensina…” ou “Mestre João Explica…”. Nessas tiras, em pequenos
textos ilustrados ou, no máximo uma página, aprendíamos muitas situações do
quotidiano, do nosso ou do americano(!), assuntos que por <span style="mso-fareast-language: PT; mso-no-proof: yes;"><v:shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter">
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0">
<v:f eqn="sum @0 1 0">
<v:f eqn="sum 0 0 @1">
<v:f eqn="prod @2 1 2">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @0 0 1">
<v:f eqn="prod @6 1 2">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="sum @8 21600 0">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @10 21600 0">
</v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:formulas>
<v:path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f">
<o:lock aspectratio="t" v:ext="edit">
</o:lock></v:path></v:stroke></v:shapetype><v:shape id="Imagem_x0020_2" o:spid="_x0000_i1025" style="height: 251.25pt; mso-wrap-style: square; visibility: visible; width: 420pt;" type="#_x0000_t75">
<v:imagedata o:title="" src="file:///C:\Users\CarlosM.M\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image001.png">
</v:imagedata></v:shape></span><o:p></o:p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-v7yJ2ZI0ZE0/YJU6wKIILNI/AAAAAAAAAWU/yqcfpWLNapkyknuzQ8ae78V6lKM0OFi8ACLcBGAsYHQ/s477/MestreJoao.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="285" data-original-width="477" height="239" src="https://1.bp.blogspot.com/-v7yJ2ZI0ZE0/YJU6wKIILNI/AAAAAAAAAWU/yqcfpWLNapkyknuzQ8ae78V6lKM0OFi8ACLcBGAsYHQ/w401-h239/MestreJoao.png" width="401" /></a></div><br /><p class="MsoNormal">falta da televisão na altura, ou porque os livros da
carrinha da Gulbenkian eram mais difíceis de digerir, não tínhamos (à mão) onde
ir beber conhecimentos desse tipo. Salpicos de conhecimentos que perduram na
nossa mente. Eram conhecimentos úteis? Alguns mais do que outros, aqui não se
pode generalizar, pois os interesses são tão diferenciados…</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Quizzes<o:p></o:p></u></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">Há pessoas
que rejubilam com os concursos televisivos de pergunta-resposta (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">quizzes</i>), competindo com os concorrentes
no seu sofá. Sabem sempre tudo(!), desde as bandeiras de (quase) todos os
países, às respectivas capitais e, em casos mais rebuscados, até sabem o fuso
horário e as horas da preia-mar (nos casos em que têm mar)! Serão uns
autênticos sabichões? Cultos? É a tal cultura de Almanaque, adquirida em
sucessivas leituras nas rubricas de “Sabia que…” ou “Aconteceu em…” <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">Mas ainda
assim há pessoas que dedicam imenso tempo a coleccionar esse tipo de informação,
estranha, e que na primeira oportunidade debitam esses temas numa atitude
exibicionista, em que o seu ego transborda para um círculo que eles vão
alimentando.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">— As coisas
que eu sei!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">— Shi, as
coisas que ele sabe!!!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">Um amigo tem
vindo há mais de vinte anos a compilar definições e desenvolvimentos sobre os
mais estranhos temas e fez questão de partilhá-los comigo. Tal como ele, a sua
informação está extraordinariamente organizada, sistematizada por grandes
temas. É uma autêntica viagem pela Inutilandia, a terra onde se passam os
grandes fenómenos, tipo Entroncamento, ou onde pulula o conhecimento verdadeiramente
inútil.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">Na próxima
edição publicarei alguns itens desta compilação deixando a cada um dos leitores
a eleição sobre a sua (in)utilidade. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">Para vos
deixar com um pouco de curiosidade, sabem que as formigas nunca dormem? Ou quantas
toneladas de sardinha foram consumidas em Portugal no ano 2015?<o:p></o:p></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">(Continua…)<o:p></o:p></i></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-76944051093330577772021-05-07T14:15:00.000+01:002021-05-07T14:15:02.130+01:00INUTILÂNDIA Terra dos saberes inúteis (ou menos úteis)<p> <b style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">IV – Cultivar um certo conhecimento!</span></b></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-top: 6pt; text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p>por Carl Ene</o:p></i></p><p align="center" class="MsoHeader" style="margin-top: 6.0pt; text-align: center;"><i> </i></p>
<p class="MsoListParagraph" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;">·<span style="font-family: "Times New Roman"; font-size: 7pt; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal;">
</span></span><!--[endif]--><i>“Um fóssil
é um animal extinto. Quanto mais velho, mais extinto está.”<o:p></o:p></i></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 90.0pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;"><i>Um aluno da Primária num teste de Ciências.<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">Para terminar esta (primeira) viagem à Inutilândia, e como
prometido, apresento uma série de exemplos desse conhecimento pelo qual só
alguns se interessam, e muitas vezes com que interesse!... Para o efeito socorri-me
da obra “A Shite History of Nearly Everything” de Parody, cujo título em
português bem poderia ser “Uma História de Merda Sobre Quase Tudo”, e que
constitui considerável compilação sobre o tema.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><u>Fósseis</u><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O fóssil mais antigo que se conhece é de um organismo
unicelular e tem três mil e duzentos milhões de anos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Conhecem-se fósseis multicelulares de há 700 milhões de anos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Em Marrocos foram encontrados fósseis de baratas-do-mar
(bichinho com um máximo de 2 milímetros de comprimento) com 480 milhões de anos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><u>Bicharada</u><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Supõe-se que existam entre 5 a 30 milhões de espécies de
insectos, mas apenas um milhão estão catalogadas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Vivem mais insectos num quilómetro quadrado de campo do que
habitantes em todo o planeta.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Todos os anos os insectos comem um terço das plantações da
Terra.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">As moscas vulgares podem ser os animais mais perigosos do
planeta pela quantidade de doenças que podem transmitir, geralmente pelas patas
e/ou pelo aparelho bocal.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><u>Lagartos terríveis</u><o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O termo dinossauro, que significa lagarto terrível (embora
não fossem répteis), foi atribuído pelo paleontólogo Richard Owen em 1841.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Ninguém sabe o verdadeiro aspecto dos dinossauros porque
nunca se descobriu nenhum esqueleto com carne! As reconstruções derivam de
estudos de vários cientistas que muito discordam entre si. As ossadas, por
completas que sejam, não ultrapassam os 40% do animal. Não conseguem ainda ter
noção das cores da pele nem os vestígios permitem distinguir se é macho ou
fêmea!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal">A reconstrução esquelética já tem dado alguns erros. Ao
Brontossauro, que nunca existiu, foi atribuída a cabeçorra do seu primo-irmão
Apatossauro!<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O dinossauro mais antigo que se conhece é o Eoraptor, que
pode ter vivido há cerca de 228 milhões de anos, numa região a noroeste da
Argentina.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O Tiranossauro Rex foi um dos últimos a desaparecer.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Entre o desaparecimento dos dinossauros e o aparecimento do
primeiro humano, terá havido um hiato de cerca de 62 milhões de anos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><u>Dentes<o:p></o:p></u></p>
<p class="MsoNormal">Na batalha de Waterloo, em 1815, as tropas de Wellington
derrotaram o exército de Napoleão. No campo de batalha ficaram cerca de 50.000
mortos. Os saqueadores de cadáveres avançaram então para recolher quaisquer
objectos de valor e, sobretudo, os seus dentes, que eram posteriormente
vendidos para a construção de dentaduras. Eram conhecidos como os Dentes de
Waterloo.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Os egípcios podem ter sido os primeiros a usar um
dentífrico, uma mistura de sal, pimenta, hortelã e flores silvestres, no século
IV d. C.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><u>Livros<o:p></o:p></u></p>
<p class="MsoNormal">A primeira história que foi escrita (cerca de 2000 a.C. na
Suméria) foi o Épico de Gilgamesh, que fora governador da Cidade de Uruk, e
passou a ser o primeiro herói da literatura.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O Almagest de Ptolomeu foi o livro científico mais
conceituado durante 1500 anos.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Abdul Kassem Ismael, grão-vizir da Pérsia no século X,
viajava sempre com a sua biblioteca de 117.000 volumes que transportava em 400
camelos, treinados para se manterem por ordem alfabética.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><u>De facto<o:p></o:p></u></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">Disse Albert
Einstein: “Se os factos não se coadunam com a teoria, mude os factos”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><u><o:p> </o:p></u></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><u>D’abalada<o:p></o:p></u></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">E como
dissemos no início deste texto (mais uma inutilidade, pois já o dissemos) por
aqui nos ficamos nesta primeira viagem até à Inutilândia.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><o:p> </o:p></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><i>Praia de Buarcos<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoHeader" style="margin-top: 6pt; text-align: left;"><i style="text-align: right;"><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span>Finais de 2020</i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><o:p> </o:p></i></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-9321207146997217522021-05-07T13:06:00.000+01:002021-05-07T13:06:05.718+01:00INUTILÂNDIA Terra dos saberes inúteis (ou menos úteis)<p> <b style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">II – O supérfluo versus o inútil</span></b></p><p align="right" class="MsoHeader" style="text-align: right;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">por
Carlos eNe</span></i></p><p>
</p><p class="MsoListParagraphCxSpFirst" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Aquilo
que é útil é feio”. [Théophile Gautier]<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoListParagraphCxSpLast" style="mso-list: l0 level1 lfo1; text-indent: -18.0pt;"><!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Para que
te servirá aprenderes essa ária na flauta? — perguntaram ao filósofo Sócrates
que, impassível, respondeu: — Para saber esta ária antes de morrer.”<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><u>A
utilidade</u>. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Gautier expõe que um Dicionário de Rimas pouca utilidade
teria para um sapateiro, do mesmo modo que as ferramentas do segundo pouca ou nenhuma
utilidade teriam para a composição de uma ode, donde “aquilo que é útil para
um, pode não o ser para o outro”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><u>A utilidade do belo</u>. <o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">O escritor francês Victor Hugo discorreu sobre a “utilidade
do belo” para transformar o real. Falando do belo, Roger Scruton, no seu livro
Beauty afirma que “a utilidade do belo transcende a teoria da utilização. A
beleza das coisas transpõe o olhar utilitário da vida”. [http://arrazoar.blogspot.com/]<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><u>A utilidade do inútil. <o:p></o:p></u></p>
<p class="MsoNormal">“Vejam como as pessoas correm atarefadas pelas ruas. Não
olham para a direita nem para a esquerda, preocupadas, de olhos fixos no chão,
como cães. (…) Em todas as grandes cidades do mundo, é assim que acontece. O
homem moderno, universal, é o homem atarefado, que não tem tempo, que é escravo
da necessidade, que não compreende que uma coisa possa não ser útil; que não
compreende sequer que, na realidade, o útil pode ser um peso inútil, opressivo.
Se não se compreende a utilidade do inútil e a inutilidade do útil, não se
compreende a arte.” [Ionesco citado por Ordine].<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><u>Porquê ler os clássicos?<o:p></o:p></u></p>
<p class="MsoNormal">“(…) Os clássicos não se lêem porque hão-de servir para
qualquer coisa. Lêem-se simplesmente pela alegria de os ler, pelo prazer de
viajar com eles, animados apenas pelo desejo de conhecer e de nos conhecermos,
quem somos e até onde chegámos.” [Italo Calvino citado por Ordine].<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><u>E ainda, porquê aprender as línguas antigas?<o:p></o:p></u></p>
<p class="MsoNormal">Já foram consideradas “aprendizagem necessária à formação de
um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">gentleman</i>” [John Loke citado por
Ordine]. Antonio Gramsci [citado por Ordine] nos seus Cadernos do Cárcere,
dizia que “não se aprende o latim e o grego com a intenção de os falar para
exercer funções de empregado de mesa, de intérprete ou de correspondente
comercial, mas sim para conhecer directamente a civilização desses dois povos,
pressuposto necessário da civilização moderna”.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Nem sempre o indivíduo tem liberdade suficiente para aceder
ao estudo daquilo que, para ele, é considerado útil. Algumas universidades,
agora “universidades-empresas” que tratam a população discente como
“alunos-clientes”, preparam, entre outras soluções, a sua oferta educativa em
função da previsível utilidade dos cursos, nomeadamente com a promessa de
rápida empregabilidade.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Os estados modernos praticam na generalidade cortes nos
orçamentos da cultura, o que implica a tal redução da oferta educativa nas
áreas humanísticas, situação que já Victor Hugo, em 1848, criticava alegando
que “a poupança orçamental seria ridícula para o Estado e letal para a vida das
bibliotecas, museus, arquivos nacionais, conservatórios, escolas e tantas
outras instituições importantes” [Hugo citado por Ordine].<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal">Acrescentando ao anterior que, mesmo nas universidades que
ainda mantêm ofertas de cursos humanísticos, têm vindo a ser retiradas algumas
disciplinas. Cada vez é menor o número de alunos que se inscrevem em Latim,
Grego, Filologia ou Paleografia. Rareiam os alunos e rareiam os professores
que, ao mesmo tempo se tornam cada vez mais dispendiosos, o que conduz a uma
rápida extinção dessa oferta. Gradualmente se vão perdendo os especialistas
naquelas áreas.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><u>E nós (ou vós)?<o:p></o:p></u></p>
<p class="MsoNormal">Que posição tomamos relativamente a esta questão do útil e
do inútil, ou do menos útil? O matemático dispensará o conhecimento do Grego,
apesar de ser um (grande) utilizador do alfabeto grego nas suas expressões; o
pi, o sigma e o teta enchem-lhe o quotidiano. E, na verdade, compreende e usa o
“cálculo” mesmo sem ter a consciência de que se trata dum substantivo comum
concreto/abstracto masculino do singular.<o:p></o:p></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">Bibliografia:<o:p></o:p></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><span style="font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">Nuccio
Ordine, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Utilidade do Inútil, Manifesto</i>,
Matosinhos, Faktoria de Livros, 2019<o:p></o:p></span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><span style="font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><i>Praia de Buarcos</i></span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><span style="font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><i>Finais de 2020</i></span></p>
<p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><br /><p></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-38432701261673636122021-05-07T13:02:00.001+01:002021-05-07T13:02:19.862+01:00INUTILÂNDIA Terra dos saberes inúteis (ou menos úteis)<p style="text-align: center;"> <b style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">I – De que vale tudo isto…</span></b></p><p style="text-align: center;"></p><p align="right" class="MsoHeader" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">por
Carlos eNe<o:p></o:p></span></i></p><p></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i>“De que vale tudo isso, <o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;"><i>Se você não está aqui?”<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><p class="MsoNormal">Coisas do Rei, um rei a quem eu, apesar de republicano, e
mesmo depois de muitas mudanças de gostos, dedico grande admiração. Um dos
grandes inspiradores da minha juventude e do pessoal do meu tempo. Sabíamos
tudo sobre o Roberto Carlos, seguíamos as suas edições por todas as estações de
rádio, e os seus 45 rotações acalentavam os nossos encontros de garagem, os
assaltos.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Sabíamos tudo sobre ele, mais naquele tempo do que agora… “O
calhambeque, pi, pi”, “A namoradinha dum amigo meu”, e por aí.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Nessa altura a Matemática e a Física não beneficiavam de
tanta atenção como os sucessos do Rei. E as Humanísticas muito menos. Tanta
gramática, tanto Garcia de Resende, tanto Frei Luís de Sousa e tanta Castro,
tantas Forças e Movimentos, tantos senos e cosenos, mas o Rei, o Rei é que
mobilizava a nossa vontade de saber, embora não pudéssemos ignorar a
necessidade de ter notas positivas naquelas matérias, pois era necessário
garantir a passagem de ano.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Desta forma íamos enchendo a nossa mochila do conhecimento
com, por um lado os saberes obrigatórios e, por outro lado os facultativos, mas
que geravam muita mais competição. Os nossos ídolos.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">E muito espaço há nessa mochila do conhecimento para
albergar tanto saber, uma capacidade cujo limite ainda ninguém conheceu.
Habitualmente não fazemos distinção entre o conhecimento útil, para guardar, e
deixar de fora outros saberes, menos úteis, por uma questão de poupança de
espaço.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal"><i>O saber não ocupa
lugar. (Popular)<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal"><i>Aprender é a única
coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende. (Leonardo
Da Vinci).<o:p></o:p></i></p><p class="MsoNormal">Na juventude aprendíamos tudo o que nos quisessem ensinar.
Lidávamos com conceitos que mal entendíamos mas que ainda assim ficámos a
saber, geralmente decorando. Aprendíamos que há palavras que são substantivos
(e decorávamos que eram palavras que designam pessoas, coisas ou animais,
acções qualidades ou estados); estes mais tarde passaram a nomes (palavras com
que designamos ou nomeamos algo, ou alguém) e, depois passaram ainda a
sintagmas nominais. Isto dificulta o entendimento entre diferentes gerações:
nem os avós sabem o que é um sintagma, nem um jovem actual sabe o que é um
substantivo comum, concreto ou abstracto. Apesar de “no meu tempo é que era…”<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Mas ainda assim, “de que vale tudo isso…?”<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Decorávamos a rede ferroviária. De que vale saber o ramal de
Trofa a Fafe, indicá-lo no mapa sem perceber que Trofafafe, afinal, é apenas um
palavrão resultante da junção das duas, agora cidades, que liga.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Orgulhámo-nos destes saberes, que decorávamos até à
exaustão, para repetir de enfiada, todas as sílabas, sem tropeções. E os reis
da segunda dinastia! E os cognomes dos reis? Porque é que o D. Sebastião era o
Desejado (e não o Adormecido)?<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">O saber não ocupa lugar,
mesmo que seja um saber de pouca utilidade, um saber inútil! No tempo da
especialização, muitos dos conteúdos a que fomos sujeitos revelaram-se
praticamente inúteis para a vida que viemos a viver. Mas subsiste a vontade de
saber, de procurar o como e o porquê. A curiosidade e a imaginação foram os
motores que levaram Einstein a formular a teoria da relatividade, em 1905, e
que só muitos anos mais tarde viria a ser aplicada. Teria sido um conhecimento
inútil, até então?! O mesmo aconteceu com outros descobridores/inventores cujas
descobertas não tinham como objectivo resolver nenhum problema concreto, mas
sim o tentar compreender a Natureza e os seus fenómenos. Foi o caso de Marconi,
Maxwell, Edison, Hertz, Galileu, Newton e muitos outros. <o:p></o:p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-autospace: none;">Algumas das grandes
descobertas terão sido, assim, um conhecimento inútil, até virem a ser
exploradas e aproveitadas.<o:p></o:p></p><p class="MsoNormal">Desde que não seja errado, o conhecimento, mesmo o menos
útil, há-de ocupar uma posição nos alicerces ou nas paredes-mestras do saber
que vamos construindo ao longo da vida. É claro que fizemos a devida selecção,
pois efectivamente de pouco terá servido para a Investigação Operacional saber
o cognome do D. Sebastião.<o:p></o:p></p><p style="text-align: center;">
</p><p class="MsoNormal">Neste mundo da especialização, a construção de um saber
objectivo é constituído pêlos blocos de pedra que vamos escolhendo como
suporte. Descartei o D. Sebastião, mas mantive as Operações Aritméticas, que
vinham da mesma altura. Seleccionei aqueles saberes que considerei úteis,
deixando os menos úteis (inúteis), arrumados na prateleira antecâmara do esquecimento,
onde (não) ocupam lugar… mas têm lá o seu lugar.<o:p></o:p></p><p style="text-align: center;"></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><i>Praia de Buarcos<o:p></o:p></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><i>Finais de 2020</i><o:p></o:p></p><br /><p></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-50612954915424422472021-05-07T12:54:00.002+01:002021-05-07T12:54:32.493+01:00 6. ALJEZUR NA GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA EM 1936<p> </p><p align="right" class="MsoHeader" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">por
CarlNasc<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoHeader" style="text-align: right;"></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal;"><v:shapetype coordsize="21600,21600" filled="f" id="_x0000_t75" o:preferrelative="t" o:spt="75" path="m@4@5l@4@11@9@11@9@5xe" stroked="f">
<v:stroke joinstyle="miter">
<v:formulas>
<v:f eqn="if lineDrawn pixelLineWidth 0">
<v:f eqn="sum @0 1 0">
<v:f eqn="sum 0 0 @1">
<v:f eqn="prod @2 1 2">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="prod @3 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @0 0 1">
<v:f eqn="prod @6 1 2">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelWidth">
<v:f eqn="sum @8 21600 0">
<v:f eqn="prod @7 21600 pixelHeight">
<v:f eqn="sum @10 21600 0">
</v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:f></v:formulas>
<v:path gradientshapeok="t" o:connecttype="rect" o:extrusionok="f">
<o:lock aspectratio="t" v:ext="edit">
</o:lock></v:path></v:stroke></v:shapetype><v:shape id="Imagem_x0020_1" o:spid="_x0000_s1026" style="height: 235.5pt; margin-left: 2.7pt; margin-top: 4.65pt; mso-height-percent: 0; mso-height-percent: 0; mso-height-relative: page; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-width-percent: 0; mso-width-percent: 0; mso-width-relative: page; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; visibility: visible; width: 160.75pt; z-index: -251658240;" type="#_x0000_t75">
<v:imagedata o:title="" src="file:///C:\Users\CarlosM.M\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image001.jpg">
<w:wrap type="tight">
</w:wrap></v:imagedata></v:shape><span style="color: #29303b; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"></span></p><div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-ZYcNrVUDWh8/YJUqNLy4gdI/AAAAAAAAAWM/npmoZ3YEd7kvGWo9ebGJV893OjKrzK_cQCLcBGAsYHQ/s719/ALJ%2BMapa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="719" data-original-width="491" height="466" src="https://1.bp.blogspot.com/-ZYcNrVUDWh8/YJUqNLy4gdI/AAAAAAAAAWM/npmoZ3YEd7kvGWo9ebGJV893OjKrzK_cQCLcBGAsYHQ/w319-h466/ALJ%2BMapa.jpg" width="319" /></a></div><br /><span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: 12pt;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: 12pt;">Já em 1936 a Grande Enciclopédia Portuguesa e
Brasileira dá uma informação muito mais completa do que o Guia de Portugal,
nove anos antes, e inclui um mapa do concelho e até uma fotografia panorâmica
da vila, tirada da estrada na proximidade da Quinta de S. Sebastião (Casa
Cintra).</span></div><o:p></o:p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: left;"><span style="color: #29303b; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Começa com
uma descrição administrativa, com o número de habitantes (6.661 no total, sendo
4.424 na vila), e passa às características geográfico-histórico-turístico-paisagísticas.
Aí refere três magníficas praias: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“a do
Monte Clérigo, notável pelos variados e imponentes recortes da costa,
especialmente a Ponta da Rocha e o Penduradoiro; a da Pipa, praia pequena mas
onde abunda água potável, aconselhada para doentes do estômago; e a da
Arrifana, em cuja baía, de grande beleza, se encontra a Pedra da Agulha,
rochedo limado pelo mar que lembra o objecto de que tirou o nome”</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: left;"><span style="color: #29303b; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Refere a
tentativa do bispo do Algarve D. Francisco Gomes de Avelar de obstar à
insalubridade da vila, pretendendo mudá-la para um sítio “mais arejado”, e que mandou
construir (às suas custas) uma igreja e algumas casas para o padre, sacristão e
outros ajudas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: left;"><span style="color: #29303b; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Os
elementos históricos descritos são os habituais, e que ainda se mantêm sem
contestação: a fundação árabe, a conquista por D. Paio Peres Correia na
madrugada de 24 de Junho de 1246, a ruína do castelo pelo terramoto de 1755, e
os forais de D. Dinis e de D. Manuel.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: left;"><span style="color: #29303b; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Curiosamente,
informa da existência de três minas de cobre na freguesia mãe, uma no Cerro do
Rossio, outra no Cerro da Amendoeirinha e outra ainda no Cerro do Penedo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: left;"><span style="color: #29303b; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Sobre a
etimologia de Aljezur, evoca o Prof. David Lopes que defende “derivar da
palavra árabe Aljçur, plural de Aljiçr que significa Alcântara, a ponte”,
referindo também os registos em documentos oficiais de 1267, onde consta a
forma Aliaçur, e noutros de 1272, as formas de Aliazur, dando Aljezur.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: left;"><span style="color: #29303b; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">O texto
desta enciclopédia termina com a descrição heráldica das armas, da bandeira e
do selo, conforme o parecer da Secção de Heráldica da Associação dos
Arqueólogos Portugueses e está definido na portaria nº 8.362 de 17 de Fevereiro
de 1936.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: left;"><span style="color: #29303b; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">É
curioso o artigo indicar na Bibliografia o Guia de Portugal de Raúl Proença
1936 que referimos no nosso anterior texto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: left;"><span style="color: #29303b; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">A mesma
Enciclopédia, numa nova entrada do mesmo termo, oferece-nos esta curiosidade
nobiliárquica:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: left;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: #29303b; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">1º Visconde de Aljezur, Francisco de Lemos de Faria
Pereira Coutinho, nasceu no Brasil em 1820, e desposou a senhora D. Maria Rita
de Noronha. O rei D. Pedro V concedeu à dita senhora o título de 1ª Viscondessa
de Aljezur em 1858 e autorizou o seu marido a usar o referido título. Este
título e autorização foram confirmados no Brasil por sua Majestade Imperial. O
casal não teve descendência e o título deixou de ser referenciado.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoHeader" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 3pt; text-align: right;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-variant: small-caps;">FEV2021 </span>por<span style="font-variant: small-caps;"> CarlNasc<o:p></o:p></span></b></p><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;"></span></i><p></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7266182.post-63694337851673385882021-05-07T12:44:00.001+01:002021-05-07T12:44:36.007+01:004 PÃO INCERTO<p><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span><span> </span> <i style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;">por CarlNasc</span></i></p><p><i style="text-align: right;"><br /></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i style="text-align: right;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-jLrDCCKNo9s/YJUnzbhXgtI/AAAAAAAAAV4/S8vy6xCvzlMid-uPYKcxTHv1qapVVrF1ACLcBGAsYHQ/s861/PaoIncerto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="861" data-original-width="575" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-jLrDCCKNo9s/YJUnzbhXgtI/AAAAAAAAAV4/S8vy6xCvzlMid-uPYKcxTHv1qapVVrF1ACLcBGAsYHQ/s320/PaoIncerto.jpg" /></a><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-1XeJo_0xJSY/YJUnzV0J0cI/AAAAAAAAAV0/PV4l2WCaC3wQrj57odmR-JzkhGLUBzwXACLcBGAsYHQ/s586/PaoIncerto2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="422" data-original-width="586" src="https://1.bp.blogspot.com/-1XeJo_0xJSY/YJUnzV0J0cI/AAAAAAAAAV0/PV4l2WCaC3wQrj57odmR-JzkhGLUBzwXACLcBGAsYHQ/s320/PaoIncerto2.jpg" width="320" /></a></div></i></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Natural de Faro, <span style="background: white; color: #222222;">António Assis Esperança, (27/03/1892 a
3/3/1975) foi um escritor e jornalista português, autor duma dezena de
romances. Foi colaborador da Seara Nova, </span><span style="background: white; color: #202122;">um dos fundadores da Sociedade Contemporânea de Autores, e
pertenceu à primeira direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores (ambas
encerradas pelo Estado Novo). <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #202122; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A sua obra consiste numa
escrita de intervenção social, podendo até apresentar uma marca ideológica que
a aproxima do movimento neo-realista, neste romance focada sobretudo nas
condições de vida dos camponeses e no papel da mulher na sociedade, e neste
caso, em diversos estratos sociais.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="background: white; color: #202122; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Hoje é uma figura
praticamente esquecida, com fraca representação em bibliotecas públicas, e as
suas obras há muito que desapareceram das livrarias. Alguns municípios do
Algarve incluíram o seu nome nas respectivas toponímias, inclusivamente
Aljezur, na Igreja Nova.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Em homenagem a Aljezur e ao seu povo, Assis Esperança
escreveu um belo romance sobre a pobre vida dos agricultores e das suas
famílias, e a sua luta pela melhoria das condições de vida. O habitual
confronto de gerações em que os mais novos, sobretudo se mulheres fossem, se
afirmam pela diferença, desejando a emancipação, enfrentando os costumes
antigos que as subordinam, ao mesmo tempo que procuram o par que esperam lhes
traga uma vida nova e a independência dos progenitores.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><u><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Personagens principais: <o:p></o:p></span></u></p><p class="MsoNormal"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Maria
da Graça</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">, moça casadoira, reside com o pai a quem ajuda
nalgumas tarefas do trabalho do campo, mas sobretudo trata da casa e da
criação; namora com António contra a vontade do pai que o recebeu a tiro de
caçadeira e lhe declarou que “A minha filha não é para os teus dentes.” Maria
da Graça percebe muito bem a sua situação “Tudo e todos entregues à Divina
Providência, como enxergar o meu futuro? Nem casa, nem terras, toda a vida na
serra?” Encara o namoro com António como a possibilidade de sair da serra e
deixar o trabalho que a faz considerar-se escrava do pai. Maria da Graça e António,
mais do que prometidos, são amantes e mantêm encontros secretos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">António</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">
deixou o trabalho de criado de lavoura para ir trabalhar na recém-aberta mina
de ilmenite, óxido de ferro e titânio neste caso extraído dos areais, mas cujo
futuro é ainda incerto dependendo a empresa da riqueza do filão, ainda em
análise. Acaba por fechar e António fica de novo com o futuro comprometido, não
conseguindo a aceitação do pai da sua namorada.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Francisco
da Várzea</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> é o pai de Maria da Graça. Lavrador esforçado, que
pensa que a riqueza provém sobretudo da terra e do respectivo trabalho com
afinco; porém o produto mal dá para o pagamento das rendas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Manuel
da Eira</span></b><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> é o manajeiro, o homem que, por delegação do
proprietário da Herdade de Montedor, no Alentejo, efectua a escolha e a
contratação de um rancho (maioritariamente feminino), para executarem os
trabalhos nos arrozais da Comporta e arredores, desde o plantio, à monda e à
ceifa.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><u><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ambiente:<o:p></o:p></span></u></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Uma primeira parte deste romance tem lugar em Aljezur,
basicamente na vila e no lugarejo onde residem as personagens principais, o
Monte da Boavista, vagamente localizado “lá p’rá serra”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O autor recusa usar o nome verdadeiro da vila e
inventa o nome diferente de Alfamar.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">São apresentadas algumas famílias de agricultores, as
suas dificuldades com o trabalho das terras, o uso habitual da mão-de-obra
familiar, usando os braços dos filhos ainda jovens e, inclusivamente das
raparigas. Ressalta da vivência de então o habitual confronto de gerações. No
caso deste romance, Francisco da Várzea acha que o sustento advém da posse e do
trabalho da terra, não se permitindo perder os braços da filha, que ao casar
sairá da sua casa, sem que o facto traga qualquer contributo à sua estabilidade
financeira, muito pelo contrário, levantava a questão do dote, como se com os
pobres deixassem de casar por falta dele.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No Café da Chica os lavradores discutem e trocam
informações, na véspera da feira anual, para melhor se posicionarem face aos
marchantes que vêm de longe, até de Santarém, pela fama que o gado dos serranos
tem. Mas os lavradores ainda se lamentam com as campanhas do trigo, e com a
entrega ou não da colheita à Fundação, gentes que vivem do trabalho das terras
alheias e que lidam ano após ano com o drama das colheitas que se perdem.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A feira marca o início do ano agrícola, mas não só. Lá
se mercam os apetrechos para a actividade agrícola e que as lojas da vila
geralmente não têm. Lá se fazem os negócios do gado, uns melhores e outros não,
os compradores combinam-se numa espécie de cartel para não excederem valores
previamente combinados. Lá se compram os bezerrinhos e os bácoros para a
engorda.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O drama das famílias reflecte-se depois no apalavrar
dos ranchos que hão-de ir para os lamaçais do arroz na Comporta. A contratação
é feita pelos manajeiros que previamente tentam avaliar a situação de
debilidade financeira das famílias serranas, para o aliciamento com o soldo sempre
baixo, levando os lavradores a fazer contas antes de “atirarem as filhas para
fora de casa”, pois “já apartaram as que Deus lhes deu”, que pouco contavam com
o escasso rendimento das “ervas” do mar. O Manajeiro é como se fosse o dono do
trabalho, o empregador, escolhe as moças mais jeitosas para o trabalho e algumas
mais “dadas” por recomendação do patrão, indo procurá-las nas famílias mais
aflitas, de conluio com os lojistas que lhes fiavam o sustento e que, melhor
que ninguém conheciam as situações de carência.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">“Ir p’ró Alentejo”, assim mesmo fazendo parte do léxico
aljezurense, representava para muitas famílias a possibilidade de obterem algum
dinheiro, com o qual contam para equilibrar o livro de fiados, comprar um
vestido ou um par de botas. Para tal suportam o custo do afastamento, do
deficiente e promíscuo alojamento nos barracões da herdade, da constituição de
nova dívida na cantina, da sujeição ao assédio seja por parte dos manajeiros,
feitores ou até mesmo dos trabalhadores da herdade, resistência que nem todas
conseguiam aguentar sem sucumbirem. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Durante os vários meses da permanência dos ranchos no
Alentejo, o autor vai desmontando as atitudes prepotentes quer dos patrões,
quer dos seus homens de mão, na luta pelas oito horas de trabalho em
substituição do horário de sol-a-sol.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No seu gabinete, o patrão inquire os trabalhadores, um
a um: “— Quem foi o primeiro a lembrar-se de meter todos à bulha? Quero saber
quem foi.” <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Responde corajosamente cada um deles “— Fomos todos!”<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Conversam eles, receosos: “— Com a mania da redução de
despesas pensará dispensar alguns de nós? É só levar dinheiro para Lisboa!” <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E elas, “debruçando-se para dentro das suas caixas
vazias, como alguém procurando aquilo que não tem”, “a guardarem desde muito
novas e do seu precoce diálogo com o silêncio, o sentido de vida que
corresponde à passividade animal de fêmeas”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal"><o:p> </o:p></p><p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 3.0pt; text-align: right;"><b><span style="font-variant-caps: small-caps; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;">Set2020 </span>por<span style="font-variant-caps: small-caps; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal;"> CarlNasc<o:p></o:p></span></b></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><v:shape alt="http://3.bp.blogspot.com/-X6dnHOBHgtE/Vbzo7ik25dI/AAAAAAAACPA/CB-TRKXP4G4/s1600/Assis%2B%252B%2BCA%2Bc%25C3%25B3pia%2B2.jpg" id="Imagem_x0020_2" o:spid="_x0000_s1026" style="height: 159.3pt; left: 0; margin-left: 206.55pt; margin-top: 32.6pt; mso-height-percent: 0; mso-height-percent: 0; mso-height-relative: margin; mso-position-horizontal-relative: text; mso-position-horizontal: absolute; mso-position-vertical-relative: text; mso-position-vertical: absolute; mso-width-percent: 0; mso-width-percent: 0; mso-width-relative: margin; mso-wrap-distance-bottom: 0; mso-wrap-distance-left: 9pt; mso-wrap-distance-right: 9pt; mso-wrap-distance-top: 0; mso-wrap-style: square; position: absolute; text-align: left; visibility: visible; width: 221.1pt; z-index: 251659264;" type="#_x0000_t75">
<v:imagedata o:title="Assis%2B%252B%2BCA%2Bc%25C3%25B3pia%2B2" src="file:///C:\Users\CarlosM.M\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image002.jpg">
<w:wrap type="through">
</w:wrap></v:imagedata></v:shape><o:p></o:p></p><p align="right" class="MsoHeader" style="text-align: right;"><i><span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 14.0pt;"> </span></i></p>Xico V.http://www.blogger.com/profile/17048938945553026127noreply@blogger.com0